Tiago Pires a dar mais um "carving" Em Ribeira. Tiago Pires a dar mais um "carving" Em Ribeira. Foto: Pedro Mestre/ANS segunda-feira, 27 março 2017 16:00

Local knowledge e os ausentes em Ribeira

A vitória de Saca, ontem, em Ribeira d’Ilhas, nunca fez tanto sentido… 

 

Corria o dia 26 de fevereiro de 2016, num final de tarde com muita chuva e frio, quando Tiago Pires decidiu pôr, oficialmente, um ponto final na sua carreira competitiva na World Surf League. A decisão, na altura, segundo o próprio, “não foi tomada de ânimo leve e só veio depois de um longo período de reflexão.” 

 

O Tiago, como bem sabemos, competiu durante sete anos, entre 2008 e 2014, na World Championship Tour. Trata-se da primeira divisão do surf mundial, a elite dos surfistas. Ainda assim, nessa conferência de imprensa que teve lugar na Boardriders da Ericeira, o “Saca” deixou um aviso sério à navegação: o de que não deixaria de competir em definitivo. 

 

E não deixou mesmo. Aqui e ali, desde então, Tiago tem vindo a participar em alguns campeonatos, de escolha cirúrgica, mostrando que ainda é um ativo bem válido para o surf português. Ontem mesmo, por exemplo, ele venceu o Allianz Ericeira Pro, a 1.ª etapa da Liga MEO Surf 2017. 

 

Venceu com grande mérito frente aos melhores surfistas do país, mostrando um surf superior, veloz, preciso, com pressão e deveras seguro. Um surf à altura de qualquer experiente surfista do CT onde soube garantir a prioridade e esperar pelas ondas certas, precisamente aquelas que acabaram por revelar maior potencial. Os seus adversários que nos perdoem, mas, neste caso em particular, podemos ainda acrescentar que deu uma verdadeira aula de “local knowledge” à concorrência, sendo este também um dos grandes pontos de distinção que jogaram a seu favor. 

 

"Venceu com grande mérito frente aos melhores surfistas do país,

mostrando um surf superior, veloz, preciso, com pressão e deveras seguro"

 

Em todas as baterias que disputou, Saca mostrou hegemonia, mais conhecimento e à-vontade nas ondas do que qualquer outro competidor. Mostrou perícia, mas também “timing”, escolhendo sempre o momento certo para aplicar a pressão mais adequada ou fazer a manobra mais vistosa para o público. 

 

O “local knowledge” (conhecimento local) é feito disso tudo e para o ter é preciso ter passado muitas horas na água, naquele preciso spot, a dar todas aquelas manobras, a cair e a levantar logo de seguida, a aprimorar, a melhorar todas as formas de tirar cada vez mais proveito de cada lip, de cada secção, de cada onda no seu todo. 

 

Ribeira d’Ilhas… foi o palco onde ontem o vimos vencer sem qualquer margem para dúvidas, repetindo uma vitória na liga nacional de 2015, mas também mostrando uma cumplicidade única e especial para com a praia onde passou grande parte da sua juventude, onde começou a forjar o seu surf, saiu vitorioso em campeonatos e celebrou até uma histórica qualificação para o World Tour. 

 

Por tudo isto, a vitória de Saca, ontem, num dia de chuva mas também de offshore em Ribeira d’Ilhas, onde chegou até a sacar um tubo logo pela manhã, nunca fez tanto sentido. Aos 37 anos (feitos a 13 de março), até apetece gritar em alto e bom som: The Portuguese Tiger is back!

 

Os grandes ausentes na Ericeira

Neste arranque da Liga MEO Surf 2017 em Ribeira d'Ilhas foram vários os factos que chamaram a nossa atenção. Um deles foi definitivamente a forte presença da armada local. Entre homens e mulheres, registaram-se 16 presenças de surfistas locais. Este é, sem dúvida, um bom indicativo da força do surf pela Reserva Mundial de Surf nos dias que correm, mas também fruto do trabalho que está a ser desenvolvido pelo Ericeira Surf Clube. 

No mesmo sentido, também foi com agrado que registámos a participação de cada vez mais jovens surfistas. Coincidência ou talvez não, mas parece que o troféu Moche Groms Cup pode ter o dom de ajudar a revitalizar a liga nacional de surf. 

Por último, são de assinalar algumas ausências importantes. Frederico Morais está “off” este ano, mas por uma boa causa - é o nosso novo representante na Championship Tour da WSL. Miguel Blanco e Nic von Rupp são outros nomes que poderiam fazer mossa e ter uma palavra a dizer no Allianz Ericeira Pro. No entanto, falharam a chamada. Após a participação em duas etapas do QS, Blanco ainda se encontra no Taiti, a retirar proveito do paraíso da Polinésia Francesa, enquanto Von Rupp preferiu explorar as águas quentes do Índico e da Indonésia com alguns amigos. Muito possivelmente, a próxima etapa, no Porto, em maio, já contará com a sua presença. Stay tuned.  

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