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SURF EM BRUTO COM ALEX BOTELHO
Confere já o exclusivo com um dos melhores free surfers nacionais...
A Surftotal pública de novo a entrevista efectuada com o notável e corajoso Alexandre Botelho durante o ano 2016. Na altura com 25 anos de idade. Aqui percebemos bem a sua essência ! Força Alex we love you amigo !
ENTREVISTA EFECTUADA SEXTA FEIRA DIA 29 DE ABRIL DE 2016 E EDITADA PELAS 15:59 HORAS DO MESMO DIA:
Alex Botelho, 25, é do Algarve, de Lagos, mas já há algum tempo que vive na Ericeira, local que serve de ponto de partida para as suas surfadas regulares. É definitivamente um dos melhores free surfers do país, mas nos últimos anos tem vindo a mostrar um apetite assaz voraz por ondas cada vez maiores, seja na Cave, na Praia do Norte, em Mavericks ou em Jaws.
Conta-nos um pouco de como foi a tua infância em Lagos e as tuas origens, sabendo que o teu pai é português e a tua mãe holandesa?
Tive uma infância abençoada com a sorte de crescer a segundos do mar, em Lagos, e perto da costa em Sagres. A minha família da parte portuguesa é de Lagos e Sagres, mas a minha mãe é holandesa e tem origens nas Antilhas Holandesas, nas Caraíbas, e na Holanda. Cresci na zona de Lagos e Sagres, na mesma área dos meus avós. Estou super grato aos meus pais, por me terem criado a mim e à minha irmã por cá, pois esta zona foi um parque de diversões incrível em criança e ainda continua a ser.
Com que idade começaste a surfar e qual a razão de optares pelo surf?
Comecei a surfar com nove anos. Já andava na vela desde os cinco anos e sempre que entrava Sueste (mar de Levante) não podíamos praticar. Portanto, era inevitável não ir brincar nas ondas. O meu pai incentivou-me a surfar a primeira vez na Meia-Praia, em Lagos, e depois disso, sempre que havia Sueste, o meu amigo Miguel e eu roubávamos a prancha de surf do seu irmão mais velho às escondidas e íamos surfar.
O Hércules foi provavelmente uma das maiores tempestades de que me recordo. Podes descrever como foi esse dia em que percorreste numa só onda a Praia da Batata até à Meia-Praia?
Estou-me a rir pela improbabilidade de uma onda ser vista na Praia da Batata, a praia mais virada a Este e abrigada do país inteiro! Foi mesmo preciso uma ondulação enorme, como o Hercules, para despertar esta onda. Foi a minha primeira surfada depois de ter recuperado de uma longa lesão, só queria voltar a surfar e muito feliz estava eu que neste dia ia funcionar uma onda numa zona tão especial como esta. O mar subiu e subiu e, às páginas tantas, as ondas percorriam a Baía de Lagos com ondas de dois minutos de duração.
Tens um surf que mistura manobras modernas com surf de rail de nível técnico elevado. Posto isto, o que te levou a não optares por uma carreira de competição e antes por seres um surfista que busca ondas grandes, como Mavericks, Nazaré e mais recentemente Jaws?
Gosto de surfar todo o tipo de ondas. Ondas como Mavericks, Nazaré e Jaws dão-me motivação e pica máxima, mas uma das minha ondas preferidas também é a Meia-Praia. Comecei a competir desde novo com o Sérgio Wu como treinador. Ele levou-me para todo o lado e ensinou-me muito. Quando tinha mais ou menos 18 anos, foi quando surfei a primeira vez em Mavericks, experiência que para mim foi muito mais satisfatória do que competir. Comecei a deixar de focar-me na competição e a ir mais em viagens atrás de ondulações. No início não tinha muito apoio financeiro, trabalhava num restaurante durante o verão e juntava o dinheiro para ir para a Califórnia e outros lugares atrás de ondulações. Gostava mais de fazer isso do que competir, então segui esse rumo que mais gostava. À medida que algumas viagens tiveram mais sucesso, comecei a ser apoiado financeiramente pelos meus patrocinadores para continuar a fazer isto. Bem, foi a minha felicidade...
Este inverno foi, no mínimo, intenso! Desde surfares no Natal ondas na Nazaré enormes até à viagem “solitária” a Jaws onde apanhaste condições gigantes e perfeitas, sempre na remada. Podes descrever o momento mais intenso que tiveste em cada um destes lugares?
Este inverno foi muito bom para ondas grandes em todo o mundo, foi super consistente. Até ao final de dezembro tivemos várias ondulações na Nazaré. A mais memorável foi em conjunto com o Hugo Vau em que saímos os dois a remar da praia da Vila e surfamos na Praia do Norte à remada. Deu para sentir a força daquele lugar e o quão intimidante é quando estás à total mercê do mar. Levei tanta porrada, sair pela Praia do Norte e voltar a entrar pela praia da Vila, e remei tanto, mas soube tão bem, senti que deu para ter a noção correta do quão sério aquela onda é quando o teu único apoio és tu próprio. A partir de janeiro o Pacífico acordou. Jaws foi uma experiência completamente humilde. Desde chegar à entrada nas pedras sem saber por onde era, ao tamanho e poder das ondas desse lugar, até a primeira onda corrida. Senti-me como um cabelo perdido a voar pelo chão… Inútil! Mas voltei um cabelo rijo.
Mavericks foi o primeiro spot de ondas grande que exploraste já há alguns anos. Se tivesses de escolher a onda mais perigosa que já surfaste entre Mavericks, Jaws e Nazaré, qual seria a resposta?
São igualmente perigosas de formas diferentes. Jaws tem um poder esmagador e incrível, Mavericks é obscuro e super intenso, enquanto a Nazaré é completamente imprevisível com um inside infernal. Todos são de ter extrema cautela e respeito.
Vais sempre em busca das ondas grandes na remada e não através do reboque (tow-in). Porquê?
Em todo o tipo de surf, metade da atividade passa por saber ler o mar, posicionar, remar e apanhar a onda. Tanta coisa se passa que é preciso ter conhecimento e prática para poder chegar ao ponto de estar em pé numa onda. Essa parte toda motiva-me muito, ainda mais quanto maior está o mar, e dá-me uma extrema satisfação em conseguir apanhar a onda por minha conta. Gosto do tow-in também em casos que é impossível de remar. No entanto, se houver alguma possibilidade de remada, prefiro optar por isso.
Tens uma relação muito próxima com o shaper Octávio Lourenço da Ferox Surfboards. Conta-nos um pouco sobre essa “parceria/amizade“ entre surfista/shaper?
O Octávio é cá do Algarve, faz surf e pranchas, inevitavelmente acabámos por nos conhecer. A abertura ao trabalho de shape dele, o espírito de "fazer tu próprio" as coisas e a qualidade que demonstrou ao fazer tais coisas deixou-me fascinado. Ao longo dos anos ele tem aberto a fábrica para ver os processos e participar, como ele faz para todos os clientes, e para mim foi uma diversão e oportunidade de aprendizagem enorme. Para além disso, com o tempo que passamos na fábrica, criámos uma relação de amizade e ele tem sido um mentor em muitas aéreas e um grande amigo. Hoje em dia tenho uma admiração enorme pelo trabalho incrivelmente variável que ele faz e tem sido, de longe, um dos meus melhores patrocinadores em termos fornecer-me com todo o tipo de equipamento necessário para todo o tipo de ondas e levar por diante experiências com shapes e materiais que me tem possibilitado levar o meu surf para a frente nas ondas de todos os tipos.
Para além da pesca submarina que praticas e que te ajuda no processo de apneia não estática, que tipo de trabalho específico fazes? Cuidado com alimentação? Ginásio?
A pesca submarina é uma atividade que adoro fazer e que me ajuda na apneia. Para além disso, faço treino diário leve, mas abrangente, mas o que mais me foco direcionado para as ondas grandes são exercícios para trabalhar o factor psicológico, para ter a confiança em saber que consigo estar determinado tempo sem ar. Isso para mim transmite a confiança e calma necessária. A alimentação é algo que tenho bastante atenção, não me limito excessivamente em termos do que posso comer, mas mais rigoroso com a qualidade e origem dos alimentos que consumo. Ginásio não vou, mas faço treinos de Pilates no Spot Pilates, em Lagos, e Yoga também.
És uma das maiores referências do surf atual. Para além de excelente surfista, transmites sempre uma genuína humildade na forma de ser e de estar o que só valoriza ainda mais tudo o que tens feito como homem e como surfista. Essa humildade está dentro de ti ou procuras encontra-lá de alguma forma?
O facto de apontares isso fico muito agradecido. Acho que tenho sido muito afortunado nas pessoas que estão na minha vida e no que me ensinaram e transmitiram. Estive rodeado de pessoas genuínas que prezavam os valores mais simples e tentei manter-me dentro do que eles me passavam. Tive muita sorte em ter a família que tenho, os amigos, treinador, shaper, companheiras, e muita sorte mesmo em ter pessoas mais velhas que deram o seu tempo para me contarem as suas experiências. Aprendi muito com isso e com todos eles.
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Entrevista: Bernardo Seabra