Quando Núria Maganinho se lesionou no início do ano, pensou que teria que deixar de lado alguns objectivos. Mas com esforço e dedicação, acabou por chegar aos últimos meses do ano com um sentimento de missão cumprida, tendo alcançado o título de campeã nacional júnior sub-18.

A Surftotal conversou com a atleta sobre como foi o caminho até chegar a esse resultado, os outros objectivos que ainda tem pela frente, e as suas opiniões sobre o panorama actual do surf português.

foto: Tó Mané

Surftotal:Como foi o teu percurso este ano até chegares a campeã nacional júnior sub-18?

Núria Maganinho: Este ano representou um período extraordinariamente desafiador para mim. Iniciei o ano enfrentando uma lesão grave no joelho, o que resultou na perda do início da minha temporada competitiva. Quando retornei ao mar após a lesão, acreditava que a parte mais difícil já estava para trás, mas rapidamente percebi que ainda havia uma árdua jornada pela frente. Fui obrigada a recomeçar do zero, tanto no que diz respeito ao meu condicionamento físico quanto ao meu estado mental.

"Os desafios e esforços valeram a pena."

Para superar essa fase difícil, dediquei o dobro do esforço nos meus treinos em comparação com o período anterior à lesão. No entanto, não teria alcançado essa recuperação sem o apoio incansável dos meus pais e dos meus treinadores. Eles não apenas me fizeram acreditar em mim mesma, mas também me deram a força necessária para continuar a praticar a atividade que mais amo. Hoje, olhando para trás, percebo que todos os desafios e esforços valeram a pena. Consegui alcançar um objetivo que, no auge da lesão, parecia quase inatingível.

Devido à lesão, não pude participar nas etapas do circuito regional, assim como algumas etapas tanto do Pro Júnior quanto da Liga MEO. Como resultado, precisei solicitar um wild-card para garantir minha participação na competição nacional de esperanças, tanto na categoria sub-16 quanto na sub-18 feminina.

Como estavam as ondas e como foi em termos de heats? Houve algum heat, para além da final, que te tivesse dado um sabor especial?

A competição nacional ocorreu na Praia da Vagueira, em Aveiro, um local repleto de memórias especiais para mim. Foi lá que me tornei campeã regional do Norte pela primeira vez e agora alcancei o título de campeã nacional. O campeonato teve a sorte de contar com excelentes condições para o surf, com ondas favoráveis tanto para manobras para a esquerda quanto para a direita.

Destaco especialmente a final da categoria sub-18 contra a Erica como um momento inesquecível. As condições do mar estavam desafiadoras, e eu estava determinada a realizar meu sonho. Felizmente, consegui concretizá-lo, e isso enche-me de alegria.

"Em Portugal, a obtenção de patrocínios é um desafio para a maioria dos surfistas"

Vamos agora falar de apoios e patrocinios: como tem sido durante a tua carreira de atleta essa realidade?

O surf é indiscutivelmente um desporto dispendioso, e é fundamental que os atletas tenham patrocínios para continuar a praticá-lo em alto nível. Em Portugal, como mencionei, é notório que a obtenção de patrocínios é um desafio para a maioria dos surfistas. Eu, por exemplo, não tenho patrocinadores diretos, mas conto com o apoio de algumas marcas, como os Ginásios; a Idden; o Picaba e ainda a 58 surf e a Semente.

É graças a essas ajudas que tudo se torna possível, pois elas contribuem significativamente para reduzir os custos associados aos materiais necessários para a prática do surf. Essa rede de apoio é fundamental para que os surfistas possam continuar a perseguir os seus sonhos e objetivos, e é um reflexo da comunidade unida e solidária que muitas vezes está presente neste desporto.

 

"A tradicional forma de obtenção de patrocínios está a passar por muitas mudanças significativas."

É fácil para uma atleta conseguir os patrocínios por forma a ajudar na evolução da sua carreira e resultados?

Conforme já mencionado, garantir patrocínios tem-se tornado uma tarefa extremamente desafiadora para os atletas. Isso ocorre porque, devido ao poder das redes sociais - muitas empresas optam por não financiar os atletas para promover as suas marcas. Muitos praticantes de surf, de facto, promovem essas marcas sem receber nada em troca. É por essa razão que acredito que muitos surfistas estão a enfrentar dificuldades financeiras e precisam urgentemente de apoio.

O cenário atual coloca os surfistas em uma situação delicada, uma vez que a tradicional forma de obtenção de patrocínios está a passar por muitas mudanças significativas. A necessidade de apoio é essencial, e é importante que sejam encontradas soluções para garantir que os talentosos atletas do surf possam continuar a dedicar-se ao desporto que amam e representam tão bem.

"Conquistar um lugar na seleção nacional é uma tarefa desafiadora."

Qual o próximo evento que vais ter que consideras importante para a tua carreira?

O ano está quase a chegar ao fim para mim, mas tenho um desafio emocionante no horizonte: representar Portugal nos Mundiais da ISA, que serão realizados no Rio de Janeiro, Brasil. Esta é uma tarefa que encaro com grande determinação, pois conquistar um lugar na seleção nacional é uma tarefa desafiadora. Todas as atletas da equipa têm mostrado um elevado nível de surf e conquistado ótimos resultados nas competições.

Estou plenamente consciente de que enfrentarei uma competição dificil, mas tenho uma mentalidade de não desistir. Darei o meu melhor, trabalharei incansavelmente e, se tiver a honra de ser selecionada, ficarei imensamente feliz. Este desafio é uma oportunidade de crescimento e aprendizado, e estou ansiosa para enfrentá-lo com dedicação e paixão.

Podes falar do teu quiver?

Iniciei minha parceria com a Semente em 2020, e tenho o prazer de dizer que tenho tido uma experiência incrível. Para mim, a Semente é, sem dúvida, a melhor marca de pranchas de surf em Portugal, e seu shaper, Nick, é uma pessoa incrivelmente simpática e experiente. Desde que comecei a utilizar as pranchas da Semente, desenvolvi uma relação muito próxima com Nick e o Miguel, e acredito que eles sempre farão parte da minha jornada no surf.

Atualmente, conto com um quiver de três pranchas, cada uma adequada para diferentes condições do mar. Ter um equipamento versátil como este, tem sido fundamental para aprimorar a minha performance e enfrentar os desafios variados que o surf nos apresenta.

E de ondas, qual a tua onda ideal? Tamanho e formato, e a quebrar em que tipo de fundo?

Para mim, todas as condições de treino são bem-vindas, mas as minhas preferidas são as ondas de inverno na minha praia local, “Cagas”, em Espinho. Considero que Espinho possui as melhores direitas de Portugal e é uma região repleta de potencial para o surf. “Cagas”, para quem não conhece, é uma onda para a direita que oferece uma variedade de seções, desde tubulares até seções mais suaves, ideais para melhorar movimentos como os "roundhouses". No entanto, a minha parte favorita da onda é a seção mais cavada, onde posso exibir o meu melhor surf no backside. O único desafio é que as condições perfeitas para os “Cagas” só ocorrem cerca de uma vez por ano, e quando isso acontece, a praia fica repleta de talentosos surfistas de manhã até a noite, o que torna desafiador apanhar uma onda.

"Mantenham o foco, trabalhem duro, divirtam-se e cultivem amizades."

Algo mais a dizer?

Por último, quero deixar um conselho às gerações mais jovens que estão interessadas no surf. O surf é um desporto que vai além do talento natural. Para te tornares um surfista de destaque, é essencial trabalhares arduamente todos os dias, além de demonstrares respeito por todos os que compartilham as águas. Acredito firmemente que, com esforço e dedicação, Portugal pode desenvolver uma geração de surfistas incrível.

No entanto, acima de todo o trabalho árduo, é importante que vocês se divirtam e pratiquem o surf com paixão. Afinal, é isso que torna este desporto tão especial. Além disso, usem o surf como uma oportunidade para fazerem novos amigos e amigas, pois as amizades construídas através do surf podem enriquecer a vida e contribuir para uma existência mais feliz e gratificante.

Em resumo, mantenham o foco, trabalhem duro, divirtam-se e cultivem amizades, pois o surf não é apenas um desporto, mas também uma forma de enriquecer as nossas vidas e as nossas comunidades.

Créditos fotos - thebluetrip, Tó Mané e arquivo pessoal Núria.