segunda-feira, 27 setembro 2021 10:49
"No surf à remada estás sozinho" - A. Laureano e C. Bins sobre uma sessão de surf em ondas grandes à remada na Nazaré
com António Laureano e Cristiano Bins .
As ondas da Nazaré colocaram Portugal no mapa do surf de ondas grandes mundial. Todos os anos a Praia do Norte atrai Big Riders que procuram conquistar novos recordes nas ondas da vila portuguesa e sentir a adrenalina que as mesmas provocam.
Surfar as ondas gigantes da Nazaré é por si só um desafio, mas o Big Rider português António Laureano e o brasileiro Cristiano Bins tornaram a experiência ainda mais desafiante quando, no ano passado, fizeram ali uma sessão de surf não em tow in, como estamos habituados a assistir, mas à remada. Para quem não sabe, o tow in, privilegiado na Nazaré, consiste em rebocar o surfista, fazendo-o entrar na onda com a ajuda de um jet-ski. O surf à remada, como o nome indica, dispensa o jet ski e significa que os surfistas entram nas ondas a remar, sem auxílio - é, também, uma prática mais fiel às origens do surf. Numa entrevista para a Sapo em 2018, o surfista João Macedo fala sobre como o surf à remada, em lugares como a Nazaré, envolve "mais risco" e "mais preparação", já que a dificuldade de "fugir das ondas" a remar é muito maior.
Agora que a época das ondas grandes da Nazaré se está a aproximar, a Surftotal decidiu saber os detalhes da emocionante e arriscada sessão de surf à remada de António Laureano e Cristiano Bins no ano passado na Nazaré. Os dois surfistas confirmam com as suas respostas que o surf à remada constitui um perigo maior - mas é maior também a recompensa.
António Laureano / @sarahneukomm
Olá, António! Conta-nos como e porque decidiste entrar à remada? Como passaste a rebentação? Que tamanho tinham as ondas?
Em 2019, Cristiano Bins, freesurfer de Porto Alegre, Brasil, mudou-se para o Porto, mas foi um ano depois, na Nazaré, que se desafiou como nunca antes numa sessão à remada ao lado de António Laureano, Ollie Dousset, Tito Ortega, Vinicius dos Santos, Sacha Bongaertz e Pedro Calado, sessão que nos descreve nesta entrevista.
O surf à remada tem uma adrenalina diferente do surf com a ajuda de tow in?
C.B.: Acho que são coisas bem diferentes, mas como nunca fiz tow in na Nazaré não posso dizer com autoridade. No tow in apanhas 10, 15, 20 ondas numa única sessão e quando levas um wipeout tens um jet ski para te tirar da zona de impacto, é um desporto de equipa. Na remada surfas menos ondas, e estás sempre à procura do posicionamento correto no lineup. Eu entro no mar a pensar em apanhar uma onda boa - daquelas que ficam guardadas na memória - se conseguir voltar ao outside para apanhar outra, é lucro.
No tow in ainda tens um spotter em terra a avisar pelo rádio onde vai entrar o set e qual a melhor onda, na remada estás sozinho, é preciso ler o mar, deslocares-te, ter cuidado para não levar com o set e voltar vivo e feliz para casa.
Que prancha usaste?
António Laureano: Eu decidi entrar na remada, pois já fazia bastante tempo que não fazia uma remada em mar grande e foi a oportunidade que estava à espera há bastante tempo, é um bocado complicado surfar numa altura de confinamento, mas como estava a fazer filmagens para um projeto na Nazaré tinha a possibilidade de surfar.
Entrámos de mota de água pelo Porto de abrigo, como costumamos fazer a maior parte das vezes.
"Na remada a adrenalina que sentimos é algo impossível de descrever,
é muito maior do que a adrenalina que sentimos no tow in"
António Laureano / @sarahneukomm
O surf à remada tem uma adrenalina diferente do surf com a ajuda de tow in? Se sim, porquê?
A. L.: O surf de remada e de tow in são coisas completamente diferentes. O tow in é quando temos o auxílio da mota de água para entrar na onda, e a remada é o surf normal mas com pranchas gigantes e com ajuda das motas de água para fazerem o resgate.
Na remada a adrenalina que sentimos é algo impossível de descrever, é muito maior do que a adrenalina que sentimos no tow in, porque enquanto remamos temos que fugir às ondas, ter o go for it para virar à última da hora e começar a remar e ter sempre aquela vozinha na cabeça a dizer “atenção que vem maior atrás”.
Que prancha usaste nesta sessão?
A. L.: A prancha que usei foi uma Polen Surf boards, tamanho 9,6, o novo modelo de guns que a Polen fez.
É mágica, a prancha.
A sessão intemporal pelos olhos de Cristiano Bins
Em 2019, Cristiano Bins, freesurfer de Porto Alegre, Brasil, mudou-se para o Porto, mas foi um ano depois, na Nazaré, que se desafiou como nunca antes numa sessão à remada ao lado de António Laureano, Ollie Dousset, Tito Ortega, Vinicius dos Santos, Sacha Bongaertz e Pedro Calado, sessão que nos descreve nesta entrevista.
Cristiano Bins / @heidi hansen
Olá Cristiano! conta-nos como e porque decidiste entrar à remada na Praia Norte da Nazaré? Como passaste a rebentação? Que tamanho tinham as ondas?
Cristiano Bins: Como não tenho jet ski, a remada é a minha única opção para surfar as ondas da Nazaré. Desde que me mudei para cá foram algumas as sessões em que não entrei no mar por achar que estava demasiado grande ou com muito vento para remar. Nesse sábado, as condições estavam perfeitas e eu não quis desperdiçar a oportunidade. Entrei no mar acompanhado do surfista australiano Ollie Dousset, remámos a partir da Praia da Vila, uma vez que a rebentação da Praia do Norte estava quase impossível de passar. No caminho para o pico o meu leash ficou preso numa rede de pesca e tive que soltar o pino de emergência para conseguir desvencilhar-me dela. Por descuido, acabei por perdê-lo no mar e tive que improvisar com uma das cordinhas que prendem o leash à prancha.
Naquele dia as ondas tinham cerca de 15-18 pés, mas vi algumas maiores a serem surfadas pelo pessoal do tow in. O Ian Cosenza apanhou uma direita no pico 1 que, com certeza, tinha mais de 25 pés.
Olá Cristiano! conta-nos como e porque decidiste entrar à remada na Praia Norte da Nazaré? Como passaste a rebentação? Que tamanho tinham as ondas?
Cristiano Bins: Como não tenho jet ski, a remada é a minha única opção para surfar as ondas da Nazaré. Desde que me mudei para cá foram algumas as sessões em que não entrei no mar por achar que estava demasiado grande ou com muito vento para remar. Nesse sábado, as condições estavam perfeitas e eu não quis desperdiçar a oportunidade. Entrei no mar acompanhado do surfista australiano Ollie Dousset, remámos a partir da Praia da Vila, uma vez que a rebentação da Praia do Norte estava quase impossível de passar. No caminho para o pico o meu leash ficou preso numa rede de pesca e tive que soltar o pino de emergência para conseguir desvencilhar-me dela. Por descuido, acabei por perdê-lo no mar e tive que improvisar com uma das cordinhas que prendem o leash à prancha.
Naquele dia as ondas tinham cerca de 15-18 pés, mas vi algumas maiores a serem surfadas pelo pessoal do tow in. O Ian Cosenza apanhou uma direita no pico 1 que, com certeza, tinha mais de 25 pés.
"Eu entro no mar a pensar em apanhar uma onda boa
- daquelas que ficam guardadas na memória -
se conseguir voltar ao outside para apanhar outra, é lucro."
Cristiano Bins / @heidi hansen
O surf à remada tem uma adrenalina diferente do surf com a ajuda de tow in?
C.B.: Acho que são coisas bem diferentes, mas como nunca fiz tow in na Nazaré não posso dizer com autoridade. No tow in apanhas 10, 15, 20 ondas numa única sessão e quando levas um wipeout tens um jet ski para te tirar da zona de impacto, é um desporto de equipa. Na remada surfas menos ondas, e estás sempre à procura do posicionamento correto no lineup. Eu entro no mar a pensar em apanhar uma onda boa - daquelas que ficam guardadas na memória - se conseguir voltar ao outside para apanhar outra, é lucro.
No tow in ainda tens um spotter em terra a avisar pelo rádio onde vai entrar o set e qual a melhor onda, na remada estás sozinho, é preciso ler o mar, deslocares-te, ter cuidado para não levar com o set e voltar vivo e feliz para casa.
Que prancha usaste?
C.B.: Estava com uma 10’2’’ da Alka Surfboards, do shaper português Américo Monteiro, e infelizmente foi a última sessão dela, pois depois de horas à espera de uma onda boa para sair, levei com um set gigantesco na cabeça que a partiu em dois pedaços.
Qual foi a melhor onda da sessão?
C.B.: Eu surfei uma única onda, logo no início da sessão. Foi uma esquerda que fez um lindo bowl mas depois fechou.
C.B.: Eu surfei uma única onda, logo no início da sessão. Foi uma esquerda que fez um lindo bowl mas depois fechou.