Se na Federação Portuguesa de Surf mudar o Presidente, mas o poder continuar no “deep state”, no fundo, tudo permanecerá igual
Diz José Gregório, ex campeão nacional de surf...
Com as eleições para a nova direção da Federação Portuguesa de Surf marcadas para o primeiro trimestre de 2025, a comunidade do surf nacional está a discutir quem será a melhor pessoa para assumir esta posição de liderança. A Surftotal decidiu dar voz aos seus leitores, lançando um survey para descobrir quem, na opinião do público, deveria guiar os destinos do surf em Portugal nos próximos anos.
A resposta foi clara: Tiago Pires, uma das figuras mais icónicas e respeitadas do surf nacional, destacou-se como o favorito. No entanto, outros nomes de peso também foram apontados, refletindo a diversidade de opiniões e visões dentro da comunidade.
Para compreender melhor o que os leitores valorizam nesta escolha e quais são as prioridades para o futuro da Federação, questionámos Tiago Pires e as restantes personalidades nomeadas pelos leitores sobre dois pontos fundamentais:
como se sentiram pela preferência do público nas respectivas nomeações assim como sobre esta nova direção da FPS vindoura e o que poderá fazer pelo surf nacional e quais consideram ser os principais desafios e objetivos para esta nova direção.
Vamos publicar todas as opiniões uma a uma pois é um assunto que merece toda a nossa atenção e destaque, no final faremos um artigo, onde estarão reunidas todas as ideias e sugestões de todos os nomeados, que podem ajudar moldar o futuro do surf em Portugal.
José Gregório é um dos nomes históricos do surf nacional, conhecido tanto pela sua trajetória competitiva como pelo impacto que teve no desenvolvimento do desporto em Portugal. Como sócio fundador da ANS (Associação Nacional de Surfistas) em 1997, Gregório desempenhou um papel crucial em momentos decisivos para a comunidade surfista, incluindo a criação da liga profissional de surf no país, que se tornou referência mundial.
Nesta reflexão exclusiva, Gregório partilha a sua perspetiva sobre os dois mandatos liderados por João Aranha na Federação Portuguesa de Surf (FPS), destacando o trabalho institucional e os avanços alcançados, mas também os desafios que considera essenciais para o próximo ciclo. Além de sublinhar a importância de fortalecer os clubes locais e dinamizar a competição a nível de base, José defende a renovação das estruturas da FPS, apontando para a necessidade de sangue novo e uma visão atualizada para enfrentar os desafios do futuro.
Acompanhe, nas palavras de José Gregório, uma análise crítica e uma visão construtiva sobre o que a FPS fez e o que ainda pode fazer para continuar a impulsionar o surf em Portugal.
José Gregório responde:
Surftotal - Como te sentes ao ser nomeado pelos leitores da Surftotal para uma possível liderança da Direcção da FPS?
José Gregório - “Em primeiro lugar, e depois de todos estes anos afastado das competições nacionais, é uma honra para mim que os leitores da Surftotal ainda me elejam como um possível candidato às eleições da FPS.
No meu passado competitivo, fui sócio fundador da ANS (Associação Nacional de Surfistas), em 1997, e uma das vozes mais fortes contra a gestão danosa e corrupta que a FPS vinha a desenvolver há vários anos, prejudicando significativamente o desenvolvimento do surf em Portugal. Este processo culminou com a rutura da comunidade surfista com a direção da FPS da época e com o início da liga profissional de surf em Portugal, que até hoje tem um dos melhores circuitos nacionais a nível mundial.
Depois deste processo bastante desgastante, percebi que não tenho feitio para ser dirigente de associações ou federações. Acho, sinceramente, que a minha maneira de ser se encaixa muito melhor numa empresa, onde todas as decisões têm regras bastante definidas.
Sobre a próxima Direcção que será eleita este 1º trimestre de 2025?
Após estes anos mais conturbados do surf nacional, tenho a ideia de que a FPS passou por uma fase melhor, mais profissional e com algum rigor que até então não existia. Nestes últimos anos, tenho em muito boa conta a gestão do presidente atual, João Aranha, por todo o trabalho e dedicação que demonstrou no cargo.
A FPS desenvolveu toda uma parte institucional que, nos anos 90, não tinha sido feita.
A nova direção, além de continuar o trabalho realizado por esta última, deveria, na minha opinião, potenciar a dinamização dos vários clubes nacionais e da competição a nível local. É entre praias (e os vários picos) e nos mais jovens que começa a verdadeira competição. Há que fomentar e financiar o desenvolvimento da competição entre os vários clubes locais de cada praia. Só este trabalho, de ter orgulho em competir e defender a nossa terra, trará mais jovens para o nosso desporto e resultados competitivos no futuro.
Por outro lado, acho que sangue novo numa nova direção só traria benefícios para o desporto. Muitas vezes muda-se o presidente, mas continuam muitos atores/empregados ligados à direção que não percebem de surf e estão completamente desatualizados face aos novos desafios e evoluções que o desporto sofreu. Se muda o presidente, mas o poder continua no “deep state”, no fundo, tudo permanece igual...”
A Surftotal continuará a publicar as respostas das restantes personalidades nomeadas. Fica atento.