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Italo Ferreira: "Começo a gostar de ondas pesadas"
Entrevista exclusiva com o surfista que mais tem surpreendido nesta época do Championship Tour.
Aos 21 anos, o surfista brasileiro Italo Ferreira, natural de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, tem tido uma estreia de sonho entre a elite mundial. Dificilmente lhe fugirá o título de Rookie do Ano, e as suas performances nas mais diferentes condições têm valido elogios de todos os que o acompanham. No Tour é o 8º classificado, mas com boas chances de subir no ranking, ou não estivesse em Peniche a participar pela quinta vez nos quartos-de-final esta época. O ponto alto da temporada foi mesmo o 3º lugar no Oi Rio Pro, mas a manter este nível, onde poderá chegar Italo?
Como começou o surf para ti?
No início os meus primos surfavam em Baía Formosa, no norte do Brasil, onde eu moro. Na realidade foi bem difícil o início da minha carreira. A minha família não tinha grandes condições financeiras, e era difícil ter uma prancha, então pegava a prancha dos meus primos, que me ajudavam. Mais tarde acabei por receber uma prancha, e as coisas foram acontecendo. Mas não foi nada fácil no início, mas tive todo o apoio da minha família. Comecei por volta dos 9 anos.
A cultura de surf no norte do Brasil é menor do que nas zonas mais a sul, como São Paulo e Rio de Janeiro?
Do norte saem muitos atletas bons, mas o problema é que as marcas não dão tanto apoio. É mais fácil a sul, São Paulo por exemplo, onde o mercado é melhor. Por isso os atletas que aparecem na minha região acabam por se afastar das competições por não ter esse suporte. E para competir é preciso ter esse apoio. Existem muitos talentos onde eu moro, mas infelizmente existe esse problema.
Nesse sentido o patrocínio da Oakley foi vital para a tua carreira.
Exatamente, o patrocínio da Oakley surgiu quando eu tinha 12 anos. Venci um campeonato muito importante em sub 16/sub 18, e o Pinga (o meu manager) estava lá, viu-me a surfar e ofereceu-me o patrocínio, e até hoje estou na Oakley, onde tenho todo o suporte necessário para um atleta.
Como eram as ondas do local onde vives, de que forma te preparam para a tua carreira?
Eu venho de uma praia onde não dá muitas ondas, funciona mais por temporadas - é mais no início e meio do ano que dá boas ondas -, mas tem sempre uma onda divertida, que quebra para a direita, com fundo de pedra, que se chama Pontal. Eu cresci lá e até hoje gosto muito de surfar de backside e sinto-me mais confortável, até porque venho de um lugar onde há mais direitas. É uma zona que não recebe muita ondulação, mas quando recebe é perfeito, tem um metro de onda, e consegues mandar 10 ou 12 manobras, o que a torna uma onda de high performance.
Tens tido um ano fantástico no Tour, mas muita gente não esperava que te adaptasses tão bem a ondas como Teahupo’o, por exemplo. Já tinhas estado nesses locais antes? Fala-nos dessa adaptação.
Tenho-me dedicado muito ao circuito mundial, é o meu primeiro ano, estou sem pressão nenhuma, e as etapas que nunca tinha ido, das ondas grandes, como Fiji, Tahiti, entre outras - exigem muita habilidade e conhecimento. Graças a Deus consegui adaptar-me rapidamente a essas ondas. Cheguei ao Tahiti 10 dias antes do evento, deu para testar as pranchas, conhecer a onda, como me posicionar e consegui um bom resultado. Fiji também correu bem, tinha altas ondas, estou a começar a gostar desse tipo de ondas, maiores, com tubo, pesadas… Acredito que esses resultados acontecem fruto do trabalho que venho fazendo com o Pinga, e com o Instituto Mar Azul, que é onde eu treino a parte física. Tudo isso faz parte do nosso trabalho e a minha dedicação também conta muito nos eventos. Não me sinto totalmente confortável nessas ondas - venho de um lugar onde não quebram ondas grandes - mas tenho muita atitude, ‘mando-me’ para qualquer tipo de mar. Especialmente num evento, onde sei que se me machucar tenho todo um suporte, então ‘mando-me’ e seja o que Deus quiser (risos)
Como foi para ti a adaptação à lingua Inglesa. Percebemos nas entrevistas do webcast que tens vindo a melhorar?
Ainda é difícil para mim, ainda é tudo muito novo, aconteceu tudo depressa e ainda fico nervoso. Estou a aprender… ainda fico muito nervoso no início das baterias, e a dar entrevistas, mas acredito que com o passar do tempo vai melhorar. Tenho estudado, embora seja um pouco preguiçoso, mas vou apanhando aos poucos. Escuto as pessoas a conversar, vejo filmes, oiço música, e isso ajuda um pouco. Espero melhorar, poder falar de forma fluente e dar entrevistas bem legais. A maioria dos espectadores que seguem os webcasts fala inglês, é uma língua universal e hoje em dia é necessário falar.
Sentes mais pressão nas entrevistas em inglês do que na bateria?
Sim, acho que prefiro apanhar o Kelly Slater do que dar uma longa entrevista em inglês (risos).
Qual a tua expectativa para a etapa de Peniche? (ndr: a entrevista foi feita antes do início da competição)
É a minha primeira vez aqui em Peniche, um lugar incrível. Cheguei aqui e não consegui apanhar muitas ondas ainda, mas está a entrar um swell bem legal no fim-de-semana e acredito que vai começar a competição. Estou ansioso para entrar na água, tenho pranchas muito boas. Tenho visto alguns videos, para analisar como é a onda aqui, dá um tubo perfeito e dá para manobrar. Espero que entre um swell bom e a galera se divirta dentro de água e dê um show para os portugueses. O meu objetivo é fazer um bom resultado, acima de tudo continuar bem nas competições até ao final do ano.
Que pranchas é que trazes?
Tenho uma 5’10’’, com um bloco novo que estão a desenvolver e é muito leve. Fiquei surpreendido com a prancha, consegui surfar muito rápido, executar boas manobras. Mas tenho outras pranchas, devo ter umas 12 para testar e usar na competição. São Tim Patterson, as pranchas que surfo desde criança.
Fotos: Pedro Pimenta