Metemos o dedo na ferida sobre umas das polémicas decisões do Pipe Masters. Metemos o dedo na ferida sobre umas das polémicas decisões do Pipe Masters. Foto: WSL/Tony Heff sexta-feira, 22 dezembro 2017 14:02

Kelly Slater provou do seu próprio veneno

Recordando aquele momento do Heat 3 do Round 5 do Billabong Pipe Masters… 

 

O Billabong Pipe Masters e o World Championship Tour da WSL terminaram na passada segunda-feira, culminando no segundo título mundial de John John Florence. No entanto, o ruído que se ouve por aí, ainda, é o episódio entre Kelly Slater e Gabriel Medina - no Heat 3, Round 5. 

 

Recorde-se que, na altura, a cerca de 10 minutos do final da bateria, Gabriel Medina, a liderar e com a prioridade, dropou uma onda para o Backdoor onde já vinha Kelly Slater a cruzar o tubo. Eventualmente, KS poderia ter conseguido a nota para entrar novamente na luta pelo primeiro lugar no heat. 

 

Vejamos: 

 

 

A situação parece clara: Medina tinha a prioridade e não teve problemas em usá-la (é para isso que servem as regras). No entanto, no campo das regras de prioridade, há uma que nos diz que mesmo que um surfista detenha a prioridade não pode simplesmente sentar-se no inside e entrar na onda do seu adversário só para o "bloquear". 

 

Analisando o vídeo, facilmente se percebe que o potencial de onda para Gabriel Medina é zero e este acaba mesmo por completar apenas o drop em frente, parecendo interessado (não significa que estivesse) numa só coisa: impedir que a onda de Kelly fosse validada. 

 

A situação incendiou o ambiente, o North Shore ficou tenso e o braço de ferro Brasileiros vs. Resto do Mundo voltou a ser tema de conversa (leia-se discussão). Tal não se deveria verificar entre amigos, mas… isto é uma competição e KS e GM não têm que ser forçosamente os melhores compinchas. E mesmo que sejam, voltamos a frisar, isto não é free surf, é um campeonato da liga profissional de surf, disputado por surfistas profissionais, definido por um conjunto de regras que neste caso específico, segundo o parecer do painel técnico, deu razão ao brasileiro em detrimento do americano - que ainda assim ficou isento de ver uma interferência assinalada uma vez que os juízes consideraram que não prejudicou o potencial de atuação do seu adversário. 

 

Com isto não estamos a pôr paninhos quentes nem a salvaguardar a posição de Gabriel Medina - provavelmente o surfista mais odiado dos últimos dias. No entanto, parece-nos óbvio, demasiadamente óbvio até, no que toca a Kelly Slater, ninguém pode dizer nada nem mexer uma palha. O Deus Todo-Poderoso do Surf é intocável. 

 

E se a situação tivesse sido inversa? Será que Kelly Slater teria hesitado? Pois sim, convençam-se disso. Esquecem-se os fãs que Kelly Slater também é ávido de vitórias, um competidor implacável e que, tal como Gabi, não tem problemas em usar os meios ao seu alcance (= regras) para atingir um fim. 

 

Recuemos alguns anos para ver Slater e Parko numa situação muito idêntica na final do Quik Pro Gold Coast 2013:

 

 

"Ah e tal, mas a situação é diferente porque neste caso o potencial da onda existe", poderão sempre argumentar os críticos de serviço. Certo! Mas no final o que fica para a história é o resultado. Kelly venceu e já todos se esqueceram como (a dropar na frente de Joel Parkinson! Ahahaha). 

 

Ao contrário de John John, parece-nos que Gabriel Medina é muito parecido a Kelly Slater, ambos surfam para vencer e não surfam simplesmente por surfar. Medina tem sede de vencer e quer conquistar o máximo de troféus que puder, nem que para isso tenha que dropar na frente de Kelly Slater no Backdoor de Pipe!

 

Não há muitos que tenham a coragem para o fazer - e logo frente ao 11x campeão do Mundo. Temos aqui alguém que é capaz de tudo para vencer. Se isso é discutível. Sim, claro que é. Se foi feio de se ver? Obviamente. Mas, sinceramente, quem ama o surf gosta de ver esta existente paixão na competição. Kelly Slater provou simplesmente do seu próprio veneno

 

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AF

 

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