Com mais de quatro décadas dedicadas ao surf, Jorge Gato Ribeiro conhece bem os altos e baixos da modalidade — tanto como surfista como agora enquanto pai de atletas. Jorge Ribeiro, pai do bicampeão nacional Gui Gato Ribeiro, fala à Surftotal sobre o percurso desportivo do filho, os desafios familiares e o papel dos clubes no surf nacional.

Gui “Gato” Ribeiro é um dos nomes mais promissores do surf português. Natural da Costa da Caparica e atleta da ASCC – Associação de Surf da Costa de Caparica –, Gui conquistou o título de campeão nacional da Liga MEO Surf em 2022 e 2024, e sagrou-se campeão europeu Open em 2023. Destacou-se ainda ao vencer o QS1000 de Lacanau, em França. 

O grito de vitória de Gui Ribeiro WSL - Masurel 

Nesta entrevista à Surftotal, Jorge Ribeiro — pai, treinador informal e antigo competidor com mais de 40 anos de ligação ao surf — partilha a visão de quem vive o desporto desde dentro, acompanhando de perto o crescimento do filho e os desafios do surf competitivo em Portugal.

Surftotal — O que o motivou a apoiar o seu filho/a na prática do surf competitivo?

Jorge Ribeiro — Sou praticante de surf há mais de 42 anos, tendo competido durante uma década. Sempre encarei o surf com enorme paixão, tanto no free surf como na competição. Quando os meus filhos começaram, entre os 3 e os 5 anos, o objetivo foi transmitir-lhes essa mesma paixão — "meter-lhes o bichinho do surf", como se costuma dizer. Felizmente pegou, e fui sempre acompanhando e treinando-os nas suas evoluções. Por volta dos 8-11 anos manifestaram vontade de competir, e foi um processo natural. Desde então, apoio-os a 100%.
Ainda hoje acredito que a competição é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento técnico de um jovem atleta e, mais importante ainda, para o seu crescimento como ser humano.

Surftotal — Quais os maiores desafios que têm enfrentado no percurso do seu filho/a?

Jorge Ribeiro — No início, o maior desafio foi conciliar os estudos com os treinos e, mais tarde, com as competições que aconteciam quase todos os fins de semana. Felizmente, os meus filhos são muito responsáveis, bons alunos, e tive o apoio da escola, que integrou o surf no desporto escolar.

Outubro de 2024 praia do rei caparica, principal praia de formação dada pelo Jorge aos seus filhos desde pequenos!

Surftotal — Sente que há apoio suficiente dos clubes e da federação?

Jorge Ribeiro — Suponho que se refiram ao apoio financeiro, e sim, poderia ser maior. Gostaria, por exemplo, de ver um maior apoio da Câmara Municipal de Almada. No entanto, olhando para o nosso caso, tanto os clubes da Caparica (primeiro o CSC e mais recentemente a ASCC) como a própria Federação Portuguesa de Surf fizeram sempre o que podiam com os recursos que tinham — desde competições regionais, Taça de Portugal, estágios, apoios e provas internacionais.

Surftotal — Consideraria mudar para outro país se surgissem melhores oportunidades?

Jorge Ribeiro — Sinceramente, não. Sempre transmiti aos meus filhos o amor e o orgulho pela nossa terra, a Caparica, e pelo nosso país, Portugal. Mudar seria, para mim, ir contra esses princípios.