Um pódio sem pranchas é um pódio despido
Uma crónica que fala sobre a realidade do surf…
Desde que a 3.ª etapa da Liga MEO Surf terminou, no passado fim de semana, na Figueira da Foz, que quisemos escrever sobre algo que nos incomodou. Pedro Henrique venceu brilhantemente a competição, batendo o jovem Miguel Blanco na final, e acabou por galgar para os lugares cimeiros do ranking, estando agora na luta pela revalidação do título nacional.
Não é de agora, já o dissemos anteriormente: os patrocínios do mundo do Surf estão a ficar cada vez mais escassos. É certo que o campeão mundial John John Florence, considerado o mais bem pago da atualidade, recebendo por temporada mais de 6 milhões de dólares, não concordará com esta ideia.
Muito seguramente, o young gun Noa Deane (que recebeu da Volcom 2.5 milhões de dólares para os próximos cinco anos) e o rookie do CT Ethan Ewing (que recebeu da Billabong meio milhão de dólares para a presente temporada) também não assinam por baixo esta ideia.
- Pedro Henrique a construir uma importante vitória nas ondas do Cabedelo. Foto: ANS/Pedro Mestre
No entanto, pelo que nos foi dado a observar na Figueira da Foz, apenas um dos quatro finalistas se dignou a levar a sua prancha de surf para o pódio. Miguel Blanco, que faz parte da armada da Rip Curl para a presente temporada, foi o único que se apresentou em cima do palco munido da sua prancha. Porém, encontrava-se, de forma bem confusa e pouco habitual, a destoar do enquadramento da fotografia final. Isto é estranho de se dizer.
Eduardo Fernandes, Guilherme Fonseca e o próprio campeão da etapa, Pedro Henrique, todos eles atletas que a determinada altura das suas carreiras representaram a Seleção Nacional, optaram por não levar as suas pranchas. Por um motivo simples: a ausência de um patrocinador principal que preencha o “nose” das suas pranchas de surf nos dias que correm.
Há mais surfistas no tour a sofrer do mesmo mal, como José Ferreira, vice-campeão nacional em 2016, e também Francisco Alves, um dos mais talentosos surfistas portugueses de sempre. Internacionalmente também se podem evidenciar alguns nomes, como o de Josh Kerr e Bede Durbidge, surfistas australianos que pertencem à elite mundial mas que esta temporada não rubricaram quaisquer "major contracts".
É o sinal dos tempos... e um cenário que, segundo se diz por aí, será cada vez mais recorrente. Pode ser que sim, mas um pódio de um campeonato de surf sem pranchas é um pódio que está despido, quase sem alma. Restou a festa de espuma para conferir o brilho e o toque final que se esperava.
No final das contas, mesmo "sentido a dor” dos atletas, resumimo-nos, como sempre, à essência do surf: o que interessa realmente é fazermos o que gostamos.