O ciclo da água refere-se ao sistema complexo através do qual a água se move em torno da Terra. A água evapora do solo - incluindo de lagos, rios e plantas - e sobe para a atmosfera, formando grandes rios de vapor de água capazes de percorrer longas distâncias, antes de arrefecer, condensar e eventualmente voltar a cair no solo como chuva ou neve.

O clico natural da água.

A humanidade desequilibrou o ciclo global da água “pela primeira vez na história da humanidade”, alimentando um desastre hídrico crescente que causará estragos nas economias, na produção de alimentos e nas vidas, de acordo com um novo relatório histórico.

Décadas de uso destrutivo da terra e má gestão da água colidiram com a crise climática provocada pelo homem, colocando “stress sem precedentes” no ciclo global da água, afirma o relatório publicado na quarta-feira pela Comissão Global sobre a Economia da Água, um grupo de líderes internacionais e especialistas.

As perturbações no ciclo da água já estão a causar sofrimento. Quase 3 mil milhões de pessoas enfrentam escassez de água. As culturas estão a murchar e as cidades estão a afundar-se à medida que as águas subterrâneas por baixo delas secam.

 “Pela primeira vez na história da humanidade, estamos a desequilibrar o ciclo global da água”, disse Johan Rockström, co-presidente da Comissão Global sobre a Economia da Água e autor do relatório. “Já não se pode confiar na precipitação, a fonte de toda a água doce.”

O relatório diferencia entre “água azul”, a água líquida em lagos, rios e aquíferos, e “água verde”, a humidade armazenada nos solos e nas plantas.

Embora o fornecimento de água verde tenha sido negligenciado há muito tempo, é tão importante para o ciclo da água, diz o relatório, uma vez que regressa à atmosfera quando as plantas libertam vapor de água, gerando cerca de metade de toda a precipitação sobre a terra.

A desflorestação é um factor critico para a instabilidade criada

As perturbações no ciclo da água estão “profundamente interligadas” com as alterações climáticas, concluiu o relatório.

Um fornecimento estável de água verde é vital para sustentar a vegetação que pode armazenar carbono que aquece o planeta. Mas os danos infligidos pelos seres humanos, incluindo a destruição de zonas húmidas e a destruição de florestas, estão a esgotar estes sumidouros de carbono e a acelerar o aquecimento global. Por sua vez, o calor alimentado pelas alterações climáticas está a secar as paisagens, reduzindo a humidade e aumentando o risco de incêndio.

A crise torna-se mais urgente devido à enorme necessidade de água. O relatório calcula que, em média, as pessoas precisam de um mínimo de cerca de 4.000 litros (pouco mais de 1.000 galões) por dia para levar uma “vida digna”, muito acima dos 50 a 100 litros que as Nações Unidas dizem serem necessários para as necessidades básicas, e mais do que a maioria das regiões será capaz de fornecer a partir de fontes locais.

As atividades humanas “estão a alterar a estrutura da nossa terra e do ar acima do qual está a aquecer o clima, a intensificar os extremos húmidos e secos, e a desequilibrar os padrões de vento e chuva”

A crise só pode ser enfrentada através de uma melhor gestão dos recursos naturais e de cortes maciços na poluição que provoca o aquecimento do planeta

Os autores do relatório afirmam que os governos mundiais devem reconhecer o ciclo da água como um “bem comum” e abordá-lo colectivamente. Os países dependem uns dos outros, não só através dos lagos e rios que atravessam as fronteiras, mas também por causa da água na atmosfera, que pode percorrer distâncias enormes — o que significa que as decisões tomadas num país podem perturbar as chuvas noutro.