Selecionador de nacionalidade portuguesa Pedro Barbudo lutará com a equipa Russa por uma vaga Olímpica
Pedro Barbudo é um dos quatro selecionadores de nacionalidade portuguesa em El Salvador, a treinar uma equipa internacional...
São quatros os selecionadores de nacionalidade portuguesa que treinarão equipas internacionais e marcarão presença nos World Surfing Games ISA, que decorrem já a partir do dia 29 deste mês. As equipas lutarão por uma vaga olímpica nos Jogos que decorrem já este Verão. David Raimundo treinará a Seleção Portuguesa, José Manuel Sousa Braga a da Grã-Bretanha, Pedro Barbudo a Seleção Russa e Paulo do Bairro a Dinamarquesa.
A Surftotal entrevistou cada um destes treinadores para saber um pouco mais sobre as suas perspectivas para este mundial e para as qualificações para a estreia do surf nos Jogos Olímpicos. O treinador português da equipa da Rússia, Pedro Barbudo, revelou-nos algumas das suas ideias e expectativas, nesta entrevista exclusiva.
Surftotal: Qual a importância que, na sua opinião, os jogos Olímpicos virão a ter no surf como desporto? Poderemos ver o surf noutro patamar na nossa sociedade? Se sim, porquê?
Pedro Barbudo: A importância dos jogos olímpicos e seus efeitos já estão a acontecer com programas olímpicos a nível dos ministérios dos desportos e federações que possibilitam estruturar mais o trabalho à volta da preparação e representação das equipas nacionais juniores e séniors. A longo prazo, irá contribuir para o desenvolvimento massivo do surf já existente com tudo o que trará de incrível e de menos bom.
Surftotal: Portugal tem neste momento quatro selecionadores nacionais em quatro equipas diferentes: Rússia, Grã-Bretanha, Dinamarca e Portugal. Na sua opinião, o nosso País é um forno de produção de treinadores de surf de elevada qualidade? Como vê e comenta este facto?
Pedro Barbudo: Felizmente temos no nosso País muito bons (não são muitos e bons) treinadores de Surf que têm uma larga experiência (35 ou mais anos) como surfistas, competidores, treinadores e tudo o mais que vivenciaram e absorveram de surf ao longo de muitos anos da sua vida pessoal e profissional. Com essa experiência e vivência, é natural que existam condições para que bons profissionais na área do surf se destaquem e sejam valorizados internacionalmente, principalmente por países que ainda não têm essa maturidade e podem assim acelerar o seu processo de desenvolvimento.
"É natural que existam condições para que bons profissionais na área do surf
se destaquem e sejam valorizados internacionalmente"
Surftotal: As ondas onde irão decorrer os jogos Olímpicos serão compatíveis com a imagem que o surf quer deixar passar para as grandes massas de audiências?
Pedro Barbudo: As ondas poderão não ser as melhores em termos de qualidade excecional, que seria o desejável, mas assim é o surf.
"O nível dos atletas, a organização e exposição do evento,
com certeza, farão com que seja um bom espetáculo
e digno de representar o surf"
Surftotal: Como vê que pode mudar a realidade do surf a seguir aos jogos Olímpicos? Que aspetos poderão melhorar?
Pedro Barbudo: A organização e interação entre as várias federações de surf de cada país e respetivos ministérios do desporto e comités olímpicos vai se tornar mais organizada e suportada através dos seus programas olímpicos, seguindo as diretivas aplicadas já há muito tempo em outras modalidades olímpicas. O objetivo será trabalhar a ciclos de 4 anos, investindo e desenvolvendo os ciclos de 1 ano que compõem os circuitos nacionais e internacionais no planeamento do treino dos atletas.
Também poderá ter consequências de mais abertura para o surf a marcas fora do meio nas suas estratégias de marketing, aumentando o interesse mais ainda do que se tem visto nos últimos 8 anos.
Surftotal: Como vê a prestação da seleção que orienta em Salvador e quantos atletas acredita que se poderão qualificar para os Jogos Olímpicos?
Pedro Barbudo: Infelizmente temos muito poucas (na verdade nenhumas) hipóteses de conquistar um lugar na Olimpíadas. O surf na Rússia é muito recente e estes são os primeiros passos de crescimento e organização da modalidade. Também o facto de na Rússia não existirem muitos dias de surf consistentes e com temperaturas que permitam treinar regularmente faz com que os atletas tenham que viajar muito para outros países e alguns desses atletas mudarem-se e irem viver e trabalhar para sítios com ondas e boas temperaturas. Ainda vai demorar para a Rússia ter uma equipa entre as melhores do mundo. Acredito que pode acontecer, mas vai demorar uns bons anos e algumas gerações de atletas. Ninguém chega lá sem começar um longo processo de estruturação e aprendizagem do desporto, como felizmente podemos afirmar que já temos em Portugal.
Lembro o exemplo das equipas de Itália e Alemanha, que há 15 anos, nos campeonatos Eurosurf e ISA, basicamente não contavam muito como adversários nos heats, mas que na última edição do Eurosurf em 2019, a Itália sagrou-se campeã europeia e a Alemanha em 3º, quase conquistando o 2º lugar de Portugal. Em 15 anos, a Itália torna-se campeã Europeia e tem um surfista entre os melhores do WCT, tal como nós temos o Kikas. Será interessante ver, agora em El salvador, a prestação destas duas equipas.
Em termos de preparação da equipa nacional Russa e devido ao Covid, foi impossível trabalharmos neste ultimo ano e alguns dos surfistas da equipa ficaram 4 ou 5 meses sem surfar, retidos na Rússia. Antes do primeiro lockdown, em março do ano passado, tínhamos já escolhido a equipa e mantivemos essa mesma escolha para este ano.
"Infelizmente, a Rússia tem poucas ou nenhumas hipóteses
de conquistar um lugar nas Olimpíadas"
Surftotal: Jogos Olímpicos de Surf versus World Championship Tour, em qual destes dois um atleta terá mais chances de vingar e se tornar profissional de surf?
Pedro Barbudo: Penso que o WCT será o mais exigente e que requer um alto nível técnico e de profissionalismo ano após ano. O atleta olímpico tem a vantagem de contar com o apoio da estrutura desportiva do governo do seu país e isso é também um grande incentivo ao profissionalismo. São, realmente diferentes, mas no WCT temos mais garantidamente os melhores surfistas do mundo. Parece-me ser mais difícil ser campeão mundial do WCT do que ser o campeão mundial dos jogos olímpicos.