Em 2004, John Vidal, ex-editor do The Guardian, viajou para Mayibout para investigar a razão por que novas doenças mortais para os seres humanos estavam a emergir dos "pontos críticos" da biodiversidade, como florestas tropicais e mercados de carne de animais selvagens nas cidades africanas e asiáticas.

Os 150 habitantes de Mayibout, uma aldeia que fica na margem sul do rio Ivindo, nas profundezas da grande floresta de Minkebe, no norte do Gabão, estão habituados a ataques ocasionais de doenças como malária, dengue e febre amarela .

Em 1996, o Ebola, um vírus mortal pouco conhecido pelos seres humanos, espalhou-se inesperadamente para fora da floresta numa onda de pequenas epidemias. A doença matou 21 dos 37 moradores que foram infectados, incluindo um número que havia carregado, esfolado, picado ou comido um chimpanzé da floresta próxima.

Num artigo publicado pelo jornal britânico, o editor conta que, oito anos depois, encontrou pessoas traumatizadas ainda com medo de que o vírus mortal, que mata até 90% das pessoas infectadas, retornasse, partilhando as palavras dos moradores que descreveram como todas as pessoas que cozinharam ou comeram a carne do chimpanzé tiveram uma febre terrível em poucas horas tendo alguns morrido imediatamente, enquanto outros foram levados rio abaixo para o hospital.

"Costumávamos amar a floresta, agora tememo-la", disse Nesto Bematsick, um habitante da aldeia.

Segundo o artigo, vários pesquisadores pensam que é realmente a destruição da biodiversidade pela humanidade que cria as condições para o surgimento de novos vírus e doenças como o Covid-19, a doença viral que surgiu na China em Dezembro de 2019 - com profundos impactos para a economia e para à saúde em países ricos e pobres.

“Cortamos as árvores; matamos os animais ou colocamos-os em gaiolas e enviamos-os aos mercados. Rompemos os ecossistemas e liberamos os vírus dos seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo host. Muitas vezes, somos nós.”, escreveu recentemente no New York Times David Quammen, autor de Spillover: Infecções animais e a próxima pandemia.

 Uma banca no mercado de Tomohon, na Indonésia, com carne de morcego à venda. Fotógrafo: Bay Ismoyo / AFP via Getty Images

Uma pesquisa publicada no Royal Society Publishing sugere que surtos de doenças transmitidas por animais e outras doenças infecciosas, como Ebola, Sars, gripe aviária e agora o Covid-19, causados por um novo coronavírus, estão a aumentar.

Kate Jones, presidente de ecologia e biodiversidade da Universidade da Califórnia em Los Angeles, diz que estas doenças infecciosas transmitidas por animais para os humanos  estão ligadas a mudanças ambientais e ao comportamento humano. A destruição de florestas intocadas causada por extração de madeira, mineração, construção de estradas em lugares remotos, rápida urbanização e crescimento populacional está a aproximar as pessoas de espécies animais de que talvez nunca tivessem estado em contacto anteriormente, considerando-o “um custo oculto do desenvolvimento económico humano”

Pesquisadores afirmam que a destruição de florestas criar as condições para a propagação de doenças.  Foto: prachodayat

“Os humanos estão a criar as condições para a propagação de doenças, reduzindo as barreiras naturais entre os animais hospedeiros - nos quais o vírus circula naturalmente - e eles mesmos.”, diz o ecologista Thomas Gillespie, professor associado do departamento de ciências ambientais da Universidade Emory, que estuda como a redução de habitats naturais e a mudança de comportamento aumentam o risco de doenças se espalharem de animais para humanos.

Este surto de Covid-19 vem alertar-nos para a forma como temos vindo a explorar o nosso planeta e as consequências devastadoras que este nosso comportamento tem, mostrando-nos que se assim continuarmos podemos vir a assistir ao inicio de pandemias em massa.