Após protestos, Comité Olímpico propõe novos planos para torre de juízes, mas locais continuam insatisfeitos
Matahi Drollet explica porquê num vídeo.
A população de Teahupo'o tem vindo a realizar vários protestos desde que a organização dos Jogos Olímpicos de Paris anunciou os planos para a construção de uma nova torre de juízes. Estes planos foram recebidos com repúdio pela população local, bem como por activistas e surfistas ao redor do mundo, que argumentam que a construção terá um impacto ambiental negativo significativo, podendo levar à destruição de parte do recife de coral e envenenar os peixes, o que por sua vez afectaria a prática da pesca, um dos grandes meios de subsistência local.
Após vários protestos, o Comité Olímpico anunciou novos planos para a construção, diminuindo o tamanho da estrutura, mas a população continua insatisfeita. O surfista do Tahiti Matahi Drollet, que tem sido uma das vozes mais activas nesta causa, explicou através das suas redes sociais que o problema não está apenas no tamanho da construção, e sim na construção em si, cuja base afectará o recife independentemente do seu tamanho.
Em um novo vídeo, Drollet explica em detalhe as razões da insatisfação com os novos planos do Comité Olímpico. "Estão-nos a mentir", diz no início do vídeo. "Parecem boas notícias, mas não é o caso". Seguem-se imagens do local onde a nova torre será construída, e o surfista diz que não acredita que a construção seja possível "sem destruir o recife".
Drollet relembra a existência da actual torre utilizada pela WSL, existente desde 2003, e passa a palavra a Mati Hoffman, que participou na construção dessa torre. "Posso afirmar com certeza que fazer 56 novos buracos no solo representa um risco considerável para os corais", explica Hoffman.
"Nenhum campeonato neste mundo vale a destruição da natureza"
A torre da WSL, segundo a organização dos Jogos Olímpicos de Paris, não cumpre os requisitos de segurança necessários. "Porque é que não podemos ver este estudo?", pergunta Drollet. "Nem o governo nem os especialistas nos querem dar esta informação, apesar das centenas de pedidos". Pergunta: "Estão a tentar esconder alguma coisa?"
Drollet assegura que todos os protestos até agora realizados foram pacíficos, apesar de, alegadamente, o presidente da Polinésia, Moetai Brotherson, ter desaconselhado a presidente da Câmara Municipal de Paris Anne Hidalgo de visitar o local, argumentando que seria arriscado. "Ouvir isto é muito ofensivo", diz. "Estamos apenas a tentar passar a mensagem de que nenhum campeonato neste mundo vale a destruição da natureza. Isso vai contra os valores do surf e do desporto no geral".
O vídeo também inclui um depoimento Titouan Bernicot, CEO da Coral Gardeners. "É difícil prever as consequências, mas é certo que haverá um impacto", explica. Bernicot acrescenta que "todos beneficiam dos corais", pois são "os pulmões e as florestas dos oceanos, e o oceano produz mais de 50% do oxigénio que respiramos". Avisa que "os recifes de coral podem desaparecer na sua totalidade até 2050" e apela aos valores dos Jogos Olímpicos. "Como vamos dizer à próxima geração que, por causa de uma competição de três dias, destruímos um dos ecossistemas mais importantes do nosso planeta?"
Drollet termina o vídeo expressando o seu medo que "o dinheiro se sobreponha mais uma vez à natureza", e pede ajuda na divulgação desta mensagem. Há uma petição a circular, que já tem 167.575 assinaturas.