A redenção de Owen Wright
E a importância da sua irmã Tyler num regresso à competição recheado de sucesso…
A vitória de Owen Wright em Snapper Rocks, no Quik Pro Gold Coast, a 1.ª etapa do World Championship Tour 2017, no fim de semana passado, é digna de um filme. É um dos grandes momentos que alguma vez vimos (e veremos) no Surf.
Há 15 meses atrás, a 8 de dezembro de 2015, Owen sofreu uma queda em Pipeline, no free surf, e sofreu uma lesão grave na cabeça. Na altura, o gigante australiano lutava pelo título mundial, mas acabou surpreendentemente arredado da corrida. Naquele instante questionou-se até se a sua carreira tinha terminado, ali, naquele momento.
Durante esse período a incerteza reinou. Uns dias Owen parecia estar melhor, noutros apático e sem reação. Uma recuperação difícil que exigiu paciência, amor e carinho. No entanto, quando tudo indicava o contrário, Owen viu a sua família desmoronar-se. Os seus pais separaram-se e cada um dos seus irmãos foi viver para diferentes zonas da Austrália.
Para alguém que sempre viveu no seio de uma família unida, desde criança, isto foi um rude golpe no estômago. Foi aí que apareceu Tyler Wright, a sua irmã que havia terminado a temporada de 2015 em 5.º lugar (após dois vice-campeonatos em 2013 e 2014), mas andava desesperadamente à procura de uma vitória no circuito mundial.
Como era óbvio, Tyler não podia ficar eternamente a cuidar do seu irmão. Por isso, fez uma promessa a Owen: conquistar o título mundial, o primeiro da sua carreira, em 2016. Owen aprovou e durante um ano viveu e respirou através das performances da benjamim.
Voltando a Snapper Rocks, no passado domingo, após passar as rondas iniciais com a solidez reconhecida, o australiano acabou por defrontar o amigo e colega de equipa, Gabriel Medina. A disputa com o brasileiro foi nas meias finais e, embora Gabi não estivesse a 100% de um joelho, deu a resposta que se esperava, dificultou a vida a Wright que, ainda assim, acabou por conquistar uma vaga na final.
Na última bateria do dia em Snapper, em ondas cujo confronto merecia mais qualidade e potencial, Owen enfrentou Matt Wilkinson, novamente um amigo e colega de equipa na Rip Curl. E também o campeão em título do evento até então.
Por breves momentos a qualidade das ondas pareceu não ter grande importância e passou mesmo para segundo plano. A história de Owen tomou conta do ambiente no local de prova, de quem assistia pela internet e do que se viria a passar a seguir. Com o soar da buzinadela final, Owen tinha acabado de vencer o primeiro CT em que competira desde o seu muito aguardado regresso à competição.
A ascensão à sua vida antiga, aquela que outrora conhecera, estava finalmente completa. No entanto, desta vez, apostamos nós, o sabor da vitória foi completamente diferente.
Esta é seguramente uma história que merece ser falada, partilhada e apreciada em toda a sua plenitude. É um dos mais fantásticos e inspiradores regressos à competição no mundo do surf… e a nova temporada ainda agora começou.
“Eu tive muitas dúvidas e medos, mas já não os tenho. Ainda no passado mês de fevereiro não tinha absoluta certeza de que poderia fazer isto. Agora já não tenho dúvidas”, disse o australiano que parece ter uma confiança renovada.
Owen está de volta. Está de volta aos treinos, ao surf regular e ao circuito mundial. Está de regresso às vitórias. Entretanto, deixou uma lesão difícil para trás, viu o nascimento do seu primeiro filho e tem uma família para cuidar agora. Um verdadeira bênção após muitos meses de sofrimento. Além disso, Owen tem ainda a sua irmã mais nova ao pé de si e com o título mundial que prometera na temporada passada.
Esta é a história real de Owen Wright.