Bypass da Figueira da Foz finalmente avança: Governo inclui obra histórica no Orçamento do Estado de 2026
Miguel Figueira e Eurico Gonçalves foram os fundadores de um movimento que deu frutos
Depois de mais de 10 anos de luta contínua do movimento SOS Cabedelo,fundado por Eurico Gonçalves e Miguel Figueira, o Governo português incluiu finalmente no Orçamento do Estado para 2026 o concurso público para a conceção e construção do tão aguardado sistema de bypass na barra da Figueira da Foz — uma solução há muito defendida por surfistas, especialistas e associações locais como a única forma eficaz e sustentável de travar a erosão costeira a sul.
Avaliado em mais de 18 milhões de euros, o bypass — um sistema fixo de transposição de sedimentos — poderá representar a viragem definitiva para salvar praias emblemáticas como o Cabedelo, Cova-Gala, Leirosa e outras zonas severamente afetadas pela retenção artificial de areia resultante do prolongamento do molhe norte em 2010.
A notícia, avançada pelo Público, foi recebida na Figueira da Foz com entusiasmo quase “de São João”, depois de anos de trabalho cívico incansável que a SurfTotal acompanhou desde o primeiro momento.
Uma vitória histórica para o movimento SOS Cabedelo
A SurfTotal esteve ao lado do movimento desde 2009, quando Eurico Gonçalves e Miguel Figueira se uniram contra o impacto devastador do prolongamento dos molhes, que destruiu a dinâmica natural de sedimentos, agravou a erosão a sul e colocou em risco a mítica onda do Cabedelo.
Ao longo dos anos, o SOS Cabedelo:
denunciou publicamente o problema;
organizou conferências e seminários;
defendeu a tecnologia de bypass como solução estrutural;
levou o tema à Gold Coast para estudar o sistema do Rio Tweed;
participou em debates nacionais, incluindo o Movimento Milénio;
confrontou o POOC e o POC, denunciando falhas estruturais nos planos costeiros;
enviou pedidos formais ao Governo, incluindo o simbólico envio de um saco de areia recolhida a norte, representando a areia retida artificialmente.
O relatório do Grupo de Trabalho do Litoral (GTL) já havia indicado o bypass como a solução mais viável do ponto de vista técnico e económico. Agora, pela primeira vez, o Governo assume a obra como prioridade orçamental para 2026.
Porque é que o bypass é tão importante?
Restaura a deriva litoral natural, transportando automaticamente a areia que fica presa a norte.
Reforça as praias a sul, combatendo a erosão de forma contínua.
Protege ecossistemas e a paisagem, evitando soluções temporárias ou agressivas como esporões ou alimentações artificiais massivas.
Melhora as condições de surf, recuperando a dinâmica da duna hidráulica e da praia submersa — essenciais para a formação da direita do Cabedelo.
Segundo o geólogo Renato Henriques:
“De todas as soluções, aquela que melhor replica a natureza é o bypass.”
A Universidade de Aveiro chegou à mesma conclusão no estudo encomendado pela APA.
Uma década de resistência e visão
Para entender a importância deste avanço, é impossível esquecer o percurso do SOS Cabedelo — que se tornou referência nacional e internacional na defesa da costa.
Recordemos alguns marcos que a SurfTotal acompanhou:
2010–2014: A denúncia e a investigação
Prolongamento do molhe agrava erosão a sul.
Nasce o movimento SOS Cabedelo.
Primeiras conferências e seminários unem urbanistas, surfistas, geólogos e ambientalistas.
Visita à Austrália e estudo do sistema de bypass do rio Tweed.
Relatório do GTL muda o paradigma da proteção costeira no país.
2014–2023: Embates com o POOC e o POC
Miguel Figueira e Eurico Gonçalves denunciam falhas estruturais do novo Programa da Orla Costeira:
ausência de transposição sedimentar contínua;
negligência na aplicação das recomendações do GTL;
risco de soluções que comprometeriam ainda mais o litoral.
O icónico saco de areia enviado ao Ministério simbolizou esta batalha.

A concretização de um sonho coletivo
Agora, em 2025, a inclusão do bypass no OE2026 confirma que a persistência cívica pode mudar o rumo das políticas públicas.
Trata-se de um momento histórico não apenas para o SOS Cabedelo, mas para toda a comunidade surfista portuguesa, especialistas costeiros, ambientalistas e habitantes da região.
O bypass poderá ser a obra mais importante das últimas décadas na defesa da costa centro.
O que se segue?
O concurso público será lançado em 2026. Seguir-se-ão:
estudos finais de conceção,
definição técnica do sistema,
construção da infraestrutura,
e, finalmente, a entrada em funcionamento.
Se tudo correr como previsto, a reposição natural da areia poderá iniciar-se ainda antes do final da década.
SurfTotal: desde o primeiro dia
A SurfTotal continuará a acompanhar este processo de perto, como tem feito desde 2009, dando voz a movimentos cívicos, especialistas e surfistas que defendem a costa portuguesa com conhecimento, paixão e persistência.
A vitória é deles — mas também de todos nós.





