"Os clubes são o pilar do desporto e das federações" - (PSC)
"Muitos clubes ressurgiram e reinventaram-se...."
Na sequência da notícia da Federação Francesa de Surf e das possibilidades de abertura das praias naquele País, certamente coordenada com as diversas autoridades Francesas, FFS e clubes. E por que em Portugal a Federação Portuguesa de Surf também ter feito uma proposta para utilização das ondas, fomos saber como estão os Clubes de Surf em Portugal. Estes desempenham um papel importante por estarem no terreno, conhecerem bem a área, atletas, free surfers, hábitos, costumes e necessidades. Na verdade do ponto de vista externo com o boom das escolas de surf, os clubes “apagaram-se” um pouco.
Quais serão os motivos? Pouca competição a nível colectivo?
Pouca representação local?
Falta Dirigentes?
Fomos tentar saber junto de alguns dos principais Clubes de Surf a nível nacional.
Responde o Peniche Surfing Clube.
"Nos últimos anos houve um ressurgimento dos clubes
e um incremento da atividade dos mesmos..."
Surftotal: Nos últimos anos tem-se verificado menor actividade e visibilidade dos Clubes, concordas? Que razões existirão, pouca competição a nível colectivo?
PSC: Nos últimos anos houve um ressurgimento dos clubes e um incremento da atividade dos mesmos. Alguns clubes têm apostado forte na sua imagem, com aplicação de conceitos de gestão e marketing ao nível das melhores práticas.
A nossa perceção é que quando entrámos para a direção do PPSC, em 2012, havia muito menos atividade e organização do que há hoje nos clubes. Eram menos os clubes organizados. Da nossa parte começámos a inovar em algumas áreas, por via das metdodologia de gestão implementadas.
Muitos clubes ressurgiram e reinventaram-se. Os órgãos dirigentes renovaram-se e assistiu-se ao regresso de pessoas com muita experiência para as direções dos mesmos.
Surgiram, também clubes novos, que vieram trazer ainda mais dinâmica.
Os clubes deverão ser as referências para os agentes desportivos, escolas e as autoridades locais.
"Existem os clubes-empresa, que mais do que não são do que empresas
disfarçadas de clubes e que fazem concorrência desleal aos clubes..."
Surftotal: Como tem sido a vida dos Clubes nos últimos tempos?
PSC: Existem, basicamente, dois tipos de clubes. Os que são puramente associações sem fins lucrativos e que funcionam nessa lógica, dependentes dos municípios, do estado e de alguns patrocínios (cada vez mais escassos, pois os grandes eventos são sorvedouros de muitos desses apoios) e aquilo a que chamamos de clubes-empresa, que mais do que não são do que empresas disfarçadas de clubes e que fazem concorrência desleal aos clubes da primeira tipologia e às empresas que operam neste setor, oferecendo inclusive valores monetários a atletas para os representarem, entre muitas outras situações.
No nosso caso, enquadrados na primeira tipologia decidimos não fazer concorrência às empresas que operam na área das experiências de Surfing (exemplo surfcamps) na nossa região, pese embora pudesse ser uma importante fonte de receitas para o clube, em nossa opinião não é o core dos clubes e não deve ser o caminho a percorrer.
Estávamos em fase avançada na finalização do projeto da nossa academia com o objetivo de poder proporcionar aos nossos associados e à comunidade um conjunto de atividades tendo como base o Centro de Alto Rendimento, no entanto esta situação relacionada com o tema do Covid-19 veio atrasar o processo, mas estamos confiantes no futuro.
Vimo-nos na contingência de suspender alguns eventos e projetos muito importantes para nós e para a comunidade, o que inevitavelmente irá resultar numa perda muito grande de receitas e de grandes dificuldades de tesouraria.
2020 é um ano muito exigente. 2021 deverá ser um ano de recuperação e espera-se que 2022 deva ser um ano que traga normalidade para o nosso setor.
"Quando interditaram as praias noutros municípios, as praias de Peniche encheram-se de gente,
pois como não podiam surfar na sua região vinham para aqui..."
Surftotal: Tem havido ou está previsto algum tipo de contacto e/ou apoio de entidades desportivas a nível local e nacionais.
PSC: No momento desta entrevista desconhecemos apoios específicos para os clubes, no entanto estamos confiantes que será encontrada uma solução que ajude os clubes a ultrapassar este momento muito difícil.
"Assistimos a atletas, familiares e treinadores
a apelarem publicamente ao confinamento,
quando foram os primeiros a prevaricar..."
Surftotal: Sabendo que todas as praias têm características diferentes, considera que clubes deveriam estar de alguma forma envolvido na abertura das praias?
PSC: Os clubes são o pilar do desporto e das federações.
Devem ser os interlocutores privilegiados e a referência como parceiros privilegiados das autoridades (câmaras municipais, capitanias, forças de segurança, etc), agentes desportivos, escolas, etc.
Teria sido importante que tivessem sido consultados para esta temática.
Durante este período passaram-se muitas situações anómalas e que foram contra as indicações dadas pelas autoridades.
Quando interditaram as praias noutros municípios, as praias de Peniche encheram-se de gente, pois como não podiam surfar na sua região vinham para aqui com a justificação de que aqui haveria impossibilidade das forças de autoridade conseguirem controlar toda a nossa costa, na verdade existem muito poucos recursos humanos na policia marítima que consigam fazer face aos quase 800km de costa portuguesa. Noutros locais foi mais fácil fechando as praias.
Já em plena interdição assistimos a empresas do setor a operar em algumas praias de Peniche, o que violou claramente as regras estabelecidas e demonstrou pouco respeito pelas empresas locais, que na sua quase totalidade encerraram as suas atividades.
Assistimos a atletas, familiares e treinadores a apelarem publicamente ao confinamento, quando foram os primeiros a prevaricar.
"Nesta primeira fase apenas deveriam poder
praticar a modalidade os residentes na zona..."
Estas situações geraram um grande sentimento de revolta junto da comunidade residente, pois na sua grande maioria estiveram a cumprir as regras impostas.
Entre outras medidas e em nossa opinião, nesta primeira fase apenas deveriam poder praticar a modalidade os residentes na zona por forma a tentar conter a propagação do vírus e, posteriormente, ir abrindo de forma faseada. Talvez até se pudessem ter encontrado outras formas de implementar regras nas praias, sem se contar única e exclusivamente com a boa vontade dos intervenientes. Há sempre alguém que vai furar o esquema.
Apelamos a todos que cumpram as normas em vigor, que sejam civicamente responsáveis e que reine o bom senso. Se não soubermos gerir este período, a fatura a pagar será demasiado elevada, com impactos significativos na saúde pública e na economia.
Sem pessoas saudáveis a economia não funcionará.
Estamos confiantes numa recuperação rápida.