O que nos inspira a surfar? – O relato de dois surfistas de diferentes gerações
E o que os une na modalidade....
Cada vez há mais praticantes de surf. Em Portugal a modalidade tem vindo a crescer consideravelmente e os lineups estão cada vez mais cheios de crowd.
O surf assistiu a um boom, mas o que nos leva a querer surfar?
Falámos com dois surfistas de diferentes gerações para perceber o que os levou a apaixonarem-se pela modalidade em momentos tão diferentes da história do surf no nosso país.
Para o surfista e reparador de pranchas Káká Lourenço, o surf veio numa transição após três anos no skate.
O surfista de 57 anos apaixonou-se pela ideia de poder andar numa onda em cima de uma prancha. Quando começou, em 1979, o surf não era moda e havia ainda poucos praticantes da modalidade.
“Já havia alguns surfistas de São Pedro, que já surfavam há algum tempo, mas tirando isso, aqui na zona de Cascais, eu não conhecia mais nenhum surfista.” disse Káká Lourenço à Surftotal.
Foram as imagens de surfistas na califórnia que via nas revistas que lhe chamaram a atenção para a modalidade e um campeonato realizado na Praia da Torre na altura, que só contou com a participação de surfistas estrangeiros.
“Foi um campeonato realizado entre 1974 e 1977. Esse campeonato marcou-me e instigou-me a fazer surf, mas não havia ninguém com pranchas para vender em lado nenhum. O processo foi lento e difícil, mas também descobrimos um desporto que era só para nós.
“A minha primeira prancha comprei-a a um surfista, cheia de “fofos”. Pus a prancha em pé no quarto, todo contente, e de repente já tinha uma poça de água descomunal, a prancha deixava entrar água por todo o lado. Era uma prancha que já tinha passado por várias mãos na altura. A segunda prancha veio de um amigo meu que também já fazia surf há algum tempo e a partir daí foi indo, mas com muita dificuldade para se conseguir uma prancha boa. Eram muito caras”.
O surfista começou a surfar sozinho em São João porque viu que havia ali uma onda quando passava de comboio. Começou por surfar nas espumas até conseguir aventurar-se no outside numa altura em que não havia ninguém a surfar na onda que o podesse ajudar ou inspirar.
Em 1982, começou a fazer pranchas de surf, as Neon Surfboards, com o Rui Graça, o Peixe, surfista de Carcavelos que já vinha a colectar informações de surfistas estrangeiros que tinham noções de shape e fabricação de pranchas há muitos anos e que tinha um nível de surf muito alto para a altura.
Toda a sensação que o surf lhe ia dando e o facto de partilhar essas sensações e momentos com os seus amigos foi o que o estimulou e inspirou na modalidade trazendo-lhe emoções novas até então e a sensação de progressão.
“O surf é progredir a vida toda. Já estás lá, mas podes sempre evoluir mais.”- disse Káká Lourenço.
Hoje em dias os surfistas que se iniciam na modalidade não enfrentam os mesmos desafios.
Os lineups já não estão vazios como antes, mas é também nos surfistas que aí deslizam nas ondas que as novas gerações se inspiram.
Aos 15 anos de idade, Francisco Ordonhas, atleta do Clube Lombos Praia, é uma das jovens promessas do surf nacional.
O atleta luso conta com importantes títulos na sua carreira competitiva, como o de Campeão Nacional na categoria de Sub-12, conquistado em 2017, e Campeão Nacional na categoria de Sub- 14, alcançado em 2019.
Para o surfista foi o facto de desde novo ver o seu pai a surfar que o inspirou a iniciar-se na modalidade.
“Quando eu era mais novo e ainda não surfava, via o meu pai a surfar todos os fins de semana e comecei a querer experimentar, até que num verão o meu pai finalmente me levou a surfar e adorei, só queria ir surfar mais vezes. À medida que comecei a surfar mais vi que estava a evoluir e reparei que se treinasse ainda mais, podia chegar mais longe com o surf e isso foi o que mais me inspirou.” - disse Francisco Ordonhas à Surftotal.
A possibilidade de deslizar nas ondas em cima de uma prancha é provavelmente o que mais inspira os surfistas a praticar a modalidade, mas é também o facto do mar apresentar diferentes condições a cada surfada, desafiando-nos e levando-nos a níveis que por vezes não imaginamos, que nos á sensação de progressão e superação que nos leva a querer surfar cada vez mais.