Atach - A nova marca portuguesa de pranchas desmontáveis que pretende revolucionar o mercado segunda-feira, 20 novembro 2023 14:59

Atach - A nova marca portuguesa de pranchas desmontáveis que pretende revolucionar o mercado

 Simão da Câmara Manoel é a mente por trás desta inovação.

 

 

Depois de uma carreira competitiva que passou pelo surf, o windsurf e o stand up paddle, Simão da Câmara Manoel decidiu despir a lycra e desenvolver a sua veia empreendedora. Aos 26 anos de idade, está bastante habituado a fazer surftrips e conhece bem o constrangimento de transportar pranchas no aeroporto e nos destinos para onde viaja. As pranchas modulares da Atach surgiram como uma resposta a esse problema. 

Ainda que as pranchas desmontáveis não sejam novidade, os modelos concebidos por Simão trazem inovações que pretendem revolucionar o mercado, tornando estas pranchas mais acessíveis e apelativas para os consumidores. A Surftotal conversou com Simão para conhecer melhor a história por trás desta ideia, bem como o seu futuro. 

 

 

Conta-nos um pouco sobre ti e sobre como começou a tua ligação ao mundo do surf.
 
O meu nome é Simão da Câmara Manoel, tenho 26 anos, estudei Engenharia de Materiais na NOVA FCT, no Monte da Caparica. Cresci na Fonte da Telha e costa da caparica, tenho casa em ambas as zonas e pratico surf desde criança . O meu pai foi o responsável em ficar viciado no desporto. Aos nove anos experimentei windsurf, uma vez que foi o primeiro desporto que o meu pai praticou e um dos primeiros a fazer em Portugal juntamente com o Rui Meira (da Lagoa de Albufeira) e outros. O meu pai posteriormente passou para o kitesurf.
 
 
Comecei a fazer surf e stand up paddle aos 12 anos e aos 14 anos fiz kitesurf. Acabei por insistir mais no stand up paddle e surf e fiz competição de stand up paddle desde os 14 anos de idade. Comecei a competir na edição em Santa Cruz e posteriormente no campeonato nacional quando a modalidade passou para a FPS com o João Aranha. Fui campeão nacional de Stand Up paddle de ondas em 2019, com 22 anos de idade, representei a Selecção Nacional no mesmo ano no ISA Europeu e fiz umas provas em Espanha (em Cadiz) que contavam para o campeonato europeu, que acabei por terminar em 5º lugar.
 
Após o Covid, decidi abandonar a competição e dedicar-me apenas ao surf por lazer, uma vez que também acabei o mestrado e estava a começar a trabalhar. Entre 2017 e 2018 tirei o curso de Treinador de Surf grau 1 na Lusófona e dei aulas durante 2 anos no Marcelino, Costa da Caparica.
 
 
 
 
Este projecto em particular, foi o primeiro que tu criaste em termos de produto para ser comercializável?
 
 
Sim, foi o primeiro. Tenho outros em mente, já desenhados e outros ainda no papel ou com apenas uma pequena apresentação da ideia. Pranchas modulares já existem há algum tempo no mercado, desde 2011 ou 2013, mas não oferecem grandes vantagens para o consumidor, o que acaba por não gerar interesse. O primeiro grande problema com as primeiras pranchas modulares está no preço. As primeiras custam em torno de 1300 euros e as mais recentes custam entre 850 a 1000 euros. O segundo problema é a estética do produto. Não apresentam um design interessante. Muito funcional.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como surgiu esta ideia? Quais as razões principais que te levaram a começar este projecto?
 
 
No primeiro ano do meu mestrado, tive uma cadeira durante o trimestre (que é habitual na minha faculdade), sobre o empreendorismo. A cadeira consistia em formar grupos com diferentes pessoas da faculdade , dos vários cursos existentes, iniciar um brainstorming e depois fazer a avaliação do mercado e finalizar com uma ideia quase em MVP. Escolhi um grupo em que um dos meus amigos estava inserido e começamos a debater. O pessoal do meu grupo só gostavam de futebol, então viemos com uma ideia de uma aplicação para combinar jogos de futsal. Aquilo funcionava como um lounge qualquer pessoa podia encontrar. Podiam marcar jogos com pessoas aleatórias ou grupos de amigos e depois para marcar , efectuava-se o pagamento.
 
 
 
 
 

"Pus-me a pensar em algo que estivesse em falta, e surgi com esta ideia."

 

 

 
 
 
 
Por muito que não gostassse da ideia, avançamos e até fomos para a final que decorreu no ultimo dia da cadeira, com pré-seleções já feitas e outras apresentações no caminho. Não ganhámos (risos) ... Olha o meu espanto. Mas gostei da experiência e não estava à espera. A equipa que ganhou tinha a ideia de reutilizar cascas de bananas para sacos. Basicamente queriam substituir os sacos de plástico ou cartão por cascas de bananas reutilizadas. Passado alguns dias, pus-me a pensar em algo que estivesse em falta e após umas pesquisas, surgi com esta ideia. 
 
Eu costumo viajar muito. Costumo viajar entre duas a três vezes por ano com a minha família e especialmente para lugares com surf, e ao longo dos anos tenho sempre o mesmo problema e nunca consigo arranjar uma solução: 
 
1- Embalar uma prancha é horrível. Demora tempo e temos de arranjar pedaços de cartão ou plastico para proteger as pranchas. Mesmo com as capas fortificadas, as pranchas podem ser danificadas;
2- Transportá-las é horrivel. Seja no carro ou no aeroporto. Simplesmente muito pesadas e pouco práticas.
3- Têm de ir como bagagem especial e há companhias que temos de pagar a ida e volta.
4- Mesmo em bagagem especial, a prancha pode sofrer danos.
5- Só levamos algumas pranchas (duas ou três no máximo) ou uma para viajar e se for danificada, já não podemos surfar.
 
 
 
 

"Queria produzir uma prancha modular, amiga do ambiente, resistente, barata e fácil de produzir."

 
 
 
Com todos estes pontos que detesto quando vou viajar, pensei que talvez isto também se aplicasse a outras pessoas e não só a mim. Por isso queria produzir uma prancha modular, amiga do ambiente, resistente, barata e fácil de produzir. uma prancha que resolvesse todos os problemas de locomoção e que evitasse custos extras. O terceiro problema é o tamanho. Para uma prancha modular, ter a vantagem de ser transportada facilmente tem que cumprir com os requisitos do tamanho e as pranchas do mercado apenas se dividem em duas partes, o que ainda fica uma prancha demasiado grande mesmo para a deslocação da mesma.
 
O quarto problema é a produção. O tempo de produção está associado ao custo. Este tipo de pranchas, ou pelo menos as do mercado actual, demoram imenso tempo a ser produzidas (pelo menos três vezes mais que uma prancha normal).
 
 
 
 
 
 
 
Quais os maiores desafios com que te deparaste?
 
O começo é sempre mais difícil e ainda estou a ter alguns. O primeiro foi fazer um design de algo que nunca tinha feito. Demorei três a quatro meses a chegar a um design aceitável. Depois foi arranjar uma maneira de produzir a uma escala real, o que foi extremamente dificil já que as impressoras 3D no mercado para o consumidor comum imprimem no máximo até 45 cm por 45 cm e 47 cm de altura. Há impressoras industriais e são extremamente caras e poucas no mundo.
 
 
 
 

"O primeiro modelo funcional foi testado e falhou... A prancha partiu-se aos bocados."

 
 
 
 
Com a falta de tempo, decidi arriscar e fazer este produto a minha tese de mestrado. A minha tese de mestrado não foi essencialmente sobre o produto em si mas a pesquisa de diferentes padrões do interior do produto e com materiais plásticos diferentes. A produção do produto demorou aproximadamente mais quatro a cinco meses, uma vez que produzir peças extremamente grandes dá problemas à impressora.
 
Em Dezembro de 2019, na Fonte da Telha, o primeiro modelo funcional foi testado e falhou... A prancha partiu-se aos bocados. Na segunda tentativa, revesti a prancha com fibra de vidro e aguentou-se ... Com apenas quatro ondas surfadas. Continuei o meu projecto mesmo estando a trabalhar full-time como Field Process Engineer, na Holanda. Fui desenvolvendo outros designs mais adequados e que fossem simples e fáceis de montar e desmontar. A certa altura juntei algum dinheiro e investi em dois protótipos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foram meses à espera mas compensou. Em Abril de 2021 fiz a primeira tentativa na Costa da Caparica com os fotografos Henrique Casinhas e o André Hilario. Continuei a testar os protótipos e a começar a fazer o business plan e a determinar qual tipo de produção usaria no futuro. Janeiro de 2022 fui para a Madeira gravar e o Orlando Pereira testou a prancha no famoso surf spot - Paul do mar. Até então tenho produzidos mais protótipos, em busca de investidores e em preparação para lançar o negócio.
 
 
 
 
 
 

"A minha prancha destaca-se de várias formas: o preço, o custo, a mobilidade, montar/desmontar sem utilizar ferramentas e personalização"

 
 
 
 
 
 
Sabemos que há outras pranchas "desmontáveis" que já são comercializadas, qual a grande diferença desta tua tecnologia em relação ao que já existe no mercado?
 
 
A minha prancha destaca-se por várias formas: O preço, os custos, a mobilidade, montar/desmontar sem utilizar ferramentas e personalização. A ideia e o conceito vão muito além de uma simples prancha desmontável mas sim uma extensão de algo que pode ser persolnalizado ao gosto do surfista, optando por qualquer parte, uma vez que são todas compativeis, gerando varias combinacoes e economizando o numero de pranchas no quiver.
 
O custo de venda compara-se a uma prancha normal no mercado. A prancha pode dividir-se entre três a cinco partes, permitindo que caiba em qualquer mala de viagem de porão, evitando custos extras, e numa mochila grande para outros transportes públicos. Cabe numa bagageira de um carro e facilmente num armário. O sistema de encaixe permite que seja rápido e eficaz ao ponto de aguentar ondas para além dos 3 metros. Foi testada várias vezes na Madeira, , um paraíso de surf, conhecida como o Hawaii da Europa, pelo conhecido surfista nacional Orlando Pereira.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O sistema não requer qualquer tipo de ferramenta e é resistente à agua salgada. Em termos de peso, também se compara a uma prancha no mercado, variando entre 2,8 a 3.5 kg conforme o tamanho da prancha. A prancha vem equipada com um stringer de carbono, elevando a resistência ao extremo.  No lancamento do produto, o consumidor vai poder optar por escolher o modelo base feito de fibra de vidro ou fibra de carbono. Posteriormente vamos introduzir mais opcões como madeira, plastico reciclável e outros mais.
 
 
 
 
Como podemos ter a certeza que quando encaixamos as três partes da prancha, esta não vai desencaixar quando fazemos uma onda maior ou uma manobra mais arriscada?
 
 
A prancha está equipada com 8 tubos que encaixe no total. Todos os tubos são feitos de carbono com uma espessura relativamente grande, o que permite aguentar grandes forças de tensão. O sistema de encaixe está inserido em 4 dos 8 tubos, permitindo um safety factor elevado. Para as peças se desconectarem entre si, tem que haver uma pressão num ponto especifico do sistema para desprender. Este ponto é relativamente difícil de ser pressionado com os pés, uma vez que a área é reduzida e apenas é possivel com os dedos das mãos. Para além do sistema, a prancha está equipada com uma camada extra de fibra para assegurar uma maior durabilidade.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tens a patente desta tecnologia? Qual a expectativa de comercialização que tens? Para o mercado nacional e internacional?
 
 
Esta tecnologia está pendente a nível europeu e internacional. A obtenção da patente oficial ainda requer uma pesquisa mais detalhada que pode durar até três anos até ser oficial, mas com a tecnologia pendente estou protegido para iniciar produção em larga escala, entre outros. Neste momento estamos a colectar e-mails e a construir a nossa comunidade. Estamos a recolher mais imagens e vídeos da performance da prancha com vários surfistas com diferentes niveis de surf. O lancamento oficial está previsto para o Q2 de 2024.
 
 
 
 
 
Qual o peso que a prancha vai ter, comparada com modelos de pranchas normais de poliuretano?
 
 
A prancha vai competir com as pranchas do mercado. Neste momento, dos modelos que temos disponíveis e testados, varia entre 3kg e 3,5 kg. Quando começarmos a produção em escala, vamos conseguir reduzir até aos 2,5 kg, uma vez que vamos utilizar materiais com maior qualidade e a maior eficiência. A drástica redução do peso da prancha deve-se a vários elementos constituintes serem de carbono.
 
 
 
 
 
 

"O surf vai ter o destaque que precisa para continuar a crescer."

 
 
 
 
 
Quando comecares com a comercialização do produto, quais vao ser os principais objetivos e mercados que queres alcancar a curto e longo prazo?
 
 
Os maiores mercados são a Europa, EUA, Brasil e Austrália. O mercado está a expandir-se rapidamente, construindo piscinas de ondas e agora com a integração nos Jogos Olímpicos, o surf vai ter o destaque que precisa para continuar a crescer. Vamos dedicar-nos a D2C e no E-commerce. Vender em retalho ainda está por decidir mas seria numa fase mais avançada. Estabelecer ligações com surfistas conhecidos e profissionais será a chave de ouro para crescer rapidamente. Os Influencers serão também uma boa fonte de exposição mas com profissionais , cria credibilidade no produto.
 
 
 
 
 
 

"Acredito no poder nacional e na fabricação de um produto de qualidade."

 
 
 
 
 
A produção é feita onde? 
 
 
A produção é feita ao pé do Porto, Portugal. Acredito no poder nacional e na fabricação de um produto de qualidade. Portugal tem uma reputação mundialmente em produtos de qualidade e eu quero realçar e usar isso para fabricar uma boa prancha, com materiais de qualidade.
 
 
 
 
 
Como vez o futuro da Atach? Estas a pensar integrar novos features, produtos complementares, etc? Como é que estas a pensar manter a comunidade unida para a frente?
 
 
A Atach vai continuar num caminho de inovação. Vamos investir e focar-nos em desenvolver produtos direcionados para facilitar mobilidade e personalização. Vamos focar-nos na experiência do utilizador e das possibilidades de combinações de modelos, trabalhando com shapers pelo mundo para desenvolver outros designs e compatibilidade. O passo seguinte será integrar a nossa tecnologia com outros desportos radicais. Há mercados estagnados há demasiado tempo sem inovação, apenas nos materiais. Quero criar uma marca e uma mensagem à volta deste produto.
 
 
 
 
 
 

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