A estação de ski Trojena vai ser um elemento central no projeto de 500 mil milhões de dólares da Arábia Saudita, Neom. Prevê-se que venha a ser um espaço altamente futurista e fantástico, que tem sido recebido de forma positiva. A estância de ski funcionará durante todo o ano, graças às máquinas de fabrico de neve nos seus seis distritos. Contará com 450 residências, 1000 quartos de hotel, resorts de luxo, lojas de retalho e restaurantes.

Mas por trás da expectativa que envolve este projeto, surge um relatório da BBC que alega que as forças sauditas foram 'instruídas a matar' de forma a limpar terrenos para outro projeto de Neom conhecido como The Line.

The Line é uma cidade linear de 105 milhas projetada para não ter carros, ruas ou emissões de carbono.O príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman afirmou que esta cidade seria construída em terras não habitadas, mas a BBC detalha os protestos dos aldeões que vivem perto do projeto. O ex-oficial de inteligência Coronel Rabih Alenezi partilhou que as ordens de despejo que recebeu incluíam permissão para usar força letal contra qualquer pessoa que resistisse. "A ordem diz que quem continuar a resistir deve ser morto. Autorizava o uso de força letal contra quem permanecesse em casa”, conta. Alenezi está exilado no Reino Unido.

Abdul Rahim al-Huwaiti foi um dos opositores que não permitiu que um comité de registo de terras avaliasse sua casa em 2020. Partilhou relatos nas redes sociais do seu protesto contra o despejo, dizendo que os aldeões foram informados de que seriam presos se se recusassem a sair. Al-Huwaiti morto a tiros durante o despejo. A segurança estatal saudita rotulou al-Huwaiti como um “terrorista armado”, afirmando que disparou contra as forças de segurança e que por isso foi abatido. A reportagem da BBC mostra agora que houve mais nuance no ocorrido do que aquela que foi inicialmente divulgada.

Andy Wirth, ex-CEO e Presidente da Squaw Valley Alpine Meadows Ski Holdings na Califórnia, trabalhou temporariamente como executivo sénior no projeto Trojena. Segundo o que contou à BBC, quando ouviu falar sobre o assassinato de al-Huwaiti, tentou informar-se sobre os despejos junto dos seus funcionários. Um ano depois saiu da empresa, sem nunca ter recebido respostas satisfatórias. “Cheirava a algo terrível [que] tinha sido imposto àquelas pessoas”, diz. “Era claramente desnecessário. Foi claramente assassinato. Não se acelera o progresso humano em detrimento de outros humanos. Não pisas na garganta deles com as tuas botas para poderes avançar. Isso não é progresso humano.”