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JOÃO DE MACEDO E A EXPERIÊNCIA DO NAZARÉ CHALLENGE
Entrevista exclusiva com o atleta finalista do BWT da Praia do Norte…
No início desta semana fomos falar com João de Macedo, big wave surfer português de 39 anos que no passado dia 20 de dezembro participou no Nazaré Challenge, o primeiro evento do Big Wave Tour da WSL a ser realizado em Portugal. A sua brilhante prestação nas ondas da Praia do Norte não passou despercebida do foco internacional e resultou mesmo num fantástico terceiro lugar. Eis então, em exclusivo, como é apanágio da Surftotal, tudo o que há a saber sobre tão mediática e intensa jornada na Praia do Norte.
Para além de ser um evento histórico realizado no nosso país, o Nazaré Challenge mudou também o paradigma no surf de ondas grandes a nível internacional?
João de Macedo: Sem duvida, foi um evento muito importante para o futuro do surf de ondas grandes em Portugal, mas, realmente, a nivel internacional levantou-se a fasquia do que é possível fazer no surf de ondas grandes de remada. A Praia do Norte é um lugar muito especial e muito intenso, uma autêntica arena que testou os melhores surfistas de ondas grandes do Mundo e puxou os limites do que é possível.
Neste momento fazes parte do top 10 do ranking no Big Wave Tour. O que será preciso para ficares dentro do circuito em 2017?
Se o circuito acabasse em março e não houvesse Todos Santos, no México, estaria qualificado. Porém, como também continuo sem apoios para correr o mundial, seria difícil lá chegar. Ainda decidi reinvestir o meu prize money do Nazaré Challenge para lá chegar, mas não é sustentável a este nível não ter quaisquer apoios do meu país para representar Portugal. Não posso pensar muito nisso, porque realmente entristece-me imenso em relação ao estado do surf português não apoiar melhor os surfistas.
Consegues explicar o drop na final que quase completaste e poderia ter dado a vitória?
Foi incrível ter conseguido entrar naquela onda. Só isso deu-me uma alegria enorme... Foram dois "air drops" na mesma onda a uma velocidade incrível. Tentei tudo, mas aguentei. Para o próximo ano, parte do meu treino funcional com o Zé Pedro no seu estúdio no Estádio Nacional (Federação Portuguesa de Golfe), vai ser treinar ainda mais os meus reflexos e reações para este tipo de drop que, por enquanto, está para além do limite! Em todo o caso foi das coisas que sinto que treinei, mas onde posso especificar ainda mais o treino complementar no ginásio.
Como te preparaste para uma prova deste calibre?
Tive a alegria e a honra de me preparar com o teu irmão! O Zé Seabra que se ofereceu para ajudar-me na preparação para o Nazaré Challenge e que foi algo muito especial de auto-confiança que ele ajudou a reforçar, desenvolvendo exercícios e acompanhando todo o processo físico de preparação, yoga e treino funcional. Foi um ano difícil com muitos problemas e "bad vibes" na Surf Academia, a minha empresa de ensino de surf, o que complicou a minha assiduidade em certas alturas, mas nunca desisti e continuei sempre a treinar o melhor que podia, sem deixar que o mau ambiente dos empregados da escola me levasse a baixo. No final consegui! Porque, acima de tudo, a este nível, a preparação é mental e aí o Zé deu-me uma ajuda enorme com o espírito dele, as ferramentas de psicologia desportiva e humana e, acima de tudo, também uma grande paixão pelo surf de ondas grandes e o surf de alta performance.
"O que sinto agora é que estamos mais uns passos à frente e é só uma
questão de tempo até ser eu o vencedor do Nazaré Challenge ou pelo menos outro português!"
Como explicas que a tua prestação tenha superado as expetativas de todos nós?
Não me conhecem! (risos) Infelizmente, como tenho uma personalidade um bocado desligada e distraída, as pessoas pensam que não me esforço para atingir os meus objetivos ou pensam simplesmente que quando estive três anos no Mundial de Ondas Grandes foi pura sorte, ou então que as minhas performances em Mavericks foram por acaso ou que o surf de ondas grandes é para malucos. Enfim, não conhecem... porque quem me conhece, sabe bem que com os apoios certos e o contexto adequado, eu, como outros surfistas portugueses de ondas grandes, podemos realmente elevar bem alto a nossa bandeira nos palcos internacionais. São muitos anos dedicados a 100% ao surf, a estar nos maiores palcos de surf de ondas grandes, mas fico muito feliz e agradecido por ter tido a oportunidade de ter superado as expetativas e de aceitar a pressão dessas mesmas expetativas. Como diz o Zé: "Sentir pressão é uma honra. É sinal que estamos a fazer algo especial e intenso."
Surfistas como Billy Kemper, que venceu em Jaws o ano passado, ou Greg Long, que dispensa apresentações, entre outros, não estavam de todo à-vontade naquele mar. A Nazaré intimida qualquer um?
Qualquer um fica intimidado com a dimensão, a força e quantidade de ondas gigantes que a Nazaré produz! A partir daí temos que nos preparar, dia após dia, swell após swell, na Praia do Norte. Ganharmos experiência no próprio local faz uma grande diferença.
Por outro lado, tu próprio, Jamie Mitchell, Carlos Burle e Nic Lamb foram uns autênticos “animais”. A nível psicológico o que faz a diferença naquelas condições?
Tudo surfistas que, além da preparação para ondas gigantes "normal", ou seja, cada um de nós prepara-se para estas situações extremas de forma diferente e temos técnicas de enfrentar os nossos medos diferentes, mas todas em torno de fazer isso mesmo: enfrentar o nosso medo, para conseguir produzir performances. No entanto, na Nazaré a experiência do local conta muito e todos os que estávamos na final investimos muitas horas na Praia do Norte. Hoje em dia, muitos surfistas internacionais passam temporadas de 6 semanas, 2 meses a treinar na Nazare - e foi com essa intenção que o EDP Mar Sem Fim apostou num hangar, numa parceria com a Câmara Municipal da Nazaré e o Centro de Alto Rendimento da Nazaré para dar melhores condições aos portugueses wildcards no campeonato. Como disse antes, ainda falta um bom bocado para haver melhores apoios a estes projetos e por conseguinte melhores apoios aos surfistas portugueses de ondas grandes. O que sinto agora é que estamos mais uns passos à frente e é só uma questão de tempo até ser eu o vencedor do Nazaré Challenge ou pelo menos outro português!
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Entrevista: Bernardo “Giló” Seabra