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ESPECIALISTA EXPLICA COMO É FEITA A MEDIÇÃO DE ONDAS
Miguel Moreira fala à SurfTotal sobre o programa que usa.
Numa altura em que tanto se fala de recordes de ondas, nada melhor do que falar com quem percebe do assunto. Foi o que a SurfTotal fez. Numa entrevista com Miguel Moreira, do Departamento de Ciências de Desporto da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), ficámos a conhecer melhor o programa que usa para medição de ondas. Chama-se SIMI Motion Twin e é um “software onde é possível sincronizar imagens de diferentes execuções e que permite calcular a altura da onda e fazer a análise a partir do vídeo da onda surfada, utilizando a medida da prancha como escala”. Sabe mais já de seguida.
por Patrícia Tadeia
SurfTotal: Em que consiste o programa que lhe permite medir as ondas?
Miguel Moreira: Recorremos ao SIMI Motion Twin, que é um software onde é possível sincronizar imagens de diferentes execuções, sobrepor essas mesmas imagens, bem como medir ângulos e distâncias, o que permite encontrar explicações e soluções para os problemas sentidos (na prática) pelos desportistas e pelos seus treinadores. A vantagem deste software é que já foi validado e confirmada a qualidade dos resultados com ele obtidos, através de muitos estudos científicos efectuados internacionalmente, ao nível do desporto, mas também na fisioterapia e na ortopedia, sendo por isso facilmente reconhecidos, pela comunidade científica. Com a utilização deste programa no cálculo da altura da onda, procurámos desenvolver um método científico com resultados fiáveis, para contrapor ao método de avaliação e opinião muitas vezes utilizado no surf.
SurfTotal: E como funciona?
Miguel Moreira: O método consiste em: fazer a análise a partir do vídeo da onda surfada; utilizar a medida da prancha como escala (medida para calibrar a recolha de dados), a partir da qual todas as outras são directamente obtidas, após a marcação de dois pontos; identificar a face da onda como área de prática do surfista, limitada superiormente pela crista da onda e inferiormente pela base da onda; medir a distância entre a crista e a base, em diferentes momentos da viagem na onda (mínimo dez recolhas em diferentes fotogramas do vídeo utilizado), desde o take-off até à finalização da mesma; calcular a altura da onda através da média dos valores obtidos nas diferentes recolhas. Para a aplicação deste método é importante que a recolha das imagens seja feita o mais frontal possível relativamente à face da onda (a camara deve estar perpendicular à parede da onda) e num plano intermédio (não deve ser ao nível da praia, nem num plano muito elevado).
SurfTotal: Então, em relação às últimas ondas surfadas pelo Carlos Burle, pela Maya Gabeira, e Andrew Cotton, ainda não é possível saber o tamanho?
Miguel Moreira: As minhas medições sempre foram apresentadas com o intuito de analisar uma onda de uma forma científica. O método depende de alguns factores. Não se pode fazer só com a fotografia. É preciso o vídeo. Porque faço no mínimo 10 medidas ao longo da viagem na onda, é feita uma média que calcula o tamanho da onda. Eu não consigo aceder ao vídeo, já o vi, a olho, mas agora não consigo aceder ao live streaming. Por isso não posso confirmar nada. Posso ter uma opinião, mas como não é isso que eu quero... Não posso afirmar nada. Assim que tenha o vídeo disponível, consigo perceber as medidas.
SurfTotal: O ano passado houve uma polémica sobre a onda de Garrett. Há quem defenda que aquela onda não se formou totalmente, e que não quebrou, e por isso não deve ser considerada uma onda. Que pensa disso?
Miguel Moreira: No meu entender o surf consiste em deslizar na parede da onda, numa prancha, em direcção à praia, e se considerarmos o regulamento de competição, a viagem na onda começa quando as mãos largam a prancha e o surfista fica de pé na mesma, o que foi conseguido pelo Garrett, logo é uma onda surfada. No entanto se existe um regulamento específico para as ondas gigantes, relativamente à forma como são aceites para o concurso XXL da Billabong, que dará acesso à homologação do record do Guiness, ele deve ser cumprido. De qualquer forma ainda não consegui ver a onda na totalidade, por isso não posso confirmar essa situação.
SurfTotal: Como se explica a formação destas ondas gigantes?
Miguel Moreira: Existe um efeito de focagem, onde a energia das ondas é concentrada perto do promontório (penhasco onde está o farol), sendo potenciada quando se reúnem as condições de maré, as correntes laterais, a ondulação (swell) e a energia acumulada no Canyon, fazendo com que ondas de 10 metros cresçam e fiquem com 20 a 30 metros. Devido ao Canyon (vai afunilando até chegar à costa, junto à praia do norte, na Nazaré, com uma profundidade de cerca 50 metros) e à estrutura da costa, este será um local com características únicas, para o aparecimento destas ondas.
SurfTotal: Existem em outras zonas do país? Onde?
Miguel Moreira: Esta combinação de factores é única no país e julgo que em todo o mundo, no entanto também existem ondas grandes de qualidade no Jardim do mar, na ilha da Madeira.