GUILHERME FONSECA: “AINDA NÃO PERDI A ESPERANÇA DE UM DIA ENTRAR NO CT DE PENICHE”
Jovem surfista falou em exclusivo sobre a participação no Mundial de Juniores da Califórnia, o WCT português e o futuro…
O Guilherme Fonseca acaba de regressar da Califórnia onde esteve a representar a Seleção Nacional no Campeonato Mundial de Juniores. Este jovem, de 18 anos, detém já três títulos nacionais conquistados na divisão Sub-18 e, como se isso não bastasse, foi também em 2015 que se sagrou Vice-Campeão Nacional Sub-20.
É um dos promissores miúdos que compõe o rosto do surf português e, por esse motivo, há uns dias atrás, não tivemos problemas em escrever que gostávamos que tivesse sido um dos wildcards do Moche Rip Curl Pro Portugal (aqui). Foi sobre esse tema, mas também a rotina diária e o que o futuro reserva, que esta conversa incidiu.
Conta-nos quando, como e porque te iniciaste no surf?
Comecei primeiro com uma prancha de bodyboard junto com meu irmão, no Baleal, quando tinha 6 anos. Mas como estava sempre a meter-me em pé, um ano mais tarde o meu pai decidiu comprar-me uma prancha de surf. Desde aí o meu pai levava-me bastante vezes ao surf juntamente com o meu irmão e, embora fizéssemos desportos diferentes (N.A.: O irmão, Daniel Fonseca, é um dos bodyboarders de referência portugueses), "picávamo-nos” bastante na água, o que contribuiu para evoluir.
Como é a tua rotina diária? Estudas ou estás 100% focado no surf?
Neste momento não tenho tido uma rotina específica, pois tenho andado quase sempre por fora. No entanto, quando fico mais tempo em casa acordo sempre cedo, por volta das 8 horas, e depois vou surfar ou treinar e de seguida, normalmente, tenho treino fisico e técnico em Lisboa. Sempre que estou em casa preocupo-me bastante em ter a alimentação mais saudável possível. A nível escolar, acabei o 12º ano e já estou colocado na faculdade no curso de Direção e Gestão Hoteleira, mas com a matrícula congelada. Por isso, estou 100% focado no surf.
Tens algum treino específico?
Tenho um treino completamente diferente do normal, onde trabalho muito mais a flexibilidade e mobilidade corporal que consiste também na repetição de movimentos parecidos aos que faço a surfar. Basicamente, quando vou para o ginásio não vou só trabalhar a componente física, mas estou também a apurar mais a técnica correta para aplicar na água. Neste momento estou a ser treinado pelo Professor Paulo Badajoz, que é treinador físico da APS - Academia Profissional de Surf.
Que tipo de surfista consideras ser neste momento e gostarias de vir a ser um dia?
Considero-me um surfista que ainda tem muito para evoluir. Quero aumentar o repertório de manobras e aumentar a taxa de eficácia em manobras mais progressivas. Sem dúvida, quero levar o meu nível de surf ao mais alto nível, de WCT, mas tenho noção que ainda muito está por fazer.
Quem são os teus surfistas preferidos?
A nível nacional os meus preferidos são o Tiago Pires, pela representação de Portugal no WCT, o Vasco Ribeiro e o Frederico Morais, pelo seu surf e experiência a competir, e também o Nicolau von Rupp que tem um controlo incrível em ondas boas e tubulares. Internacionalmente as minha referências são o Dane Reynolds, pelo talento e maneira de surfar, e o Mick Fanning que é um exemplo de competidor e detém um surf tecnicamente perfeito.
E da nova geração lusa, quem é que se destaca e poderá chegar longe?
O Afonso Antunes, o Joaquim Chaves, o Guilherme Ribeiro e o João Vidal são surfistas que têm um grande potencial para chegarem longe, mas só se tiverem um bom acompanhamento a nível familiar, de treino e financeiro, pois muita coisa muda ao longo do tempo.
Acabaste de regressar do Campeonato Mundial Júnior que teve lugar na Califórnia? Fala-nos um bocadinho dessa experiência e do espírito que se vive na Seleção...
É sempre um orgulho para mim representar Portugal. Infelizmente, considero que não consegui um bom resultado e que podia ter feito melhor, mas sinto que dei tudo para ajudar a Seleção. Estava a sentir-me bem a surfar e ainda fiz bons scores, um deles até chegou a ser a melhor pontuação do dia. Contudo, perdi num heat de 15 minutos onde não consegui encontrar-me com o mar, perdendo sem mostrar o meu surf. O ambiente desta Seleção foi bom e todos puxámos uns pelos outros em qualquer altura do campeonato. Sem dúvida, quero voltar a representar a Seleção Nacional, pois é uma experiência muito boa.
O Moche Rip Curl Pro Portugal está aí e realiza-se no teu palco de treinos diário. Gostarias de ter recebido um wildcard para o evento?
Sim, sem dúvida. Adorava entrar no CT em Peniche, pois é a praia onde eu surfo mais e onde me sinto mais confortável. Ainda não perdi a esperança de algum dia entrar no campeonato, seria algo simplesmente incrível.
Como te sentes ao ver que nenhum atleta local participa no evento?
No Havai entram locais de Pipeline, no Taiti entram locais de Teahupoo e em Fiji entram locais de Cloudbreak. Da mesma forma, em Portugal devia entrar pelo menos um local dos Supertubos, mas não é isso que acontece. Não quero entrar muito por aí, pois a mim só me cabe surfar, embora tenha esperança que isso venha a mudar .
Mudando então de assunto. O momento mais marcante deste ano foi…
A sobrevivência do Mick Fanning ao ataque de tubarão durante a competição em Jeffreys Bay. Foi sinistro… (risos)
Última questão. O surf domina o teu dia a dia, até onde queres chegar?
Claro que tenho o sonho de chegar ao WCT e de ter uma vida estável a todos os níveis através do surf. No entanto, muito sinceramente, eu baseio-me no que vai acontecendo diariamente e nos objetivos que traço a curto e médio prazo. Parece-me que, se deres tudo a cada dia que passa e se trabalhares, as coisas acabarão por aparecer naturalmente. Eu sinto-me bem com menos pressão e também divirto-me mais assim. Cada coisa a seu tempo.
As marcas que apoiam o Guilherme Fonseca são a Rip Curl, Semente Surfboards, Komunity Project e Future Fins.
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Entrevista: AF // Fotografia: Sebastian Emmert (Tubo de Backside); Marco Gonçalves (Tubo de Frontside) & José Barrigão (Rasgada).