Os prós e os contras de se surfar sozinho
A solicitação para a escrita relativa a este tema sucedeu após a triste notícia do falecimento de um surfista na Praia de Matosinhos...
* Por Nuno Sequeira / Surf Lisbon - House & School
Quando me foi pedido que escrevesse um texto acerca do tema “não deves surfar sozinho” a primeira coisa que me veio à cabeça é que este que agora vos escreve não seria a melhor pessoa para o fazer uma vez que nos últimos anos foram muito mais as vezes que surfei sozinho do que rodeado de outras pessoas, feliz ou infelizmente.
A solicitação para a escrita relativa a este tema sucedeu após a triste notícia do falecimento de um surfista na Praia de Matosinhos que, aparentemente, surfava sem mais ninguém na água.
Tendo em conta os tempos que correm e o facto de sermos bombardeados a toda a hora pelo “copo meio vazio” das notícias em vez do “copo meio cheio”, decidi deixar de parte as consequências negativas de algo errado acontecer enquanto surfamos sozinhos pois é só dar largas à imaginação para de imediato nos virem à cabeça uma série de “perigos”: tubarão (em outras paragens), lesão grave, AVC, qualquer questão cardíaca, desmaio, paragem de digestão, afogamento, perder a prancha no outside com mar grande, não conseguir sair de um pico com acesso mais complicado, e por aí fora...
Assim, resolvi levar este texto para um lado mais prático (e positivo, porque não?). O facto é que muita gente gosta de surfar sozinha. Horários de trabalho, compromissos familiares ou mesmo a idade a avançar e a falta de tolerância para o crowd são algumas das razões pelas quais acabamos por surfar sozinhos muitas das vezes.
Alguns puristas dirão que o Surf é um estado de espírito e que, ao estarem sozinhos na água, estão mais conectados com o mar e a natureza. Outros, por sua vez, preferem estar acompanhados e, preferentemente, com amigos fazendo jus ao cliché “happiness is only real when shared”. Os primeiros dizem que o seu desempenho é melhor por não perderem a concentração com o crowd e por estarem mais focados apenas em si e na onda. Os segundos motivam-se com a presença de outros e vão para além dos seus limites quer no desempenho quer, por vezes, no tamanho do mar que habitualmente surfam por haver alguém que “puxe” por eles. E claro, ainda no caso do Surf com outras pessoas por perto, quem não gosta de uma boa conversa após “aquela” onda ou aquele wipe out, um “dropino” amigável ou uma cerveja no bar da praia depois da surfada.
Mas tudo são fases e, efectivamente, após uma certa idade as coisas mudam. No meu exemplo particular, se no início da década de 90 chegávamos a ser mais de uma dezena de amigos e conhecidos no comboio para Carcavelos ou a fazer a travessia Belém – Trafaria, quase 30 anos depois cada um tem a sua própria agenda e disponibilidade e na melhor das hipóteses acabas por deixar um “whatsapp” a dizer onde estás para quem quiser / puder juntar-se.
Assim, resolvemos deixar aqui uma simples e curta lista de prós e contras a qual pedimos que o leitor complete na caixa de comentários abaixo. Sejam criativos!
Prós:
- Uma mais completa sintonia com a natureza e com o mar;
- Ausência de stress por não ter que disputar as ondas com o crowd;
- Mais ondas por sessão;
- Maior concentração no desempenho dentro de água;
- Conectar com nós próprios e desfrutar da nossa própria companhia;
- Ninguém vê se “maçarrarmos” ou se puxamos o bico à maior do set;
Contras:
- Ninguém para ver e gritar “uhhhhhh” aquando da melhor onda da surfada;
- Os melhores surfistas do pico não estão presentes para nos motivarmos e evoluirmos;
- Mais dificilmente entramos naquele dia de mar maior ou quando as ondas estão muito pequenas;
- Ninguém para partilhar o gasóleo, a portagem e o estacionamento;
- O mais importante: ninguém próximo para ajudar em caso de algum incidente;