As alegrias e desafios de ser mãe de um surfista de competição
O relato de Mónica Graça e Fátima Perloiro...
Muito se pode dizer sobre o que significa ser mãe. Entre muitas coisas é o experiênciar um leque de emoções que culminam no já cliché, mas verdadeiro, amor incondicional.
Mães em todo o mundo sentem alegrias e desafios neste papel, mas como se sentem as mães dos surfistas de competição ao terem de lidar com tudo o que envolve a educação de um jovem que é também um atleta de competição?
Para responder a esta pergunta, fomos falar com Mónica Graça, mãe do Santiago Graça, e Fátima Perloiro, mãe do Luís Perloiro.
Santiago Graça é um dos mais promissores surfistas portugueses da nova geração e apontado por muitos como um dos grandes sucessores ao trono do surf nacional e internacional.
“Santi”, como também é conhecido, já conta com grandes conquistas desportivas, como o título sub-12 no circuito “Moche Groms by Saca”, de vice-campeão do “Rip Curl Grom Search” e de campeão da taça de Portugal de surf de sub-14, bem como diversas vitórias em etapas dos circuitos nacionais juniores.
Todas as vitórias de Santiago são uma alegria para a mãe do jovem surfista mas há uma em particular que lhe está gravada na memória.
“Foi o primeiro campeonato em que entrou e organizado pela Volcom. A felicidade dele foi indescritível.” – disse Mónica Graça à Surftotal.
Dono de um bonito estilo e fluidez, é também na modernidade e atitude que o seu surf se destaca. O surfista de Cascais tem um futuro promissor no surf mas com ele vêm também alguns desafios para a sua mãe, como gerir a escola com o surf e ajudá-lo a gerir os insucessos.
Mas como terá sido a recepção de Mónica Graça ao saber que o Santiago queria abraçar o surf profissional?
“A mesma em relação aos irmãos do Santi.” – disse a mãe do jovem surfista. “Seguirem o que quiserem que nós pais estamos cá para apoiar e encaminhar. O Santi é um menino muito feliz e é assim que toda a família que o apoia, quer que ele continue sempre a ser.”
"O nosso lema é:
Faz aquilo que quiseres desde que seja com responsabilidade,
entrega, garra, honestidade e muita seriedade..."
Felicidade. Essa foi uma das sensações que Fátima Perloiro sentiu quando Luís Perloiro competiu na última etapa da Liga Meo no ano 2019 nos quartos de final com Vasco Ribeiro.
“Lembro-me que estava a trabalhar ....Sou psicóloga numa escola onde o Luís já foi aluno e não estava a ver o heat pois estava em atendimentos. Às tantas comecei a ouvir um burburinho à minha porta, saltavam e via-lhes as cabeças passar pelo vidro superior da porta e acenavam. E eu a pensar: - “Mas o que é que lhes deu?!, Mas que raio é que eles querem”.... fui lá fora ver e vários alunos tinham vindo dizer-me que o Luís tinha feito um tubão e uma nota de 9,75! Uma alegria, foi um momento divertido.”
Luis Perloiro é um dos mais jovens talentosos surfistas portugueses da atualidade. O surfista de Carcavelos é o atual nº 8 no ranking nacional e um dos atletas que irá representar a bandeira lusa no Pro Santa Cruz, etapa do circuito de qualificação mundial, no próximo mês de maio.
O surfista de 23 anos de idade começou a dar os primeiros passos no surf aos 6 anos, mas só a partir dos 11 começou a surfar com mais frequência e a participar em campeonatos.
Quando perguntámos à sua mãe qual foi o momento mais gratificante para si na carreira do Luís, as suas vitórias foram um deles.
“Há sempre uma grande tentação de associar momentos mais gratificantes a momentos de sucesso e, naturalmente, também referiria esses. Por exemplo, o ter sido vice campeão em Marrocos em 2016, ainda Júnior com a selecção nacional, o momento no Porto em que se sagrou campeão nacional Sub-18.” – disse Fátima Perloiro.
Mas não são só as vitórias que enchem o coração das mães dos atletas.
“Outros momentos muito gratificantes foi filmar o Luís ao longo de todos estes anos....na praia, ao sol, à chuva, ao vento, mas sempre adorei fazê-lo.”- continuou a mãe de Luís Perloiro.
Quanto ao maior desafio de ser mãe de um jovem atleta de competição, Fátima destaca o manter um equilíbrio entre dar apoio e dar espaço e autonomia, apoiar e não “sufocar”.
“Isto é a vida e a carreira dele, não é a minha, não quero ser a sua sombra, e fico feliz com a felicidade dele. Tenho muita consciência que quando a gratificação dos pais passa exclusivamente pelo sucesso dos filhos, geralmente tem consequências muito negativas para ambos, pais e filhos... O facto de ser psicóloga e toda a minha formação específica nesta área, tem-me ajudado muito a gerir isto.”
Mas há outros desafios que Fátima considera os “desafios clássicos.... gerir medos de mãe”.
“Já passei por tudo, a cena do tubarão num campeonato júnior no Equador, a ameaça de tsunami, o Luís com 16 anos na Indonésia a fugir de um vulcão em erupção, viajando 2 dias sem dormir entre 3 ilhas com uns motoristas que contrataram no local.” – recorda Fátima Perloiro.
Desde o início que Fátima acompanha e apoia Luís Perloiro na sua carreira como surfista, mas esse acompanhamento consegue ser desafiante para uma mãe.
“O maior desafio é acompanhá-lo para que não perca nunca o seu foco, passar-lhe diariamente a certeza que temos, de que tem imenso potencial, e que tem vindo a mostrar isso na sua evolução, acompanhar as derrotas, os nervos dos heats, e a incerteza do desfecho de qualquer campeonato.”
Quando Luís Perloiro decidiu abraçar o surf competitivo, Fátima aceitou a sua decisão de forma natural.
“Como mãe (como pais) achamos que cada um deve seguir a sua vocação. Podemos “matar” talentos à nascença se assim não for. Tenho um grande respeito pela prática profissional do desporto. O desporto de competição também ajudou na formação do Luís, vejo nele características de personalidade que não estariam lá de outra forma. A única coisa que sempre insistimos foi que terminasse o secundário. Estar na escola, no liceu, é uma tarefa de desenvolvimento muito importante. Isto faz-te ser pessoa, ser humano, aprender em grupo, saberes ser um entre muitos, respeitar diferenças, ceder, negociar e ficar com amigos para a vida.... O nosso lema é: Faz aquilo que quiseres desde que seja com responsabilidade, entrega, garra, honestidade e muita seriedade. Se assim não for, não apoiamos....Mas tem sido.”
Para muitos pais o facto de os filhos quererem focar-se no surf e perseguir uma carreira como surfista profissional pode ser assustador, mas Mónica Graça e Fátima Perloiro mostram que apoiam os seus filhos a 100% e que o surf lhes traz um conhecimento do mundo que muitos invejam.
“Há pais que nos acham um bocado “loucos”... e perguntam, então ele não está na universidade? (e para alguns não chega na universidade, tem de ser naquela universidade específica...). O Luís tem uma profissão, também está na universidade da vida, tem uma cultura geral e um conhecimento do mundo que invejo....é um auto-didata e, quem o conhece, sabe que quando decide aprender sobre um tema é um verdadeiro obstinado.
“Se me preocupo com o futuro do Luís por ser surfista profissional? O mesmo que me preocuparia se fosse aluno de Física Tecnológica. “Preocupo-me” mais com o presente, e que ele seja vivido por inteiro e com muita gratidão por aquilo que tem.”