Através de um comunicado de imprensa, a equipa do Allianz Capítulo Perfeito powered by Billabong deu conta se sentir "em choque com a notícia e solidária com a família e amigos de Ricardo dos Santos, a quem dirige as mais sinceras condolências. A organização do evento gostaria de salientar o enorme entusiasmo e profissionalismo com que Ricardinho aceitou o desafio de participar na prova, demonstrando a autenticidade, humildade e paixão por ondas perfeitas que sempre o caracterizaram.

“Neste momento, não falo apenas como organizador do Capítulo Perfeito. Este triste acontecimento pede muito mais do que isso”, começou por dizer Rui Costa, responsável pela organização. “Tive o privilégio de poder testemunhar toda a energia e bom espírito do Ricardinho. Do primeiro ao último momento, ele teve uma postura que fez com que parecêssemos amigos de longa data, e isso vai ficar para sempre. Como organizador e sabendo que ele é um dos maiores expoentes nas condições que procuramos para o evento, e embora o surf neste momento seja secundário, faremos a homenagem que ele merece juntamente com os seus amigos e familiares. Que a sua alma descanse em paz.”

Em substituição de Ricardo dos Santos, o surfista apurado para participar no Allianz Capítulo Perfeito powered by Billabong 2015 será o brasileiro Bruno Santos, o primeiro atleta da lista de substitutos na categoria de Surfistas Estrangeiros."

Recordamos que Ricardo acabou por falecer na tarde desta terça-feira, depois de quatro cirurgias. Segundo informações divulgadas pelo hospital regional São José, em Florianópolis, para onde Ricardinho foi transportado de emergência após o baleamento, o surfista de 24 anos teve múltiplos ferimentos no abdómen e tórax, com lesões hepáticas e vasculares gravíssimas e sucessivas hemorragias.


Ricardo tinha, ironicamente, alertado para a crescente insegurança na sua terra natal, num texto escrito em 2011, para o site waves.com, deixamos-te algumas passagens dessas palavras.

"Sou uma das milhares de pessoas que nasceram e cresceram nesse lugar abençoado por Deus, e sou também uma das testemunhas da desgraça que vem acontecendo nos últimos anos. Bons eram os tempos em que a Guarda era lugar de maconheiro, vagabundo, hippie etc. Agora, em vez disso, nós temos bandidos. Eles ficam com seus carros de som à noite toda circulando o parados no meio da praia, tocando uma música no volume mais alto possível e deixando lixo por todos os lados. Que coisa mais linda né?! Aí, você diria: “Ah, mas isso não é possível. Como a população permite uma coisa dessas? Como a polícia permite algo desse nível na ‘pérola’ do estado? Como os políticos lidam com um absurdo desses?” Eu diria que os moradores não fazem nada porque ficam com medo de tomar um tiro. E tudo isso, por estarem pedindo um pouco de paz ou simplesmente pelo fato de que esses malditos estão bêbados e de mau humor, querendo aprontar", dizia Ricardinho. "(...) A polícia não aparece durante essas badernas. A inutilidade pública não é capaz de dar as caras no meio de uma farra dessas. O que faz da Guarda o lugar perfeito, não para os bons turistas, mas sim para quem quer detonar! – continuou.

No mesmo ano, um mês depois do primeiro texto, Ricardo voltou a reclamar da violência em Guarda do Embaú. No dia 30 de dezembro, lamentou o assassinato de um morador na localidade:  "Infelizmente, aconteceu o que eu havia previsto... Mataram gente onde eu moro, felizmente não foi ninguém que eu amo e conheço. Culpa é de quem? Difícil botar a culpa em alguém, já que estamos lidando com monstros. Só o que posso fazer é rezar para que nunca seja alguém próximo"...