Cruzando a América Central

México foi a primeira paragem de uma jornada que só agora começou... 

 

As aventuras de Carla Tomé e Diogo Queimada no México. 

 

Ainda no avião e olhando pela janela antes de aterrar em Huatulco... “Mas, mas... é só verde!?! Está tudo verde! Não percebo!? Mas onde estão os cactos? Fogo, não acredito que me enganei na cidade para onde comprámos voo. México sem deserto e cactos, não é México. Bolas!”

 

Uns dias depois, após vários quilómetros percorridos, descobri que nesta região este género de planta é do tamanho das árvores e encontra-se entre elas, nem os conseguimos ver bem. Têm troncos tão grossos quanto os das árvores e podem ter uns bons 6 metros de altura.

 

“Os maiores locais são os pelicanos que pescam pelo pico como se nada fosse”.

 

 

Já há alguns anos que queria ir surfar ao México e conhecer a sua cultura e gastronomia um pouco melhor. Este fim de ano resolvi ir com o meu namorado e decidimos ir diretos a Huatulco, pois está perto de Puerto Escondido. O Diogo [Queimada] faz SUP e eu não podia surfar na primeira semana no México, logo resolvi fotografar e apreciar tudo o que me rodeava.

 

A sua primeira surfada foi em Puerto, mas estava pequeno e a onda é muito rápida para não ter que lhe chamar um "close out". Fez umas ondas e fomos até Mazunte onde também surfou, mas com muito “backwash”.

 

A primeira impressão que tive sobre o surf foi que era só beach-breaks e estavam todos com muita areia. Decidimos então ir para Huatulco e procurar por ondas mais a sul como a Barra de la Cruz. Mal chegámos e já o Diogo estava na água, pois finalmente encontrámos uma onda que rolava por uns quantos metros. 

 

O swell estava pequeno, mas foi sempre melhorando. Conhecemos uns australianos que estavam no nosso Surf Camp e que vinham desde a Baja Califórnia num furgão. Iam fazer a América Central e do Sul durante um ano de viagens. 

 

Como o swell estava pequeno decidimos ir até Salina Cruz e procurar mais uma dessas 18 longas direitas que dizem existir pela zona. Os australianos também partiram e acabámos por fazer o mesmo percurso até La Bamba. Nesta zona havia muito, muito vento e ainda menos ondulação. Não conseguimos ver mais nenhuma onda a funcionar e decidimos pernoitar em Salina Cruz que também possui uma direita incrível. Depois de duas horas a conduzir desde Barra de la Cruz, finalmente chegámos a Salina Cruz, mas qual foi o nosso espanto ao darmos com uma cidade portuária que mais parecia uma favela brasileira. À entrada da cidade, olhámos um para o outro e demos meia volta. Tinha mesmo muito mau aspeto, especialmente depois de termos estado em Huatulco.

 

- Barra de la Cruz

 

La derecha de Barra de la Cruz

A onda é muito comprida e apresenta secções com mais força que outras, tubular mais à maré vazia no pico e no inside. O Diogo andou a mandar-se aos tubos no pico, mas os locais que não eram em grande número, não gostaram muito. Os locais de Barra não apareceram com este swell, porque não veem as previsões e nesta altura do ano não há efetivamente muito swell. Daí a maioria serem turistas e com pouco nivel de surf, para não dizer que muitas vezes, quando esteve mais pequeno, parecia o cantinho da Baia no Baleal (só “beginners"). Os locais que tive o desgosto de conhecer defendem os principiantes uma vez que estes lhes dão dinheiro de alguma forma, não promovem as regras do surf e o respeito mútuo. Simplesmente lambem as botas aos que lhes convêm mais. Foi muito triste ver isto acontecer.

 

Quando ficou “flat" em Barra optámos por ir surfar a La Bocana que é a praia mais perto de Huatulco. E um beach-break com picos triangulares espalhados por toda a praia. Aqui encontrámos mais locais, mas nós fomos surfar para outro pico.

 

- Diogp Queimada

 

“Passámos de zero estrelas para quatro por mais 5 euros!”

Claro que ficámos em Barra, mas logo na primeira noite a cabana pegou fogo! (risos) Sim, três cabanas ao lado da nossa começaram a arder por volta das 23h30. Nós estávamos derreados e tínhamos adormecido por volta das 21h30. Acordei com gritos de “Água! Água! Água!” e disse logo ao Diogo que havia um incêndio. 

 

De imediato, tirámos as nossas coisas da cabana e afastámos o carro, caso não fosse o fogo estender-se à nossa casa. E lá fomos nós em “pijama” ajudar a apagar o fogo com baldinhos meio cheios de água, porque esta quase não corre nas torneiras, além de que tínhamos chegado de noite e não conhecíamos os cantos à casa. 

 

Uma hora e tal depois, todos encharcados e descalços, a correr por cima de não sei do quê, lá se encontrou uma mangueira que serviu para controlar a situação num instante. O Diogo já só queria ir dormir no carro para a praia, mas tal não era possível porque esta estava fechada e só abria às 7h - se o rapazinho não se atrasasse. 

 

Deitámo-nos com o pensamento de que no dia seguinte fugiríamos dali. Mal sabíamos nós que, no mesmo dia, por volta das 20h, tinham morto a tiro um residente da Barra por questões políticas. Sai não sai e acabámos por ficar mais mais duas noites mas no Camp ao lado… até ao encontro desagradável com um escorpião na casa de banho! 

 

Voltámos para Huatulco, que está a 30 minutos de carro, onde as condições são outras. Passámos de zero para quatro estrelas, do qual não nos arrependemos nada. Não quero dizer que Barra de la Cruz é perigoso, mas como é uma aldeia pequena e sem polícia, as pessoas têm que resolver os seus próprios problemas e tentam fazer com que os turistas não tenham um conhecimento profundo da situação real. Se não entendesse castelhano e não escutasse a rádio, muito provavelmente iria passar tudo ao nosso lado. Huatulco e uma cidade que faz lembrar Vilamoura, no Algarve, onde temos acesso a tudo e o aeroporto fica 15 minutos de distância.

 

- Carla Tomé

 

“Ia atropelando uma tarântula!”

Conduzir nesta parte do México é difícil. Os quatro piscas são os mais utilizados e demoramos sempre uns dias até perceber que o pisca não serve de nada! Os quatro piscas servem para virar para qualquer lado, travar e indicar perigo na estrada. Eu acho que eles pensam que somos todos bruxos e adivinhamos! Um amigo também me aconselhou a não conduzir de noite uma vez que há muitos assaltos, mas não em Huatulco.

 

No dia em que deixamos a Barra, ao final da tarde, fui eu que conduzi até à cidade porque o Diogo já tinha bebido umas Coronas a mais, acompanhadas do melhor guacamole de Huatulco (do restaurante da praia). Huatulco tem um parque natural enorme e nele podemos ver desde linces a cobras pitons. Embora tenha o pé pesado, vi uma coisa no meio da estrada n.º 200, que é como se fosse a autoestrada lá do sítio, abrandei e devia ir a 60km/h quando vi as patas de uma aranha gigante. Nem quis acreditar que existem tarântulas assim no meio da estrada! É só o bicho que eu menos gosto.

 

Oaxaca foi uma experiência incrível, boas ondas e muito boa comida. Até à próxima! 

 

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Texto e fotos por Carla Tomé (Surfmoments.com) & Diogo Queimada (SUP Alentejo)

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