A culpa é da vídeo-análise
Por que raio não houve um 10 no CT de Peniche?
Agora que já passaram algumas semanas sobre a realização do MEO Rip Curl Pro Portugal e o “buzz” já esfumou quase que por completo, achámos que estava na hora de pôr o dedo na ferida. Bem, a questão que temos para digerirem durante o fim de semana prende-se com o facto de nenhuma onda do CT português ter recebido uma nota 10.
O quê? Verdade. Ao longo dos quatro dias de competição saíram vários setes, muitos oitos e até noves q.b. No entanto, aquele 10 que os fãs tanto queriam ver e sentir, como que a dar o aval final na qualidade da prova lusa, esse, bem, meus amigos, nunca chegou a ser atribuído nem viu a luz do dia. Nem durante os dois primeiros dias de competição - que, como se sabe, proporcionaram ondas de destaque num fim de semana que fica para a memória - se viu uma nota 10 ser rabiscada.
Na praia, por várias ocasiões, como que a sentir a injustiça, o público assobiou, esbracejou e “exigiu” por várias vezes a nota máxima ao juízes de serviço. Num tom sarcástico, ao mais puro estilo treinador de bancada, escutou-se algures: “Os 9 são os novos 10!"
Entre a elite, aqui e ali também se viam alguns “fogos” e críticas mais subtis à World Surf League. No Heat 7 do Round 1, por exemplo, Jack Freestone encontrou uma longa secção no raso banco de areia dos Supertubos e, para espanto de tudo e todos, contra todas as probabilidades, conseguiu sair. O público vibrou e gostou! Garantidamente, 50% das pessoas presentes na praia (ou mais!) já não estavam à espera que ele fosse tão bem sucedido.
Recebeu 9 pontos pelo esforço… talvez por a saída não ter sido a mais “clean”. No entanto, aquela secção, ui, minha nossa. O próprio australiano ficou surpreendido. Tão surpreendido que mais tarde publicou o vídeo e questionou os fãs e amigos no Instagram: “O que é preciso fazer para ter um 10?”
Como seria de esperar, as respostas sucederam-se em catadupa e, entre os cerca de 300 comentários que recebeu, alguns destacam-se e merecem até uma transcrição:
Mitch Coleborn, ex-atleta do CT, deu ao amigo um conselho simples: “Tens que ser mais exuberante no “claim”!”;
Caio Ibelli, por sua vez, escreveu que “Depois disso não sei bem. Talvez os 10 já não existam mais, talvez seja uma invenção das nossas cabeças”;
O tricampeão mundial Mick Fanning, que sempre primou pela humildade, assegurou a sentença final: “Eu dei-te um 10 amigo!”
É certo que aquele primeiro dia de prova em Supertubos contou com muitas ondas a fechar, mas… pelo meio, apareciam umas pérolas que faziam toda a diferença. Da areia a análise era simples. Era imediata. O desafio era enorme e aqueles homens estavam a corresponder (ou pelo menos a tentar).
Se uma nota 10 não foi lançada naquele sábado a culpa só pode ser da vídeo-análise. Só isso pode explicar a ausência de uma nota 10. Para que se saiba, a vídeo-análise é o suporte em vídeo a que os juízes têm acesso no caso de dúvida, de forma a ajuizarem melhor a nota que vão atribuir a determinada onda. Obviamente, ela nem sempre é usada, mas existe e é consultada para acrescentar mais verdade desportiva ao Surf - e ainda bem!
No entanto, em Peniche, ela acabou por ser inimiga do espetáculo, uma espécie de pau de dois bicos, retardando a saída de uma nota 10 heat após heat e que, no final, nunca se veio a materializar. É que, entenda-se, após uma minuciosa vídeo-análise, é fácil descobrir erros, dar por falhas, ver que afinal “aquele tubão” que parecia impossível não foi tão profundo, que o "nose" da prancha de surf de X ou Y não chegou a desaparecer por completo, etc. Foi como se o êxtase do momento fosse penalizado em algumas décimas.
O evento português junta-se assim às etapas do Rio de Janeiro, Fiji, Trestles e Hossegor que esta temporada também não receberam qualquer nota 10. Já Margaret River, Bells Beach e o Taiti viram, cada uma, um 10. A Gold Coast, logo a abrir o ano, registou dois 10, enquanto Jeffreys Bay, a meio do ano, bateu todos os recordes com o registo de sete notas 10 - uma delas da autoria do português Frederico Morais. Wow!
Para evitar que isto volte a suceder, e para que se vejam alguns 10 serem lançados em Supertubos, sugerimos que para o ano a vídeo-análise fique esquecida na gaveta do responsável da WSL. Que vos parece?
Entretanto, aproveitamos para vos deixar com as melhores 10 ondas do CT de Peniche em 2017:
Gabriel Medina (Brasil) - 9.77
Sebastian Zietz (Havai) - 9.70
Kolohe Andino (EUA) - 9.63
Josh Kerr (Austrália) - 9.57
Julian Wilson (Austrália) - 9.43
Connor O’Leary (Austrália) - 9.40
Vasco Ribeiro (Portugal) - 9.37
Adriano de Souza (Brasil) - 9.27
Kolohe Andino (EUA) - 9.07
Mick Fanning (Austrália) - 9.00