RUBEN GONZÁLEZ: “SE QUISERES O TEU SURF NÃO PÁRA DE EVOLUIR"

Num destes dias fomos ter com este experiente surfista, detentor de quatro títulos nacionais, para vermos o que se segue...

 

No início do ano, Ruben Gonzalez terminou uma relação com o seu patrocinador de longa data, após dezasseis temporadas, e virou um novo capítulo na sua carreira. O tetra campeão nacional, atualmente com 37 anos, é um dos mais experientes a nível europeu e um dos oito surfistas portugueses que fazem parte do lote de dezasseis finalistas do Allianz Capítulo Perfeito powered by Billabong 2016, a prova que se segue no calendário português em que chegou à final o ano passado, terminando em quarto lugar nas ondas de Carcavelos. Num destes dias fomos ter com talento de Cascais para vermos o que se segue. 

 

Ao saíres da equipa Billabong, neste início de ano, viras também um novo capítulo na tua carreira. Calculo que a separação tenha efeito direto no orçamento. Portanto, que objetivos concretos traçaste para a presente temporada? 

Eu realmente não tenho main sponsor, mas tenho outras marcas que me patrocinam como o Health Racket Clube Quinta da Marinha, a Xhapeland, as águas da Fonte Viva e agora fechei também outro contrato com uma marca de fora do meio do surf que já tem um plano de ativação delineado comigo e que sobre o qual irão saber mais novidades no futuro. Estou muito feliz com estes apoios e o trabalho que faço com estas marcas. Quanto ao planeamento desportivo, tenho a Liga Moche a aproximar-se e pelo menos oito eventos da Qualifying Series para fazer… e ainda os meus Training Camps. Por outro lado, em 2015 tirei o Curso de Surf e Performance na Lusófona. Criei a RG Surf School & Academy onde faço um trabalho com um grupo de oito miúdos que está a dar um gosto enorme. Uns são mais direccionados para a competição e outros apenas tem como objetivo surfar melhor no free surf. É muito gratificante para mim lidar com os mais jovens e ver a sua evolução, pois, na minha altura, não havia nada disto. Ainda sobre isto, vou estar atento às ondulações grandes e perfeitas pela nossa costa. Este é outro lado do surf que me dá um prazer enorme. Desafiar as ondas grandes, ondas de reef, principalmente slabs, e usufruir ao máximo de momentos assim. É pura energia!

 

"É muito gratificante para mim lidar com os mais jovens e ver a sua evolução, pois, na minha altura, não havia nada disto."

 

A nível nacional és, sem dúvida, um dos mais experientes atletas que ainda se encontra no ativo. De que forma tentas tirar proveito, não só no free surf mas também quando te encontras em competição, do teu conhecimento e experiências em torno do surf?

Eu sempre fui muito ligado ao desporto desde miúdo. Para mim o surf, aos 12 anos, foi o desporto que falou mais alto. Tenho uma enorme paixão por aquilo que faço e parece que com a idade ainda mais gosto de fazer. Tenho muito prazer quando estou a surfar. Realmente, nestes últimos três anos os meus resultados foram inconstantes. Houve momentos em senti-me mais desligado da competição devido a outros projetos ou tarefas que estavam a dar-me mais gozo. Mas o bichinho ainda está lá e, inclusive, este ano está mais do que nunca. Sinto que, se quiseres, o teu surf não pára de evoluir. Hoje faço coisas que com 25 ou 26 anos não fazia e isso para mim é uma grande motivação. Seja em meio metro ou em 15 metros. Acho que o surf tem algo de muito espiritual, de estares conetado contigo mesmo, relaxado e de gostares mesmo daquilo que estàs a fazer. O surf não é só treino, treino, treino. Força, força, força e ponto final.  Eu acho que um atleta com muita maturidade e experiência adquire isso. Daí não querer parar, manter-me saudável, fazer um trabalho complementar e a cada sessão de surf ir mais concentrado e usar a criatividade.

 

- A dropar uma montanha na Praia do Norte, Nazaré. Foto: Tó Mané

 

Dessa nova geração de surfistas lusos que andam a correr a Qualifying Series e a tentar a Qualificação para o World Tour, quem te parece estar mais bem preparado para o fazer em primeiro lugar?

Eu acho que temos muito bons surfistas em Portugal, entre os 15 e 25 anos de idade. No entanto, quanto aos que fazem o WQS, como o Zé Ferreira, Tomás Fernandes, Miguel Blanco e Nic von Rupp, quem está na verdade mais encaminhado para lá chegar é o Vasco Ribeiro e o Frederico Morais. São super competitivos. Têm uma vontade gigante de ganhar a qualquer adversário quando vestem a licra e isso viu-se em Peniche durante o CT. Já percebi que não são grandes adeptos de ondas maiores e de muitos tubos, o que pode ser um fator menos positivo se um dia chegarem ao CT. Quanto aos outros, não digo que não tenham vontade de vencer, mas ainda não mostraram consistência no seu desempenho competitivo e não conseguem pôr todo o seu surf naqueles 25 minutos de heat. Falta-lhes, talvez, acreditar mais, gerir o seu lado menos positivo. A verdade é que podem chegar tão longe quanto os outros.

 

Com tantos anos de competições e de heats disputados, que principais conselhos darias a todos eles?

Todos os nomes que mencionei ainda há pouco já possuem uma vasta experiência competitiva e sabem o que fazer. Na minha opinião, o que lhes posso dizer é que tudo depende da sua vontade e que saibam lidar com os resultados menos positivos ao longo da carreira. Mantenham-se persistentes.

 

"Sinto que, se quiseres, o teu surf não pára de evoluir. Hoje faço coisas que com 25 ou 26 anos não fazia e isso para mim é uma grande motivação"

 

Cabo Raso. Para quando uma nova investida?

Pois! Já houve uns dias bons e realmente mandei-me mais para a Nazaré. Mas hei de lá voltar agora quando houver outras boas ondulações. A logística ali, às vezes, não é fácil para o tamanho que quero lá surfar.

 

O próximo evento em Portugal é o capítulo Perfeito e tu voltas a figurar na lista de atletas para 2016. Aliás, este é um evento onde alcançaste a final em 2015. Como vês mais uma participação e que expetativas tens para a prova? 

Penso que este ano os nomes que vêm ainda são mais sonantes que os do ano anterior. Sinto-me confortável neste tipo de mares e muito sinceramente vou participar sem expetativas. Quero apenas apanhar uns bons tubos e dar um bom espetáculo.

 

Sobre a mudança para a Nazaré e a Praia do Norte. Que tens a dizer sobre isso? Parece-te uma boa opção?

Sim. A Nazaré é mais um dos locais em que o Capítulo Perfeito se enquadra perfeitamente. É uma onda forte, de fundo de areia, com tubos e vários picos espalhados pela praia. Queremos melhor que isto?

 

Um facto muito comentado tem sido a internacionalização da prova. Parece-te uma mudança positiva?

Aqui tenho que olhar para o lugar do organizador do evento em que quis expandir e evoluir o seu conceito. Acho bem nesse sentido e também fico curioso de ver os internacionais a surfarem as ondas cá da casa. Por outro lado, também temos por cá bons surfistas neste género de condições que ficam de fora devido às presenças dos estrangeiros, nesta que é uma oportunidade única que têm. Às vezes fica um bocado ingrato. Eu podia, inclusive, ter ter sido um deles. Mas é assim.

 

Como gostarias que as ondas estivessem? Quais são as tuas condições ideais?

Dois metros com uma pequena brisa de offshore, com tubos a dar para a esquerda e para a direita, a rebentarem a pouca distância da areia.

 

- A competir na Liga Moche, em Carcavelos. Foto: Pedro Mestre/ANS

 

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Entrevista: AF

 

 

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