JOÃO GUEDES: "O HAVAI DESAFIA-TE A SURFAR ONDAS GRANDES EM TODAS AS CONDIÇÕES"

João Guedes passou um temporada na 'Universidade do Surf' que é o Havai e veio de lá com o sentido de dever cumprido.




Depois de uma ausência de alguns anos das desafiantes águas havaianas, João Guedes voltou à arena mais dura do surf mundial no final do ano passado, por altura das provas do WQS em Sunset e do WCT em Pipeline. A SurfTotal quis saber como foi esta experiência para o surfista do Porto.


Fala-nos um pouco desta tua temporada no Havai. Não foi a primeira, como estavam as ondas? 
Foi a minha terceira temporada lá, a primeira vez que fui foi com o meu pai, tinha uns 14 anos anos. Na segunda vez fui com o Edgar, o Tiago Oliveira, Miguel Ximenes, mais um pessoal… na altura tinha uns 19 anos. Portanto já há uns 8 ou 9 anos que não ia ao Havai. Foi positivo porque deu para ver o nível do surf mundial, fui precisamente na altura do WCT em Pipeline e do WQS em Sunset, deu para ver bom surf e bom nível. Em relação ao crowd foi a pior altura, fui mesmo quando estava ‘em força’. Independentemente disso deu sempre para fazer umas ondas. Não tive a melhor sorte com as condições, apanhei muito vento e nem sempre os swells foram os melhores, mas o suficiente para apanhar uns dias grandes em Pipeline, mas sempre limitado pelo campeonato, porque esses dias coincidiram com os dias do WCT. Ainda aproveitei para ficar com o Fábio Dias em dezembro, sem data de volta, para trabalhar um pouco com ele em fotografia. Infelizmente não tivemos muita sorte porque as condições em vez de melhorar pioraram e para além do vento onshore o swell caiu ao ponto de apanharmos uns dias flat. Assim sendo, acabei por me vir embora no dia 1 de janeiro, porque até dia 15 as condições iam continuar a ser um pouco fracas. Mas entre 1 de dezembro - quando cheguei -, até dia 20, houve alguns dias com boas ondas. Não apanhei condições clássicas, posso dizer que apanhei dois ou três dias em que estava realmente bom.  Mas o Havai também é um bocado isto, uma pessoa desafia-se a surfar ondas grandes em todas as condições e nesse sentido deu para cumprir esse objetivo.

 

Chamam ao Havai a ‘Universidade do Surf’, concordas?
Sem dúvida que no Havai se vê muita atitude, como surfar ondas grandes, e nos auto-desafiamos, porque ali realmente entram swells grandes ou mesmo enormes, e há sempre gente na água - o que faz com que queiras lá ir e apanhar a tua. Vês pessoas de todas as idades a surfar todo o tipo de condições. O que se vê mais são pessoas de mais idade em ondas de grandes dimensões e com grande atitude, e de facto isto serve um bocado como ensinamento. O nível de surf que se vê na água é grande, tal como acontece - a meu ver - na Austrália, onde se vê desde miúdos pequeninos até pessoas bem mais velhas a surfar e bem, o dia todo na água. A diferença é que na Austrália as ondas não passam muito do metro, metro e meio, enquanto no Havai é sempre de 1.5m para cima. Surpreendeu-me ver algumas pessoas mais velhas a surfar ondas grandes em zonas como Sunset, como também me surpreendeu ver alguns miúdos com uns 14 anos, a surfar Pipeline com mais de dois metros. Lembro-me de um tão pequenino que nem tinha remada para aquelas condições e tinha alguns locais a ajudarem-no a remar para entrar nas ondas, mas ele nem por isso deixava de ter a atitude de dropar e meter para dentro. Isto mostra a atitude com que eles nascem. 


É quase obrigatório para quem quer evoluir profissionalmente no surf ir ao Havai, o mais cedo possível, não é?
Sim, acho que sim. Deve ser daqueles sítios obrigatórios para qualquer surfista. Já me aconteceu estar três horas na água em Pipeline e apanhar duas ou três ondas, das quais uma foi um close out, outra vim pelo ar e na outra fui em frente… não apanhei nenhuma das boas, mas pronto, é importante estares dentro da água naquele ambiente, com aquelas pessoasl. Ao fim de alguma insistência acaba sempre por sobrar uma onda boa para ti. Não apanhei muitas durante a viagem porque não tive muitas oportunidades de surfar em Pipe, mas quando aquilo deu e entrei, tive as duas situações: a de estar horas na água e apanhar três ondas más, como também entrar e apanhar logo uma onda boa… tive todo o tipo de situações, mas apanhares uma boa onda em Pipeline numa surfada já é um desafio. Notei que depois de acabar o WCT, entre dia 20 e dia 1, nos dois ou três dias que deu ondas boas, o crowd era um terço dos dias anteriores, o que diminui o stress comparativamente aos dias em que estava lá o ‘mundo inteiro’. Proporcionou-me a oportunidade de ver grandes surfistas a dominarem aquela onda.

Fotos: Fábio Dias 

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