A EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA PARA AS GIGANTES ONDAS DA PRAIA DO NORTE
A par e passo, a explicação científica para a formação de ondas de 30 metros…
A presença de vários big wave riders na vila da Nazaré não engana ninguém. A temporada das ondas grandes está a chegar e com ela várias equipas de tow (reboque) que visam um só objetivo: apanhar a maior onda de que há memória.
Embora ninguém esqueça o recorde estabelecido por Garrett McNamara em novembro de 2011, quando incrivelmente desceu uma onda de 23,77 metros (78 pés), a verdade é que os últimos anos têm sido bastante profícuos para uma legião de surfistas vindos dos quatro cantos do globo. No entanto, uma questão permanece na mente de muita gente:
Como se explicam as gigantes ondas que quebram na Praia do Norte?
A explicação da comunidade surfista é simples e refere que a ondulação passa de águas profundas para pouco profundas, num curto espaço, e assim acontece o fenómeno das ondas gigantes da Praia do Norte.
Já a explicação científica, embora ligeiramente mais elaborada, não deixa de ser igualmente simples e esclarecedora. Está, porém, assente em quatro fenómenos naturais. Analisando a figura A, por um lado temos a refração da onda por diferença de profundidades entre a plataforma continental* e o Canhão da Nazaré** (1).
Segue-se um desnível vertical e bastante acentuado do fundo que provoca um galgamento de um degrau topográfico (2). A súbita redução da profundidade origina que as ondas reduzam em extensão e cresçam em altura. Este processo acontece de forma gradual à medida que as ondas chegam à costa.
Segundo os peritos do Instituto Hidrográfico, também tem influência a interferência positiva entre a onda proveniente do canhão e a onda que atravessa a plataforma continental norte (3). No ponto em que se cruzam, este efeito promove o crescimento da onda (em altura, obviamente).
Por último, a corrente junto à praia que escoa de norte para sul e que dobra no cabo para o mar (4), reforçada pela enorme quantidade de água na enseada, apanha a onda no sentido contrário à sua propagação e contribui em muito para o seu crescimento.
É, portanto, o efeito combinado de todos estes processos que faz aumentar substancialmente o tamanho das ondas que dão à Praia do Norte, atingindo, por vezes, valores muito superiores aos registados ao largo da costa portuguesa, especialmente quando as ondulações são predominantes de Noroeste ou Oeste. Graças a este processo natural, uma onda de 10 metros pode ser facilmente amplificada para o dobro.
O Instituto Hidrográfico refere que o processo, que é comum a outros canhões submarinos, “destaca-se pela orientação do canhão em si e o modo como intersecta a linha de costa permitindo modificar as correntes da ondulação junto à costa, fazendo com que em certos períodos se desenvolva uma corrente forte que se opõe às ondas. Isto proporciona um mecanismo adicional para a amplificação da onda que por vezes atinge alturas extremas.”
Notas:
* A plataforma continental é a região que se estende desde costa até ao largo, onde o fundo marinho aumenta progressivamente com um declive moderado, até profundidades de cerca de 200m.
** O Canhão da Nazaré estende-se por cerca 170 km, desde profundidades abissais de 5000m até cerca de poucas centenas de metros da Praia da Nazaré, onde a parte terminal do canhão (chamada a cabeceira do canhão) chega a 150m de profundidade. A parte do Canhão da Nazaré que corta a plataforma continental constitui um desfiladeiro submarino verdadeiramente impressionante, com uma largura máxima de cerca de 6 quilómetros e paredes que descem até aos 2000m de profundidade.
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Fonte e gráfico: Instituto Hidrográfico.