Presidente da Polinésia solidário com os protestos contra a construção da torre de alumínio em Teahupo'o
"Quero acreditar que podemos encontrar soluções"
Os Jogos Olímpicos de 2024 estão cada vez mais próximos, e enquanto a grande maioria dos atletas se prepara para competir em Paris, os surfistas têm os olhos postos em Teahupo'o, onde a modalidade de surf terá lugar. Apesar de todo o entusiasmo e antecipação que este evento tem causado, o caminho até aos Jogos Olímpicos de 2024 tem sido marcado por alguma tensão, nomeadamente devido aos planos de construção de uma nova torre de juízes, que coloca em risco o recife do local.
A obra de alumínio, que custará em torno de 5 milhões de dólares, foi recebida com repúdio pela população local, bem como por activistas e outros apoiantes da causa ecológica, que têm organizado protestos para demonstrar o seu descontentamento. Os argumentos contra a construção da nova torre prendem-se com o facto de a mesma ter um impacto ambiental significativo, podendo destruir uma parte do recife de coral e envenenar os peixes, o que por sua vez afectaria a prática da pesca, que um dos grandes meios de subsistência local.
O presidente da Polinésia, Moetai Brotherson, falou com o jornal francês L'Equipe, onde mostrou compreender e solidarizar-se com os manifestantes, em relação a quem não tem "nenhum ressentimento". Afirma que ele próprio também está "muito empenhado na preservação do património ambiental e cultural".
Brotherson vê na realização da modalidade de surf no Tahiti uma enorme oportunidade económica e uma forma simbólica de celebrar o berço do surf. No entanto, reitera que esta decisão foi tomada em 2020, antes de ele se tornar presidente, e que, se tivesse sido ele a fechar este acordo, teria feito "totalmente diferente". Não só teria procurado "todas as formas de reaproveitar o que já existe", mas talvez até tivesse oferecido um local diferente para a realização da prova.
Jogos Olímpicos em Taharuu?
O presidente menciona a praia de Taharuu, em Papara, como um local mais apto para realização dos Jogos Olímpicos. Apesar de não ter o estatuto lendário que tem Teahupo'o, o local oferece uma ondulação mais constante e conta com maior infraestrutura. Além disso, Brotherson considera que, quanto ao estudo de impacto ambiental, houve erros de comunicação por parte das organizações dos Jogos Olímpicos 2024. "Numa primeira resposta, dissera: sim, foi feito", explica. "Mas no final da reunião disseram: não, na verdade não foi feito um estudo de impacto ambiental e sim um aviso ambiental com monitoramento".
"Uma das maiores críticas hoje é a total falta de comunicação e inclusão da população local por parte da antiga equipa gestora", reconhece o actual presidente. Por isso, afirma que, se já estivesse em funções aquando desta decisão, teria agido de forma diferente, e agora está disposto a dialogar e procurar soluções. "Expliquei ao COI que não podemos fazer estes Jogos contra a população. Temos que fazer esforços para chegar a estes manifestantes, tranquilizá-los e dizer-lhes que estamos de facto a estudar as propostas que apresentam".
Há alternativas à construção da torre de alumínio?
Há, no entanto, desafios técnicos nas propostas apresentadas pelos manifestantes. Uma delas é a reutilização da torre de juízes usada pela WSL na realização dos seus eventos, que actualmente não está dentro dos padrões de segurança exigidos pelos Jogos Olímpicos, e há a preocupação de que não haverá tempo para rectificar essa situação. Também se levanta o problema de ser um evento maior, necessitando de uma estrutura que abrigue mais pessoas. Já que os Jogos Olímpicos são transmitidos para a televisão, a torre teria necessidades mais complexas que, no momento, não existem na torre da WSL.
A outra proposta apresentada é a construção da torre em La Pointe, algo inviável visto que isso faria com que a torre ficasse a 750 metros de distância da onda, e mesmo com as tecnologias disponíveis, esta distância impossibilitaria o julgamento.
Ainda assim, Brotherson quer encontrar um caminho possível, afirmando que, se for construída a nova torre de alumínio, "a situação pode piorar" com os manifestantes. O presidente vai viajar para Teahupo'o no próximo dia 5 de Novembro para dialogar, confiando no seu espírito "naturalmente otimista". "Quero acreditar que, desde que as pessoas tenham capacidade para discutir, podemos encontrar soluções. As pessoas, mesmo as mais extremas, são aquelas com quem quero falar".