Hoje em dia, ainda olhamos para Kelly Slater como um caso caricato de alguém que brilhantemente desafia as ideias pré-concebidas sobre qual é a idade adequada para se ser um desportista de topo. Mas será que estamos a caminhar para uma realidade em que casos como o de Slater não são assim tão fora do normal?

É uma resposta difícil de prever, mas alguns estudos académicos mostram que, na Austrália, a comunidade surfista sofreu alterações profundas, com o pico da participação agora entre os 45 e 49 anos para os homens e os 35-44 anos para as mulheres. Os estudos apontam para a pandemia como um dos factores que pode ter contribuido para essas alterações - é estimado que cerca de 200 000 pessoas, 78 000 das quais mulheres, começaram a surfar durante a pandemia, por ser um desporto ao ar livre que possibilita o distanciamento.

Craig Sims, da Bond University, encara esta situação como uma oportunidade para os negócios que giram à volta do surf repensarem as suas estratégias. "O surf já não é um desporto de jovens inextricavelmente ligado à cultura da juventude", explica. "Se não aceitarem isto, as marcas vão perder a oportunidade de criar ligações importantes com uma parte significativa e crescente do mercado". Sims argumenta que negócios como piscinas de ondas devem ter esta nova demográfica em atenção. "Há potencial para operadores do turismo de surf encontrarem um novo tipo de cliente,  adaptando as viagens para surfistas iniciantes que não têm a habilidade para surfar nos reef breaks rasos que costumam estar associados a localizações remotas e exóticas". 

O número de mulheres no surf está a aumentar

Também houve um aumento muito significativo da participação nas mulheres no desporto. Entre os adolescentes, o número de surfistas mulheres é quase igual ao número de homens. Sims defende que esta realidade fará com que as normas associadas ao surf, um desporto até hoje visto como masculino e dominado por homens, comecem a mudar.

"As normas sociais vão evoluir à medida que os surfistas se adaptam a um line-up mais inclusivo, com mais tolerância e respeito nas interações entre surfistas homens e mulheres", prevê. Outros dados mostram que, numa escala global, as mulheres ainda representam apenas 14.9% da população, e que a idade média para o surf recreativo no mundo é 34 anos.