Jácome Correia a levantar voo durante a prova da Liga realizada no Porto. Jácome Correia a levantar voo durante a prova da Liga realizada no Porto. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas terça-feira, 28 agosto 2018 16:36

Jácome Correia: “Crescer nos Açores permitiu-me surfar praticamente todos os dias”

Mais um exclusivo com um “young gun” português… 

  

O açoriano Jácome Correia, de 19 anos, é um dos jovens surfistas a quem o futuro do surf português pertence. Aproveitando alguns dias de descanso entre provas europeias do QS, o antigo campeão nacional esperanças sub-14 e 16, títulos conquistados entre 2012 e 2014, respetivamente, dedicou-nos alguns minutos. Eis o ponto da situação possível.  

 

Fala-nos um pouco de ti e de como foi crescer a surfar nos Açores?

Comecei a surfar aos 7 anos com o meu pai. Aconteceu tudo naturalmente, o meu pai ia surfar quando podia e um dia perguntei-lhe se podia ir com ele em vez de ficar a jogar PlayStation em casa. Fomos logo comprar um fato e seguimos para a praia. Depois fui ganhando o gosto pelo surf e comecei a surfar regularmente. Crescer a surfar nos Açores permitiu-me surfar praticamente todos os dias a seguir à escola, uma vez que é tudo relativamente perto e nunca há transito ao contrário do Continente. Para além disso, o inverno nas ilhas não é tão frio como no Continente, o que facilita muito mais sair de casa e ir para a praia onde a água do mar é relativamente mais quente do que nas praias do Continente. Chego a surfar 6 meses do ano com fato curto…

 

De forma a evoluir e a participar nas melhores competições nacionais, a determinada altura as idas ao Continente passaram a ser mais regulares. Sentes que isso é essencial para um surfista das ilhas?

Quando comecei a correr o circuito nacional de esperanças ia ao Continente 5/6 vezes por ano, mas como tinha a escola em São Miguel eram viagens rápidas para não perder muitas aulas. Depois comecei a fazer uns campeonatos da Liga MEO e o Pro Junior, aí já tinha de sair da ilha mais vezes. Os professores sempre me ajudaram, disponibilizando-se para me reporem as aulas que faltava e alterar os testes. É muito importante sair das ilhas para surfar no Continente, cresci a surfar sozinho e nunca soube lidar com o crowd. Ainda hoje é complicado. Além disso não há muito nível de surf nas ilhas e no Continente há surfistas de todas as idades a surfar bem, não só é bom ver outras pessoas a surfar bem como estar ao lados delas. Entretanto, as minhas idas ao Continente foram-se reduzindo porque acabava por passar mais temporadas por lá e neste momento estou a morar em Lisboa.

 

“[a Liga] é onde os tops nacionais competem

e os surfistas mais novos têm oportunidade de estar ao seu lado”

 

- Nas ondas do norte, um carve bem expressivo e com a pressão certa. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

Como está o surf nos Açores? Melhor do que há 10 anos? Mais talentos? Mais ou menos surfistas?

O surf nos Açores tem vindo a evoluir, pelo menos em São Miguel há cada vez mais surfistas e escolas de surf, nas outras ilhas nem tanto. Sou um bocado suspeito para dizer isto, mas a minha irmã tem jeito para o surf e também temos vários miúdos que já vão aos campeonatos nacionais.

 

Quais as praias onde mais gostas de surfar, em São Miguel e no Continente?

Em São Miguel sempre que Rabo de Peixe está a funcionar vou lá. Adoro a ondas apesar de já não ser o que era antes, mas os Areais de Santa Bárbara é onde faço mais surf. No Continente sinto-me em casa quando vou a Peniche, tenho lá família e sempre passei férias por lá.

 

“Gosto de competir com mar com tamanho e com ondas com mais força"

 

- Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

A Liga MEO Surf e a Qualifying Series são as duas competições onde marcas presenças. Que objetivos até ao final da temporada?

A Liga MEO Surf não era o meu principal objetivo este ano e não tirei grandes resultados nas quatro etapas já disputadas. Quanto ao circuito QS quero principalmente conseguir fazer o meu surf, em termos de resultados quero acabar o ano no top 200.

  

Há dias o João Moreira dizia-nos que a Liga pode ser comparada a um WQS. Concordas? Porque achas que é tão difícil para os surfistas mais novos passar heats na Liga?

Concordo, os atletas do top da liga correm o QS e já contam com bons resultados nesse circuito. Acho que parte muito pelo facto de não terem a mesma experiência competitiva e por vezes parece que os juízes têm medo de soltar notas aos surfistas mais novos por não porem a mesma pressão nas manobras.

 

Fala-nos do papel e da importância da Liga MEO Surf para o surf nacional. 

A Liga MEO é o principal campeonato português, é onde todos os tops nacionais competem e onde os surfistas mais novos têm a oportunidade de estar ao lado deles e competirem com eles.

 

“Gosto de me afastar da confusão e ter um momento

só para mim antes de vestir a licra"

 

- A sair a voar no Cabedelo da Figueira da Foz, terceira paragem da Liga em 2018. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

És um surfista que gosta de sair a voar. Quais dirias serem as grandes vantagens e desvantagens do teu surf? 

Gosto de competir com mar com tamanho e com ondas com mais força, acho que isto pode ser uma vantagem. Quanto às desvantagens, a consistência. Tanto tenho um dia que me sinto a surfar muito bem como no dia a seguir as coisas parecem estar a correr ao contrário.

 

Qual o melhor surfista português da atualidade. E porquê?

O Nicolau von Rupp é talvez o surfista mais completo. Tem tubos na Irlanda ou Indonésia, ondas em Jaws e Nazaré e meio metro na Praia Grande a partir tudo. Mas o Frederico Morais é o único português neste momento entre os 32 melhores do mundo. São dois surfistas diferentes com grandes qualidades no seu surf!

 

Última questão. Um ritual que cumpras antes de entrar num heat?

Gosto de me afastar da confusão e ter um momento só para mim antes de vestir a licra.

 

- Uma rasgada na face da onda, em Leça da Palmeira, durante o Renault Porto Pro, que chamou a atenção do público. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

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Entrevista_ AF

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