"Surf, de secundário a estrutural"
Tem a palavra o presidente da FPS, em crónica no ‘Observador’.
Numa crónica escrita para o ‘Observador’, João Aranha, presidente da Federação Portuguesa de Surf, fala sobre o ‘status quo’ do desporto em termos globais e, claro está, sob o ponto de vista nacional. Palavras interessantes a ler com atenção.
Surf, de secundário a estrutural
Vivemos uma nova era na História do Surf. Surfistas de topo assinam hoje contratos milionários e chegam a receber mais do que alguns jogadores de futebol. No caso de Portugal, é interessante observar como o Surf passou de um desporto rebelde a popular e é já um elemento estrutural na sociedade.
O Surf, além de ter hoje mais praticantes e profissionais, tem mais adeptos, mais presença na comunicação social e um maior peso na economia. Associa-se à imagem de Portugal e a uma série de iniciativas sociais, promove o país internacionalmente e contribui para uma sociedade mais ativa, inclusiva e sustentável.
Segundo os dados que dispomos, os desportos de ondas contribuem com mais de 300 milhões de euros anuais para a economia, em sectores profissionalizados como a indústria de equipamentos e vestuário, a hotelaria e a formação desportiva. Só as provas internacionais em Portugal têm um impacto direto de oito milhões de euros nas economias locais e um milhão de euros anuais em impostos gerados.
Todos os anos, milhares de estadias em hotéis resultam de eventos desta modalidade, empresas de ponta produzem das melhores pranchas do mundo, enquanto pessoas de todas as idades e nacionalidades se inscrevem nas escolas de Surf que povoam as praias do país. Não há dúvida que os desportos de ondas fazem cada vez mais parte da vida dos portugueses.
Aliado ao facto de sermos um dos melhores destinos de Surf da Europa, acolhermos alguns dos principais eventos mundiais, e participamos com bons resultados nos mais importantes eventos da modalidade, estamos a tornar-nos uma potência europeia de desportos de ondas. Este posicionamento transmite uma imagem muito positiva de Portugal no estrangeiro.
O Surf é percecionado um desporto jovem, dinâmico e atrativo, o que se confirma pelos 50% de federados com menos de 18 anos e 33.5% de captação anual de novos associados. Por outro lado, os desportos de ondas praticam-se durante todo o ano, o que contribui para combater a sazonalidade do turismo no nosso país.
Além de desporto, indústria e estilo de vida, o Surf é muitas vezes aproveitado como motor de inclusão e sustentabilidade. Neste sentido, acontecem regularmente, por todo o país, ações de Surf adaptado e iniciativas com jovens desfavorecidos, que resultam de parcerias entre instituições desportivas e de solidariedade.
Entre as iniciativas inclusivas realizadas em Portugal, com o envolvimento da Federação Portuguesa de Surf, destacam-se o apoio a jovens carenciados, através da parceria com o Movimento ao Serviço da Vida, as ações de Surf adaptado para pessoas com deficiências, organizadas pelas Entidades que trabalham nesta área, ou o projeto Surf Salva, promovido pelo Instituto de Socorros a Náufragos.
Por outro lado, o Surf é um desporto de natureza e sustentabilidade ambiental. A prática desta modalidade não tem qualquer impacto ecológico e a sua promoção implica a proteção da costa e do ambiente. Trata-se ainda de uma modalidade muito benéfica para a saúde física e mental dos praticantes, em especial pessoas com necessidades especiais.
O estatuto alternativo que o Surf assumia quando surgiu em Portugal, há mais de três décadas atrás, contrasta nitidamente com o papel estrutural que começa hoje a assumir. Mais que um desporto, o Surf representa uma indústria, geradora de cadeias de valor e de empregos, e um contexto para o desenvolvimento social sustentável das comunidades. Agora, será interessante observar os próximos passos desta evolução.