Com o retorno do El Niño em 2023, a subida da temperatura do mar pode ter efeitos sem precedentes no clima Jurgen Freund/NPL/Minden Pictures terça-feira, 17 janeiro 2023 10:27

Com o retorno do El Niño em 2023, a subida da temperatura do mar pode ter efeitos sem precedentes no clima

 Ao El Niño juntam-se os efeitos das mudanças climáticas.

 

 

Cientistas apontam para o regresso do fenómeno El Niño em 2023, o que levará a "ondas de calor sem precedentes". O fenómeno El Niño, como explicado pelo IPMA, consiste no "aquecimento anómalo das águas superficiais do sector centro-leste do Oceano Pacífico, predominantemente na sua faixa equatorial"; um "fenómeno oceano-atmosférico que afecta o clima regional e global, e que afecta a circulação geral da atmosfera", sendo "responsável por anos considerados secos ou muito secos". Caracteriza-se "por variações na atmosfera sobre a região de águas aquecidas" e " ocorre em intervalos médios de 4 anos e persiste de 6 a 15 meses". 

Os cientistas acreditam que é "muito provável" que o planeta ultrapasse os 1.5°C de aquecimento. O ano mais quente de que se tem registo foi 2016, e foi causado por este fenómeno. 2022 terá sido o quinto ou sexto ano mais quente de que se tem registo, e prevê-se que 2023 seja ainda mais quente. Contudo, os efeitos do El Niño demoram meses a fazer-se sentir, pelo que se espera que apenas em 2024 sejam quebrados recordes de temperatura. 

Regiões no Pacífico Ocidental, como a Austrália e a Indonésia, "experienciam condições mais quentes e mais secas" durante o El Niño. A Austrália, por exemplo, corre o risco de sofrer ondas de calor severas, secas, e incêndios. Na Índia e no Sul da África, pode haver escassez de chuva, enquanto no Este da África e no Sul dos EUA, pode haver mais chuva e mais cheias. A Amazônia, na América do Sul, pode ficar ainda mais seca, sendo que "já está a alcançar o seu limite". 

 

 

Os oceanos estão mais quentes do que nunca

 

Os efeitos do El Niño são exacerbados pelos restantes efeitos das alterações climáticas, que se fazem sentir cada vez mais. É de notar que no ano passado a elevada temperatura dos oceanos já tinha quebrado o recorde por ser a mais quente desde que há registo. A temperatura dos oceanos tem enorme influência nas alterações climáticas e nas condições atmosféricas: quanto mais quente o mar, mais tempestades, mais humidade no ar, o que leva a mais chuvas e a mais cheias. 

O aumento da temperatura dos oceanos é, em grande parte, obra humana, visto que o oceano absorve até 90% da temperatura que advém da emissão de gases com efeito de estufa, algo pelo qual os humanos são amplamente responsáveis. Apesar de só haver registos consistentes da temperatura do mar há cerca de 80 anos, é provável que os oceanos estejam mais quentes agora do que alguma vez estiveram em 1000 anos. 

Um estudo publicado este mês em Advances in Atmospheric Sciences concluiu também que a camada de água mais quente na superfície do oceano está a ficar mais profunda, o que pode levar "à formação maior e mais rápida de furacões".

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