"A última manobra na onda de 7.27 na final do CT de Morgan Cibilic em Rotttnest não deveria ter sido considerada." sexta-feira, 04 junho 2021 14:03

"A última manobra na onda de 7.27 na final do CT de Morgan Cibilic em Rotttnest não deveria ter sido considerada."

Pedro Barbosa faz uma análise reflexão sobre a última etapa da perna australiana do Championship Tour da World Surf League...

 

*Por Pedro Barbosa

Finalmente um evento onde as condições estiveram mais próximas daquilo que se pretende do World Tour, os melhores surfistas nas melhores ondas. A isolada ilha do oeste australiano, Rottnest Island, acabou por proporcionar bons momentos de surf de alta performance e na minha opinião, a melhor prova da perna australiana. Com uma formação para a esquerda que, em certos momentos, especialmente na fase inicial da onda, fez recordar a esquerda de Lohis… que saudades de uma prova nas Maldivas, Rottnest acabou por proporcionar momentos com alguma emotividade.

 

 

 

“Rottnest Island acabou por proporcionar bons momentos de surf de alta performance,

 

com alguma emotividade”

 

 

 

 

Ítalo, Medina e Toledo a liderarem as provas...

Relativamente à competição em si, acabou por ser mais do mesmo: só dá Brasil, algo que começa a ser preocupante na primeira divisão do surf Mundial. Neste momento Estados Unidos, Austrália, Hawai, Europa e África do Sul não produzem talentos com a capacidade e a competitividade suficiente que o circuito necessita, tornando o circuito por vezes demasiado “boring”.  Kanoa Igarashi parece estar num ritmo inferior aos anos anteriores. Griffin tem um estilo fantástico, mas parece ter mais sucesso nos seus divertidos vídeos no Instagram do que estar propriamente focado na conquista de um título mundial. Seria bom ter o seu irmão no tour que, aparentemente, tem um drive competitivo mais forte e poderia fazer com que os dois se elevassem para poderem fazer frente ao poderio que vem do Brasil. A minha previsão é de que os próximos surfistas a terem condições para poderem fazer frente ao trio Medina, Ítalo e Toledo serão novamente do Brasil… Da Austrália chegam as ameaças mais fortes através do Ryan e Morgan, que tem apresentado bom surf, mas nas fases mais avançadas do evento têm muito poucas hipóteses e argumentos para bater os suspeitos do costume. Slater e Ross Williams, no último Getting Heated, apontam Griffin como um potencial candidato, no entanto acho muito difícil, mesmo em Trestls, penso que seria quase impossível alguém ganhar Toledo, Ítalo e Medina no mesmo dia.

 

 

 

 

O wild-card Liam O’Brien…

Um dos indicadores que demonstra a falta de competitividade do circuito foi o facto de um wild-card, Liam O’Brien, cujo seu forte não é o surf para a esquerda, com uma performance regular, chegar às meias-finais. Para que não fique uma ideia errada, o Liam é um excelente surfista e vai ser claramente um dos nomes de que vamos ouvir falar, mas neste evento o surf que praticou não trouxe qualquer novidade à primeira divisão mundial.

 

 

Frederico Morais é o único atleta português no Championship Tour...

O nosso representante, Frederico Morais, tinha aqui uma esquerda que encaixava perfeitamente no seu surf de backside. O Kikas não teve sorte com as ondas. Num heat de poucas ondas, com pouco ritmo e de pouca qualidade, mostrou claramente que o seu backside está afiado e pronto para o levar para os lugares mais altos do ranking.

 

 

 

 

Reflexões sobre o julgamento de algumas ondas :

 

Relativamente ao julgamento, existiram três situações que merecem alguma reflexão:

 

  • Apesar de ser um resultado próximo, na minha opinião, o Miguel Pupo deveria ter vencido o heat. O seu 7.50 é pelo menos um ponto melhor que a melhor onda do Liam. As linhas limpas e fluidas do surf do Miguel fazem parecer simples pormenores que têm muita técnica envolvida. Pupo deveria ter avançado mais no evento, o seu surf tem muito mais qualidade do que estar apenas a sobreviver pela manutenção na elite.

 

 

  • A finalização das manobras tem de ser clara, o surfista tem de sair para a frente na espuma, a última manobra na onda de 7.27 na final do Morgan não deveria ter sido considerada. É importante manter a consistência no critério entre eventos. O julgamento é complexo, a existência destes erros aumenta a dúvida dos espectadores e cria mitos e suspeições que não correspondem à realidade. É por isso que é importante os erros serem discutidos de forma aberta para que a modalidade evolua e as teorias da conspiração desapareçam.

 

 

 

 

  • Na meia-final, o 8.5 do Medina está muito próximo do 6.17 do Ítalo. A do Medina devia ser um 9 e a do Ítalo, por comparação, pelo menos 3 pontos abaixo. 9 para um, 5 alto para o outro. Estas diferenças, por demais evidentes, podem conduzir a resultados errados.

 

 

 

“Medina encontrou a estabilidade emocional

 

que é necessária para alcançar os títulos de acordo com o seu potencial”

 

 

 

Medina foi, mais uma vez, o melhor surfista do evento e, para a esquerda, em ondas com força, a sua diferença, especialmente para o Ítalo, é grande. Com o surf mais versátil da prova, Medina voltou a ganhar com categoria. “Rompendo” a ligação que por vezes parecia excessiva com a sua família, tem aparentemente, trazido bons resultados, com a sua nova mulher e um treinador que foi um ex top mundial. Medina encontrou a estabilidade emocional que é necessária para alcançar os títulos de acordo com o seu potencial. Alguns media têm vindo a comentar um afastamento entre o Medina e a família. Este facto parece não estar a afetar a sua performance e com uma atitude mais “mellow” parece que será difícil alguém retirar o título mundial das mãos do Medina…. No entanto, com a final em Trestles, a minha opinião é de que tudo pode acontecer, até porque Medina tem sido especialmente feliz neste local.

 

 

 Gabriel Medina

 

Na competição feminina...

Sally Fitzgibbons teve aqui uma excelente prestação. Foi, sem dúvida, uma das melhores do evento, em conjunto com a grande Europeia Johanne Defayque que melhora a sua prestação a cada evento. Para quando uma portuguesa na 1º divisão do surf mundial? Vamos lá, talento não falta…. Estas duas surfistas proporcionaram excelentes momento de surf, com especial destaque ao comprometimento que colocam no ataque às secções críticas. Juntamente com Tatiana, estas são as três surfistas que, especialmente em condições de mar com intensidade, conseguem defrontar as normais líderes do ranking, Carissa Moore and Stephanie Gilmore.

 

 

 

 

“Para quando uma portuguesa na 1º divisão do surf mundial?

Vamos lá, talento não falta!”

 

 

 

 

Sally Fitzgibbons 

 

Em seguida, vamos para o Surf Ranch. Neste momento, não parece haver grande dúvida de que Medina e Ítalo estarão na final, falta definir os restantes três. Se Toledo conseguir lá chegar, o título mundial será com certeza definido entre eles.

 

 

“Não parece haver grande dúvida de que Medina e Ítalo estarão na final”

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