ZÉ BETO: “RECUSO-ME A FAZER UM EVENTO COM ESPÍRITO REVIVALISTA”

O tema de conversa é o Campeonato Nacional de Surf Masters que teve lugar no Edifício Transparente…

 

Em colaboração com a Federação Portuguesa de Surf, o Club de Surf do Porto (CSP) organizou este fim de semana o Lightning Bolt Porto Surf Masters 2015. Este foi o primeiro Campeonato Nacional de Surf Masters, dedicado a surfistas com mais de 35 anos, que colocou em disputa cinco novos títulos nacionais. Para perceber melhor a iniciativa e o que o futuro reserva, fomos falar com Zé Beto, presidente do CSP e “pau para toda a obra.”

 

Este evento tem definitivamente um espírito diferente. Como surgiu a ideia (ou a oportunidade) de organizar a prova no Porto?

A ideia é simples. Todos os outros desportos têm categorias deste género, porque não também o surf? Sei que nos meus 47 anos já não tenho capacidade para ser competitivo na Liga Moche, mas isso não pode invalidar que deixe de praticar e competir. Traduzir em palavras o espírito do evento é difícil, não encontro nenhuma palavra que o defina a 100%... Mas talvez "irmandade" seja a que mais se aproxime. A fotografia de capa no Facebook do Club de Surf do Porto é que melhor expressa esse sentimento (uma imagem vale mais que mil palavras).

 

Que resumo se pode fazer desta primeira edição?

Esta primeira edição foi o lançar da semente. É normal que houvesse algum ceticismo em torno "da coisa". A calendarização também era muito desfavorável. O facto de a prova só ser aberta a federados (e muito bem) fez com que muitos não entrassem por não quererem gastar dinheiro agora e no final de dezembro terminar a filiação. É preciso mentalizar esta gente para as vantagens de ser federado e os benefícios de ter um seguro desportivo. Por outro lado, também sei que muitas das glórias do surf de antigamente estão ligadas a escolas de surf que têm o pico do seu trabalho aos fins de semana. Virem ao campeonato implicaria custos em duplicado: custos em vir e custos por deixar de ganhar na escola. Uma coisa é certa: quem esteve presente ou viu as publicações nas redes sociais, testemunhou que todos pediram mais iniciativas deste género e até um pequeno circuito nacional. Isto leva-me a crer que, apesar das condicionantes, foi um grande sucesso.

 

O facto de trazer as velhas glórias do surf novamente para a competição, fugindo ao formato habitual, é um bom atrativo para um organizador?

É um duplo atrativo. Pessoalmente, porque é uma reunião de amigos onde me incluo. Desportivamente, porque não estão acabados para o surf. De qualquer forma, recuso-me a fazer um evento com espírito revivalista, tipo M80. (risos).

 

Quais os principais desafios que se encontram ao organizar uma prova destas caraterísticas?

Apoios é difícil em qualquer categoria aqui no Norte. As grandes marcas do surf instaladas na Zona Centro e Grande Lisboa só conhecem a A1 para virem cá vender. São incapazes de dar um par de peúgas a qualquer miúdo talentoso que cá haja. No entanto, o Grande Porto é o segundo maior mercado de surf a nível nacional. Revolta-me falar deste assunto. Quando se trata de um evento como este, as dificuldades residem principalmente no facto de não haver um historial para apresentar aos patrocinadores. Felizmente, a Lightning Bolt percebeu que aquele menino do cartaz do circuito nacional de esperanças de 1993 cresceu e hoje já é trintão. Porém, a maior resistência, por incrível que pareça, encontrei nos próprios surfistas. Um tinha de levar a filha ao basquetebol, outro tinha de ir às compras com a esposa e outros simplesmente fartaram-se de ouvir cornetas durante muitos anos. Agora que passaram por lá ou ouviram falar na festa que foi, tenho a certeza que se organizasse outro no próximo fim de semana tinha o triplo dos inscritos. É incrível a "pica" que muita desta malta mantém.

 

Qual o objetivo para 2016 relativamente a esta prova?

Os objetivos para o ano são fazer mais e melhor, quer nos Masters quer para os filhos dos Masters. Se queres passar um testemunho à próxima geração, tens de, no mínimo, lho mostrar.

 

--

Entrevista AF // Fotografia: Pedro Pimenta

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top