Barbuda é uma ilha nas Caraíbas, conhecida pelo seu carácter isolado e as suas paisagens paradisíacas. É também a casa de uma onda tubular perfeita, cuja localização foi por muito tempo mantida em segredo. A razão para ter perdido o seu estatuto de secret spot é simples: a ilha está sob ameaça, e para poder abordar o problema, era necessário dar nome aos bois. 

O surfista Alex Botelho fez a seguinte descrição da onda: "Se me pedissem para descrever a onda perfeita, acho que não seria tão boa como esta. Não sou capaz de pensar numa onda tão perfeita."

Mas o que se passa afinal com a ilha Barbuda? Não é um tema necessariamente novo, mas tem-se tornado cada vez mais alarmante: a construção de novos resorts, campos de golfe, e uma nova pista de pouso por parte de forças bilionárias do exterior estão a interferir não só com o meio ambiente mas também com os direitos dos habitantes da ilha. Por trás destes projectos estão nomes como o do actor Robert DeNiro ou John Paul DeJorja, dono do Barbuda Ocean Club. Ironicamente, DeJorja é um dos principais doadores da Sea Sheperd, a ONG focada na preservação da vida marinha, tendo mesmo um navio da organização com o seu nome. 

Impacto ambiental

Não é difícil compreender como este tipo de projectos afecta ecossistemas. O Barbuda Ocean Club de Palmetto Point, ainda em fase de construção, por exemplo, está a ser construído em cima de uma área protegida. A Abercorn Residence, cuja construção ainda não foi aprovada, seria uma mansão também construída numa área protegida, próxima ao maior santuário de aves de Frigate da região. E a construção de uma pista de pouso, já em andamento, para facilitar o acesso a todos estes resorts, está a decorrer sem os estudos científicos necessários.

Pela sua geografia, a ilha Barbuda está sujeita a tempestades, furacões e cheias, eventos imprevisíveis que tendem a piorar com as alterações climáticas. Ecossistemas intactos são capazes de se adaptar a estes eventos, fornecendo mesmo alguma protecção para as infraestruturas humanas. As construções na zona costeira colocam essa protecção em causa e colocam em risco toda a população.

Quanto à onda, é sabido pelos surfistas que qualquer alteração, por menor que seja, pode alterar a sua formação e destruir aquilo que Alex Botelho descreve como perfeição. Outros problemas serão a privatização da praia, dificultando (ainda mais) o acesso à onda, ou a poluição da costa e do mar, impossibilitando o usufruto das mesmas.  

Direitos Humanos

Em 2017, quando a ilha foi assolada pelo Furacão Irma, os habitantes foram evacuados, e foi na sua ausência que a nova pista de pouso começou a ser construída. O afastamento da população no meio de uma tragédia para iniciar um projecto que de outra forma teria sido protestado pelos locais não é, contudo, a única violação de direitos desta história, nem a mais grave.

Depois de ter sido abolida a escravatura em 1834, o território foi reclamado de volta por todos os cidadãos da ilha, e a partir de então, qualquer projecto de larga escala tem que ser aprovado por uma grande maioria de cidadãos. Este é um dos únicos lugares do mundo que adopta este sistema, e recentemente têm sido feitos esforços políticos para alterar a legislação, de modo a facilitar construções como as listadas acima. 

A ilha Barbuda é um dos muitos exemplos em que o interesse de poucos se sobrepõe à necessidade de combater as alterações climáticas e proteger o que ainda sobra para proteger, de modo a garantir o bem-estar e segurança das populações, e, mais uma vez, o surf encontra-se inevitavelmente dentro da discussão. Para mais inormações, e para saberes o que podes fazer para ajudar, clica aqui.