"O surf para mim é felicidade" - Francisco Almeida reflecte sobre o seu resultado no Azores Airlines Pro
Entrevista com Francisco Almeida e o seu treinador, Francisco "Xixo" Pereira.
No seguimento do QS 5000 Azores Airlines Pro, a Surftotal trocou algumas impressões com Francisco Almeida, o atleta que ficou em 9º lugar nesta etapa nos Açores e que foi claramente um dos surfistas que mais se destacou entre a armada lusa. Francisco Almeida tem 22 anos, é de Lisboa, e surfa há 12 anos. Há pouco mais de um ano juntou-se a Francisco Pereira, ou Xixo, como é conhecido o seu treinador no mundo do surf. Francisco tem apostado na sua profissionalização enquanto surfista, e para já, trabalha para sustentar a sua carreira. Nesta entrevista conversámos um pouco sobre a sua evolução nos últimos tempos, o papel do seu treinador nessa evolução, e importância deste resultado.
Alvaro FR/Ericeira Surf Club
Achas que o papel de um treinador é fundamental na vida de um atleta?
Eu já tive alguns treinadores. Acho que quando se é mais novo é importante, não só para a técnica mas também para termos uma pessoa que nos ajude a superarmo-nos todos os dias, que puxe por nós. Há certos dias em que não nos apetece tanto ir ao surf ou treinar, e aí são eles que puxam por nós. Neste momento a relação que tenho com o Xixo não é só para a técnica mas também para ele me ajudar a profissionalizar-me. Acho que ao longo destes cinco, seis anos, o surf tem-se vindo a profissionalizar cada vez mais. O Xixo é uma pessoa que está muito dentro do meio do surf, por isso juntei-me a ele e acho que tem tido um papel fundamental para mim, sinto-me a evoluir. Ele ajuda-me também na parte das estratégias para os heats, a ver o que realmente é importante em cada heat, a perceber o que está a pontuar mais durante a competição, o que os juízes estão a gostar mais. E ajuda-nos a ter uma referência do que estamos a fazer, se estamos ou não a evoluir, e ajuda-nos a evoluir como pessoas.
"O nosso maior foco tem sido a técnica."
Conta-nos três coisas que mudaram no teu surf deste que começaste a treinar com o Xixo.
A minha técnica, o meu à vontade em ondas maiores – isso também está um pouco relacionado com a técnica, ganhei à vontade a surfar ondas com mais tamanho, mas com a mesma performance que faria numa onda mais pequena. E a minha confiança.
É muito diferente fazer uma manobra de lip numa onda de um metro ou numa onda de dois metros para cima?
A técnica acaba por ser a mesma. Acho que aquilo que muda é a nossa confiança. Quanto mais se repete, e quanto mais se vai treinando em ondas maiores, mais à vontade se ganha.
E como é que o Xixo te ajudou a melhorar isso?
Acima de tudo acho que foi a técnica. Tem sido o nosso maior foco.
"Tenho como objectivo no próximo ano conseguir chegar ao Challenger Series."
WSL / Masurel
Esta prova é importante para ti porquê?
Porque já vai contar para a qualificação do próximo ano. Tenho como objectivo no próximo ano conseguir chegar ao Challenger Series. Com este resultado pode ser que assim seja, com o 9º lugar que obtive, e os pontos que isso me deu vão me ajudar a começar bem o ano.
"Nunca há duas ondas iguais."
O que é que o surf significa para ti?
O surf para mim é felicidade. Todas as ondas são diferentes, todos os dias podemos fazer coisas diferentes, nunca há duas ondas iguais e trazem sempre uma sensação diferente, e diferente para melhor.
Acompanhas a Surftotal?
Sim. Já fiz algumas entrevistas para a Surftotal, acompanho o site desde que tenho uns dez anos, e gosto muito. Costumo visitar para ver o que se vai passando no mundo do surf em Portugal.
Ericeira Surf Clube
A Surftotal também teve a oportunidade de conversar um pouco com o treinador do Francisco. Francisco "Xixo" Pereira tem 30 anos e começou a surfar por volta dos 10, tendo iniciado a carreira como treinador aos 21. Perguntámos-lhe sobre os essenciais da relação treinador-atleta, bem como a importância do resultado do Francisco no Azores Airlines Pro
Quais são as principais características que devem existir para um bom relacionamento entre o atleta e o treinador?
O essencial é haver uma relação de amizade por trás da relação treinador-atleta. Nós enquanto treinadores vamos ter que estar presentes para chamar a atenção e no fundo trazer o atleta à realidade. Quando lidas com um atleta lidas com um ego muito grande, e tu tens que os chamar à realidade para mantê-los com os pés na terra. Às vezes basta um heat correr bem, fazem duas ondas de 8, são o destaque da prova, no dia seguinte é meio caminho andado para perderem no próximo heat. Porque são todos muito bons, e o que os faz realmente passar baterias é o foco e a concentração naquele momento. Não é fácil, todos surfam muito, é fácil chegar aí um e meter dois, três aéreos, fazer um 9 pontos. No heat a seguir vai já com essa moral toda. Mas não, nós estamos a lidar com o mar, estamos a lidar com outras pessoas que também são muito boas. Tu tens que não só surfar mais que o outro como garantir que estás mais forte na escolha de ondas, no jogo de prioridades, fisicamente, mentalmente, é fundamental.
"Este resultado é o culminar de um ano muito duro."
Podes falar um pouco sobre o resultado do Francisco?
Este resultado acaba por ser o culminar de um ano muito duro, não vamos esconder. Salvo erro, perdemos quase todos os campeonatos de primeira. Mas também tenho perfeita noção que eu e o Francisco estamos juntos há um ano e meio e era preciso uma mudança muito grande, uma profissionalização do Francisco como atleta, e o nosso foco era mesmo este final de ano. Ou seja, de certa forma podemos dizer que a época nos correu bem porque o nosso olho estava já na próxima época, e esta foi a primeira prova dessa nova época.