Quanto ganham os medalhistas olímpicos? quinta-feira, 01 agosto 2024 13:19

Quanto ganham os medalhistas olímpicos?

Há muitos fatores em jogo que influenciam o que ganham (ou não) os atletas. 

 

 

Talvez não seja de conhecimento geral, mas, devido ao facto de os Jogos Olímpicos terem tido origem numa competição amadora que visava promover o sucesso atlético e o espírito desportivo, o Comité Olímpico Internacional (COI) não paga nenhum bónus financeiro aos atletas que ganham medalhas nos Jogos Olímpicos. Significa isto que os medalhistas olímpicos são recompensados apenas com o reconhecimento das medalhas? 

Depende. Mas, para começar: se o COI não paga os atletas vencedores, o que faz com o dinheiro?

As receitas do COI são distribuídas por vários lugares, com o objetivo de ajudar a desenvolver o desporto e os atletas. Segundo um comunicado enviado para a CNN, “O COI redistribui 90% de todas as suas receitas, em particular para os Comités Olímpicos Nacionais (CON) e para as Federações Internacionais (FI)”. Quer isto dizer que, "todos os dias, o equivalente a 4,2 milhões de dólares (3,9 milhões de euros) vai para ajudar atletas e organizações desportivas a todos os níveis em todo o mundo. Cabe a cada FI e CON determinar a melhor forma de servir os seus atletas e o desenvolvimento global do seu desporto.”

Mark Conrad, professor de direito e ética na Gabelli School of Business da Universidade de Fordham, acredita que, nos Estados Unidos, este será o modelo que continuará em prática. “Não vejo o dia em que todos os atletas olímpicos serão pagos pelo COI, porque o COI nunca pensou neles como uma força de trabalho - o que, de certa forma, eles são, porque estão a proporcionar entretenimento para um público de massas, bem como a querer competir e ganhar medalhas”.

 

 

 

Este ano, atletas de atletismo receberão pela primeira vez prémios em dinheiro pelas medalhas de ouro

 

Apesar do que foi acima explicado, o organismo que gere o atletismo - a World Athletics (WA) - fez um anúncio surpresa em Abril deste ano, em que revelou que vai atribuir prémios monetários aos medalhistas de ouro desta modalidade. Será o primeiro organismo internacional de gestão do desporto a tomar esta medida, tendo reservado um prémio de 2,4 milhões de dólares (2,2 milhões de euros) da quota-parte das receitas do COI que recebe de quatro em quatro anos para recompensar os atletas.

Assim, os medalhistas de ouro nas 48 provas de atletismo em Paris receberão 50.000 dólares (46.000 euros) e as equipas de estafetas receberão o mesmo montante para partilhar entre os atletas. A WA afirmou que pretende alargar esta iniciativa iniciativa aos medalhistas olímpicos de prata e bronze nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.

A resposta a esta medida variou. A Associação das Federações Internacionais dos Jogos Olímpicos de verão (ASOIF) afirmou ter “várias preocupações” sobre a iniciativa, argumentando que a introdução de prémios monetários “mina os valores do Olimpismo e a singularidade dos Jogos”. Em comunicado, a ASOIF argumentou que “não se pode nem se deve atribuir um preço a uma medalha de ouro olímpica e, em muitos casos, os medalhados olímpicos beneficiam indiretamente de apoios comerciais. Isto não tem em conta os atletas menos privilegiados que estão mais abaixo na classificação final.”

Em Maio, a Associação Internacional de Boxe (IBA) fez um anúncio semelhante: irá distribuir recompensas financeiras num total de mais de 3,1 milhões de dólares (2,8 milhões de euros) nas competições de boxe. Os medalhistas de ouro receberão 100.000 dólares (92 mil euros) da IBA, com o atleta a receber metade e o CON e o treinador do atleta a receberem 25.000 dólares (23 mil euros) cada. Os medalhistas de prata receberão 50.000 dólares (46 mil euros), com o atleta a receber 25.000 e o restante dividido igualmente entre o técnico e o CON. Para uma medalha de bronze, a IBA distribuirá 25.000 dólares, dos quais 12.500 (11.500 mil euros) para o atleta.

“Os nossos atletas e seus esforços devem ser apreciados”, justificou o presidente da IBA, Umar Kremlev, em comunicado. “A IBA oferece oportunidades e investe consideravelmente nos seus pugilistas, eles permanecem como o ponto focal, e nós continuaremos a apoiá-los em todos os níveis.”

 

 

 

Outros meios de ganhar dinheiro

 

Mas ainda existem outras formas de os atletas ganharem dinheiro com os Jogos Olímpicos. Thomas Bach, presidente do COI, explicou numa conferência que é  “prática comum” os atletas receberem prémios em dinheiro dos CON, de organismos governamentais ou através de patrocinadores pelas suas realizações nos Jogos Olímpicos. Recordou que, nos Jogos de 1976, ele e os seus colegas de equipa receberam dinheiro do CON alemão pela medalha de ouro que ganharam na modalidade de esgrima. 

O Comité Olímpico e Paralímpico dos EUA (USOPC) paga aos seus medalhistas 37.500 dólares (34.500 euros) pelo ouro, 22.500 dólares pela prata (20.600 euros) e 15.000 dólares pelo bronze (13.800 euros). E nos Jogos Olímpicos de inverno de 2022 em Pequim, os atletas dos EUA receberam um total de 5,6 milhões de dólares (5,1 milhões de euros) em pagamentos por medalhas através da “Operação Ouro”.

Bach afirma que esta prática é "correta e comum à décadas", explicando que “Os CON devem utilizar este dinheiro para fornecer aos Jogos Olímpicos os melhores atletas da sua delegação nacional e apoiá-los para que possam competir ao mais alto nível possível nos Jogos”, sustentou Bach. “E fazem-no e muitos deles recompensam os atletas com prémios em dinheiro pela conquista de medalhas, diplomas ou outros."

“O papel das federações desportivas, de acordo com este entendimento comum, é o de envidar todos os esforços para tentar, pelo menos, reduzir o fosso entre os atletas oriundos de países ou NOC privilegiados e os oriundos de países ou NOC menos privilegiados. São, desta forma, parte do esforço de solidariedade do COI para fazer tudo para criar, da melhor forma possível, condições iguais para todos os atletas do mundo e para os ajudar a desenvolverem-se e a terem bons treinadores e boas condições de treino”, defendeu ainda Bach.

 

 

 

 

 

 

 

E em Portugal?

 

Em 2021, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Pedro Pablo Pichardo, campeão olímpico no triplo salto, recebeu 50 mil euros pelo ouro. Patrícia Mamona, vice-campeã na mesma modalidade recebeu 30 mil euros pela conquista da medalha de prata. O canoísta Fernando Pimenta e o judoca Jorge Fonseca receberam 20 mil euros cada um pelo bronze, o primeiro em K1 1.000 metros e o segundo no judo, na categoria -100kg.

A Portaria n.º 332-A de 2018, que estabelece estes valores, prevê ainda um bónus de 15 mil euros, “acumulável” com o prémio da medalha para os atletas que baterem recordes olímpicos, paralímpicos ou mundiais. Para recordes europeus, esse bónus é de 10 mil euros. 

 

 

 

Patrocínios e desigualdades

 

Mas mesmo com esta visão do COI, há ainda desigualdades presentes nos Jogos Olímpicos. Conrad explica, por exemplo, que o dinheiro que chega aos atletas através de patrocínios contribui para esse desequilíbrio. “Conseguir esses patrocínios não é fácil. Quero dizer, é preciso ser do nível de Simone Biles ou Sha'Carri Richardson para conseguir um dinheiro significativo de patrocínio”, explica. De acordo com a Forbes, Biles ganha 7 milhões de dólares (6,4 milhões de euros) com patrocínios. 

“O que por vezes as empresas fazem, e isso depende muito do nível em que a pessoa se encontra, é que o acordo de patrocínio será um equipamento gratuito e alguns eventos promocionais, mas não muito dinheiro. E o mais provável é que sejam os campeões olímpicos a conseguir um patrocínio por muito dinheiro.”

 

 

 

 

 

 

 

 

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