Novas regras para escolas de surf
Escolas certificadas e com seguros de responsabilidade civil e acidentes pessoais são uma exigência. Presidente da FPS explica tudo à Surftotal.
Com o crescimento intenso de praticantes de desportos aquáticos no nosso país (estima-se que mais de 300 mil pessoas o façam), centenas de escolas de surf registadas na Federação Portuguesa de Surf (FPS), o ‘movimento’ dentro de água é, hoje por hoje, substancialmente diferente do que foi outrora. O ‘crowd’ deixou de ser um fenómeno exclusivo dos fins-de-semana e com mais gente em simultâneo dentro de água, aumentam os incidentes.
De acordo com números revelados pela Autoridade Marítima Nacional, colisões com pranchas (de todos os géneros) são um dos sete acidentes que mais vezes requerem a intervenção do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). Ora para fazer face a esta situação, as autoridades querem implementar regras mais apertadas em algumas escolas de surf: todas devem estar certificadas e possuir seguros de responsabilidade civil e acidentes pessoais.
Só este ano o ISN em parceria com o LIDL levou a cabo perto de 60 ações 'Surf Salva', que pretendem dotar os praticantes de ferramentas que permitam salvar vidas dentro de água.
Também a FPS já meteu mãos à obra com o projeto 'Surf Etiquete', uma rede de sinalética comum em várias praias do país onde se praticam os desportos aquáticos, para que os desportistas tenham presente as regras de conduta básicas que permitem uma prática segura e com base no respeito mútuo. O projeto ‘Surf Etiquete’ ainda carece, todavia, de apoios para ser efectivado. "Entretanto temos o projeto Surf Etiquete e estamos a tentar implementá-lo, cada vez mais há problemas e má educação na água. Está autorizado pelo ISN e pela Marinha. Estamos à espera que surjam parceiros que compreendam que é uma óptima forma de publicitar uma marca nas praias pela costa toda."
João Aranha, presidente da Federação Portuguesa de Surf, faz um ponto de situação
Sobre as escolas de surf, João Aranha (presidente da FPS), explicou à SurfTotal o ponto de situação no que há regulamentação diz respeito. "No fundo a regulamentação não é assim tão nova, o que há é uma tentativa de maior controlo da atividade das escolas. Temos 400 escolas registadas, mas só 150 é que existem em 2015. Ou seja de todo o universo das escolas e pseudo-escolas, o que se verifica é que existe uma enorme ilegalidade - isto é um problema de segurança, e de controlo, obviamente", começa por explicar o responsável federativo.
"Nesse sentido a FPS está há um ano a trabalhar com o Instituto de Turismo de Portugal para regulamentar melhor a atividade e para facilitar um pouco o registo das escolas, que anteriormente obrigava a entregar a mesma documentação nos dois lados (FPS E TP). Assim, estamos a tentar criar uma forma de não existir duplicação de documentos, ou seja: eles são apresentados e validados no Turismo e seguem para a Federação onde são também validados (ou vice versa). Há no entanto uma grande necessidade do Estado intervir, porque a FPS não tem meios para intervir nesta área. É preciso a ASAE, ou a Polícia Marítima para fiscalizar as escolas. Estamos a falar de segurança, da possibilidade de acontecerem acidentes numa praia que vão prejudicar muito a modalidade - em particular agora que se fala na modalidade entrar para os Jogos Olímpicos."
Sobre a possibilidade de existir um ‘cartão de surfista’ onde fosse possível aferir o nível do praticante: “já se ouviu falar nisso, mas infelizmente no estado português, a Federação não é muitas vezes ouvida em decisões dessas. Temos feito uma aproximação junto do Secretário de Estado que se tem revelado aberto às nossas sugestões. Já se fala disso há muito tempo, que poderia existir um cartão do género ‘handicap’ (a título de exemplo, como no golfe), com os diferentes níveis: inexperiente, médio, experiente. Mas se já há tanta dificuldade em controlar as escolas, imaginem controlar os cerca de 300 mil praticantes que existem", explica João Aranha.
"Esta medida poderia ser interessante para a FPS, por aumentar o número de participantes, mas seria sempre complicado saber o nível dos praticantes. Uma coisa é ser um atleta Top 100, por exemplo, agora imaginem o que seria obrigar os praticantes de lazer a fazer um exame na praia… A ideia é boa, mas a implementação parece-me muito difícil", refere o presidente da FPS, para de seguida dar o exemplo de uma cultura diferente: "naa Austrália, por exemplo, os surfistas têm um caminho bem definido, com a passagem pelos clubes, associações - os surfistas trilham um caminho. Portugal tem nesta altura um fenómeno que não sei se existe muito lá fora, que são os trintões e quarentões que decidem começar a fazer surf e que não são fáceis de controlar."