Soluções aquáticas Made in Portugal
Empresa portuguesa está no mercado desde 2006...
Na indústria do surf portuguesa, não são apenas as surf shops, as pranchas de surf, os acessórios e a surfwear que se destacam. Há também uma empresa, presente no mercado há mais de uma década, que tem vindo a desenvolver produtos que, por um lado, ajudam a tornar sonhos em realidade, por outro, partilham a paixão do surf. Falamos da Wave Solutions Housings que é já uma referência internacional no campo da fotografia e vídeo aquático. Nuno Cardoso, o fundador da mesma, respondeu a todas as nossas dúvidas.
Surftotal: Para começar, fala-nos um pouco do teu background?
Nuno Cardoso: O meu contacto com o mar começou muito cedo, passados poucos dias de existência já estava na praia, pois nasci no princípio de agosto e os meus pais não perderam tempo. Penso que esta minha ligação ao mar começou aí e se prolongou todos os verões seguintes, com iniciação nas ondas com o meu pai e irmão nos clássicos colchões de ar, até à primeira prancha de bodyboard dum amigo, uma champion sem slick que rodava entre um grupo de amigos e a partir daí com o impulso duns amigos da escola, passou a ser um prática anual.
Como surge a ideia de criar a Water Solutions Housings (WS)?
Mais que uma ideia, foi uma necessidade. Na altura, em conjunto com uns amigos, tínhamos uma produtora independente de filmes de bodyboard e a vontade de filmar dentro de água e emular os filmes australianos e americanos, fez-nos passar por algumas experiências com uma caixa estanque de recreio das poucas disponíveis no mercado na altura. No entanto, o equipamento não servia bem o propósito e nem todos os modelos de câmara tinham caixa estanque disponível no mercado. Acabámos por afundar esse equipamento numa sessão na Cave e já na altura tinha custado um valor considerável. De forma a levar avante as minhas intenções, vi-me “forçado” a construir o meu próprio equipamento, para a câmara que tinha na altura e com as especificidades da captação de imagens no meio extremo das ondas. Isto tudo associado, por coincidência, à tese do final de curso de Engenharia de Materiais da FCT/UNL, onde desenvolvi, em 2006, o primeiro protótipo em conjunto com a empresa de plásticos reforçados Fibrosetil.
“A nossa missão concentra-se nos equipamentos
mais leves e hidrodinâmicos do mercado"
Como tem sido a evolução da empresa nos últimos anos?
A evolução tem sido exponencial, pois graças aos nossos clientes, equipas de patrocinados e parceiros, temos vindo constantemente a melhorar o equipamento que faz de nós uma marca e empresa de referência em todo o mundo. O nosso serviço é 100% personalizado aos requisitos do cliente onde parte da conceptualização, desenho e fabrico fica a nosso cargo, para qualquer modelo e segundo as especificidades da atividade que o cliente quer praticar.
Que tipo de materiais usam na WS? Conseguem fazer um produto 100% nacional?
Desde as resinas às fibras que compõem o corpo das caixas em forma de plástico reforçado, como a fibra de vidro, caborno ou kevlar (ramida), até às ligas metálicas de aço inox e alumínios, são diversos os materiais usados no fabrico dos nosso produtos. Ainda não é 100% nacional, mas está quase lá. Só a parte das lentes dome (cúpula) é que são feitas nos EUA devido às especificidades das mesmas, redução de aberração cromática e distorção de imagem. De resto, o produto é 100% fabricado em Portugal com muito orgulho. Temos uma indústria muito forte e seria ridículo não usar os recursos que temos à mão.
“O nosso serviço é 100% personalizado aos requisitos do cliente"
Em que dirias que a WS se destaca das demais marcas de housings?
A nossa missão concentra-se nos equipamentos mais leves e hidrodinâmicos do mercado, com base na redução do volume do equipamento, factor crucial para quem sente na pele o ambiente hostil que é estar no mar e no meio da rebentação, em locais que maior parte dos comuns mortais não arriscaria nadar, quanto mais com equipamento de alguns quilos e bastantes euros na mão.
A nossa marca destaca-se no mercado pelo facto de termos um serviço 100% personalizado e oferecermos assistência pós-venda em termos de manutenção para prolongar a vida e funcionalidade do equipamento. A minha experiência pessoal como fotógrafo oferece muito “know how”, sobre o que é necessário ter num equipamento, para estar confortável dentro de água e ao mesmo tempo ser o mais "user friendly" possível.
Há uma certa magia na fotografia aquática, é quase como surfar. Fala-nos disso…
Essa magia reflete-se da mesma forma que quando entras na água para surfar, procuras um tipo de satisfação pessoal, seja ao apanhar a maior onda, mandar aquele tubo ou uma manobra, ou simplesmente estar na água e ter aquele sentimento de realização ou pertença.
Na fotografia é exatamente o mesmo. Entras dentro de água com um objetivo e, quando o concretizas, a sensação de realização é enorme e gratificante, caso seja um “empty" ou apanhar o bodyboarder/surfista naquele preciso momento.
A melhor parte é mesmo a partilha, pois quando estás a fotografar/filmar fora da água não consegues partilhar o momento na hora com o interveniente, enquanto que na fotografia aquática segundos depois podes já estar a contemplar o resultado ou até a celebrar o mesmo, daí ser muito semelhante a surfar. Na minha opinião, acho que só melhora ainda mais a experiência de quem está a surfar e a fotografar, uma espécie de simbiose perfeita. Todos saem satisfeitos com o resultado final, só sorrisos…
“Temos uma indústria muito forte e seria ridículo
não usar os recursos que temos à mão"
Que tipo de fotógrafos e que regiões do globo recorrem mais aos vossos serviços?
Todo o tipo de fotógrafos, desde os iniciantes até aos profissionais e de todos os cantos do mundo. Maioritariamente da Europa, com incidência em Portugal e Espanha, mas uma presença forte em França, Reino Unido e Alemanha. Outros países do norte da Europa e de fora da Europa a nossa presença não é tão expressiva, mas contamos já com diversos clientes no Brasil, EUA, Argentina, México, Australia, entre outros.
Quais os fotógrafos mais mediáticos que hoje em dia usam as vossas caixas estanques? A WS tem, por exemplo, uma equipa de fotógrafos?
Temos uma equipa de fotógrafos que orgulhosamente apoiamos dentro das nossas possibilidades. Os pedidos são muitos só que, infelizmente, estamos a falar de equipamento que tem uma valor financeiro muito expressivo e de todo não conseguimos apoiar todos os projetos em que pretendíamos estar envolvidos. De qualquer forma, contamos com uma equipa espalhada pelo mundo. Em Portugal: o Ricardo Bravo que através do seu profissionalismo e workshops divulga e representa muito bem a marca; Vasco Lázaro que é um dos nossos embaixadores e o seu background industrial atribui um valioso input na conceção dos produtos; e ainda o Tó Mané. No Brasil contamos com o Fábio Dias e Lucas Gomes (Ondaskim); na Argentina o Fercho Andrada; na Austrália, Sean Cooper; e nos Estados Unidos o Manny Vargas. Basicamente, são os nossos test drivers e product testers, dos quais, além de exposição, pretendemos que testem os produtos até à exaustão e nos devolvam o feedback sobre o que melhorar, mudar, etc. Estamos envolvidos em parcerias como outros projetos, mas a título empresarial e não particular como é o caso desta equipa.
“O mais importante é ter experiência no mar
e conhecer as suas nuances"
Tendo em conta as necessidades atuais, qual o serviço mais solicitado atualmente? Vídeo ou fotografia?
Fotografia continua a ser a rainha. Aliás, o video é fruto da fotografia. Durante a nossa existência no mercado nunca o vídeo teve mais expressão que a fotografia no que toca aos clientes que procuram os nossos serviços. A tendência do mercado parece apontar para o vídeo como a plataforma favorita dos desportos de ação aquáticos hoje em dia, mas a fotografia penso ter mais simpatizantes.
Para terminar, que conselhos deixarias a quem deseja aventurar-se no mundo da fotografia aquática?
O mais importante é ter experiência no mar e conhecer as suas nuances. O instinto de prever como o mar e as ondas se comportam são a melhor ferramenta pessoal para o sucesso nesta área. Conhecer o local onde vamos entrar ajuda em muito, um pouco como surfar, quanto mais vamos ao mar e melhor conhecemos um local, mais à vontade ficamos para arriscar e ter a confiança necessária em nós próprios a fim de dar uma resposta assertiva caso as coisas não corram como planeado, pois o mar é muito mas muito traiçoeiro. Aos que não têm experiência no mar, é começar aos poucos que a evolução vem naturalmente como qualquer outra coisa na vida que praticamos com regularidade.
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Entrevista_ AF