NAZARÉ: "O QUE NOS IMPEDIU DE ENTRAR FORAM AS CONDIÇÕES DO MAR" sexta-feira, 17 janeiro 2014 16:19

NAZARÉ: "O QUE NOS IMPEDIU DE ENTRAR FORAM AS CONDIÇÕES DO MAR"

Sebastien Steudtner esteve na Nazaré e contou tudo à SurfTotal.

 

Por Patrícia Tadeia

Sebastian Steudtner está em Portugal, e foi um dos surfistas que esteve na Nazaré no dia do grande swell causado pela tempestade Hércules. Sebastien foi um dos que se dirigiu à Capitania do Porto da Nazaré no sentido de obter uma licença para poder surfar com recurso ao tow-in na Praia do Norte. E obteve-a. A SurfTotal quis falar com Sebastien para perceber, da experiência de quem esteve no local, porque é que afinal não havia surfistas no mar nesses dias. E percebemos. As condições do mar não o permitiam.

 

Entre as conquistas que já vivenciou, Sebastian Steudtner acumula o prémio “Biggest Wave Award” dos Billabong XXL Global Big Wave Awards 2010, venceu a “Biggest Wave” dos Chile Big Wave Awards 2009 e ficou em segundo lugar na categoria de “Melhor Performance”. Nesta entrevista ficámos a saber o que pensa Sebastien de toda a polémica em torno da Nazaré. "A atenção dos media e toda a pressão que daí advém surgiu muito de repente para a Nazaré e de forma inesperada. O acidente do ano passado deu-lhes um monte de coisas para trabalhar e clarificou, para todos os responsáveis, temas como a responsabilidade e a realidade", diz o "big rider" alemão de 28 anos.

 

Em declarações à SurfTotal o surfista alemão justificou que quando chegou à vila piscatória, antes das melhores ondas do inverno, não sabia das novas regras. "Nós não surfámos na Nazaré nos dois melhores dias porque não fomos informados de que havia novas regras. Treinámos e surfámos com o jetski quase todos os dias durante um mês antes do swell e nunca nada nos foi pedido pela polícia. Antes de chegarem as melhores ondas do inverno, a mota foi-nos tirada pela polícia por causa da papelada que faltava e, um dia antes de o swell chegar, uma pessoa da cidade informou-nos sobre as novas regras do capitão do porto, que neste curto espaço de tempo fez o impossível para que tivéssemos todos os requisitos para surfar. Foi estranho para todos nós e realmente doeu ver aquelas ondas sem serem surfadas, eram perfeitas", recorda.

 

A partir daí começaram a surgir os rumores. "As pessoas começaram a perguntar-se por que é que isso aconteceu. Surgiram comentários negativos feitos pelo público, mas não pelos atletas que estavam realmente envolvidos, surgiram os rumores e acusações ao capitão de porto, à cidade e ao Garrett", diz.


 
Assim, a opinião de Sebastien acerca da Nazaré não podia ser a melhor. "A Nazaré tem muito com que lidar, e questões muito maiores do que o surf, um enorme departamento, uma mudança política, um novo presidente e agora toda essa atenção dos media na sua direção, que os pressiona. Na minha opinião a vila quer fazer o bem para todos, quer partilhar as suas ondas com toda a gente e é uma vila muito acolhedora. Temos sempre de nos lembrar que esta é a primeira vez que tudo isto acontece por aqui, por isso não há experiência de como lidar com determinadas situações, mas, eles estão a fazer um trabalho muito bom em aprender com o passado passado e trabalhar em soluções para o futuro", diz.

 

O QUE ACONTECEU NO DIA DA TEMPESTADE HÉRCULES?

Sebastien recorda agora o dia de que toda a gente fala. O dia que deu que falar na imprensa estrangeira. O dia em que a tempestade Hércules atingiu a Nazaré e não havia surfistas nas águas da Praia do Norte: "Ninguém precisa de uma carta de recomendação de Garrett ou de qualquer outra pessoa, nós tivemos permissão para surfar depois de clarificar tudo com o capitão do porto, apenas as condições meteorológicas e o depósito em dinheiro de 15.000 euros para alugar um jetski que custava 9000 Euros na Atlantic Surf Safaris nos impediu de ir para o mar no grande dia durante a tempestade Hércules, mas na verdade foi por causa das condições que não o fizemos", recorda.

 

Em declarações à SurfTotal, Miguel Costa, da empresa que aluga jetski explicou porque é necessária uma caução: “Nós apenas pedimos uma caução em cartão de crédito ou dinheiro no caso de aluguer de motas de água sem skipper e quando o cliente vai praticar tow-in, devido ao risco conhecido desta atividade na praia do norte”. “Isto acontece porque as seguradoras não fazem seguros de danos próprios para a atividade tow-in”, explica. “O valor que pedimos é de 15.000€ e corresponde sensivelmente a 70% do valor da mota, este exemplo é para uma mota com menos de um ano e com potência superior a 200hp. Reforço que para esta atividade não se trata de um aluguer qualquer, se compararmos com o aluguer de viaturas as mesmas não podem ser usadas em provas desportivas ou qualquer atividade diferente do uso normal”, conclui o representante da Atlantic Safaris.

 

E SOBRE A CAPITANIA?

Sobre as acusações à capitania, e ao capitão do Porto, Sebastien é direto: “O capitão do Porto é a pessoa que mais nos apoia e tem feito um trabalho incrível aprendendo com cada caso e situação e certificando-se da segurança do local e dos surfistas. Todas os requisitos que ele instaurou fazem sentido e são mais do que razoáveis de serem cumpridos por qualquer surfista”, diz.

 

Sebastien confirma que teve algumas reuniões com o responsável depois que ter ficado a saber das novas regras. “Gostei realmente dele e da sua atitude para com o nosso desporto. Também trouxe até à Nazaré por uma semana o meu amigo, Axel Haber, que é de médico nos fuzileiros navais alemães e especialista em evacuação no campo de batalha. A ideia era que visse o local e nos ajudasse a tornar o sistema de segurança o mais eficiente possível. Ele aprovou muitas das exigências da capitania e falámos até sobre novas medidas necessárias para se estar preparado para o pior. O exército alemão deu-lhe permissão para sair a qualquer altura que precisássemos dele e ele estará lá voluntariamente connosco nos maiores dias, é uma mais valia para nós podermos aproveitar isso! Também reunimos com os nadadores salvadores e eles têm um bom plano e estão a trabalhar na direção certa”, conta.


“Sinto-me mal pelo o capitão ao ler todos os comentários negativos, porque ele realmente quer ver-nos surfar na Praia do Norte e está a fazer um ótimo trabalho mantendo a segurança de todos”, diz ainda.

 

Sobre Garrett McNamara, Sebastien é peremptório: “O Garret tem feito muito pelo surf de ondas grandes, ele é uma das figuras mais consistentes neste desporto e tem-no sido por muitos anos. Ele tornou o desporto conhecido na Europa e abriu a porta a muitas pessoas. Ele colocou a Nazaré no mapa e trouxe muitas coisas positivas para Portugal. Ele deve ser respeitado por isso!”

 

Sebastien quis ainda deixar um desabafo: “Em vez de acusar e fazer comentários negativos ou defender e disparar de novo, todos devem tentar unir-se, discutir todos os assuntos juntos e trabalhar para fazer uma Nazaré mais segura e mais profissional.”

 

Além disso, mostrou-se disponível para ajudar todos os surfistas que quiserem surfar na Nazaré: “Quem quiser surfar na Nazaré nos próximos meses pode contactar-me e terei prazer em ajudar com os requisitos e as questões de segurança.”

 

E deixou uma mensagem final em forma de vídeo: “Aqui está um vídeo de um bom dia na Nazaré, espero ter mais momentos como este no futuro e desejo que as pessoas entendam que não há ninguém para culpar."

 

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