UMA SESSÃO ENTRE AMIGOS EM BUARCOS
Registos de Marcos Charana retratam uma matinal debaixo cilindros esverdados às portas da Figueira da Foz.
Há dias em que nos deparamos com previsões perfeitas sem que deixemos de ser assaltados por sentimentos de dúvida. As condições para amanhã parecem geometricamente alinhadas, como que a régua e esquadro, mas se hoje os humores do mar e do vento foram tempestuosos, então o que se segue é uma ressaca que não permite que as ondas venham ao nosso encontro com a sua expressão mais radiante.
Porém, a surpresa faz parte desta vida de surfista, e poucas emoções igualam o momento em que batemos o pé à incógnita, pegamos na prancha e no fato, rumamos ao pico de eleição e acabamos surpreendidos com visões cilíndricas tentadoras. Instala-se uma euforia interior cuja tradução é o contra-relógio com que vestimos o fato e nos lançamos ao oceano.
* Filipe Fadigas a contemplar o outside da praia figueirense.
Na passada quinta-feira, esta poderá muito bem ter sido a história de uma manhã junto ao litoral de Buarcos, na Figueira da Foz. Pouco passava das 8 da manhã quando Marcos Charana, de 43 anos, surfista com três décadas de exploração e actualmente treinador, chegou ao estacionamento junto à Avenida D. Pedro e se deparou com alguns dos locais a rasgar por entre tubos escuros e feios moldados por um vento difícil.
À SurfTotal, Charana recorda que "não estava clássico, nem perto disso." "O off shore estava forte e era difícil entrar nas ondas." Mas nem por isso a acção na água era desprovida de intensidade. Charana tinha planeado para aquela manhã uma sessão de treinos com um dos seus alunos, Filipe Fadigas, mas acabou por se deter durante vários minutos junto ao calçadão figueirense para registar os momentos mais curtidos que se avistavam em terra.
*José Dias a aconchegar-se num manto esverdeado.
José Dias, um dos habituais no pico, foi sem dúvida um dos que usufruiu ao máximo das cortinas esverdeadas, encaixando à sombra de cilindros convidativos. Por seu turno, o bottom bem puxado de Piki Prata, assim como o grab de Cláudio Ribeiro, são reveladoras de condições desafiantes, tecnicamente laboriosas.
*Piki Prata a antecipar-se ao cerrar da cortina.
*Com o olhar fixo na linha da onda, Cláudio Ribeiro antecipa em estilo uma viagem cilíndrica.
A sessão fotográfica durou poucos minutos, o sussuro para rumar ao outside era mais fortes. Resumindo aquela sessão matinal, Charana remata que "foi uma boa surfada entre amigos, e isso é que é o mais importante".