AS MENINAS DO SURF TRABALHAM A DOBRAR
Deveriam as mulheres ter mais etapas e prémios mais altos?
Atenção, isto não é uma crítica, mas apenas a constatação de vários factos que temos vindo a observar.
O surf feminino, a nível mundial, tem vindo a evoluir a olhos vistos. No entanto, ainda assim, sempre que observamos uma prova do World Championship Tour ficamos com a sensação de que estamos a assistir a um campeonato dos anos 90. Entenda-se… as manobras não são tão radicais, a velocidade é menor e o jogo aéreo ainda é praticamente inexistente.
No entanto, há qualquer coisa de “finesse” no surf feminino que cativa.
O “gap" das meninas para os homens explica-se facilmente com as diferenças físicas. Os homens são mais fortes, têm definitivamente uma maior distribuição muscular, especialmente na zona superior. Os estudos referem que, em média, o homem tem mais 30% de massa muscular do que a mulher.
Portanto, uma forma de abordar a questão é simplesmente dizer que os homens fazem menos esforço sempre que surfam (já que têm mais músculo). Porém, nós preferimos a opção B, que nos diz que talvez as mulheres tenham que trabalhar mais para chegar ao mesmo nível (com vista a colmatar aqueles tais 30% de diferença).
- A sul-africana Bianca Buitendag a dar uma curva bem forte em Cloudbreak. Foto: WSL
A questão de fundo é esta: as mulheres trabalham a dobrar, pois as coisas são definitivamente mais difíceis para elas. Mesmo assim, ao contrário do que se pensa, a maior parte das surfistas apresentam salários baixos (quando comparados com o dos homens) e fazem das “tripas coração” para poder correr o Tour.
Entre os vários exemplos deixamos o de Johanne Defay que, face ao défice de sponsors, teve que contar com a ajuda do seu amigo e também atleta do CT, Jeremy Flores, ambos oriundos da Ilha Reunião, no seu primeiro ano na primeira divisão do surf mundial.
O prize-money que recebem nos campeonatos é o mesmo de há anos. Não baixou nem subiu, o que já não é mau. É de, exatamente, 279 mil dólares, precisamente metade do prémio oferecido nos campeonatos de surf masculinos (559 mil dólares). A razão, dizem, prende-se com o facto de serem apenas 17 e os homens apresentarem uma grelha de 34 atletas.
- Tyler Wright teve um ano avassalador. Foto: WSL
Tyler Wright, que venceu o circuito este ano e pelo caminho registou cinco impressionantes vitórias (Gold Coast, Margaret River, Rio de Janeiro, Trestles e Maui), estando presente em sete finais (Wow!), ganhou em 2016 pouco mais de 400 mil dólares em prémios. A verba não deixa de ser imponente, mas é praticamente o mesmo que John John Florence ganhou e este apenas venceu duas etapas ao longo do ano.
No que diz respeito aos circuitos, os homens contam com 11 etapas confirmadas para 2017, enquanto o circuito feminino tem apenas 10 no calendário com a possibilidade de virem a ser 9 uma vez que a prova portuguesa ainda não está confirmada (segundo o calendário apresentado pela World Surf League).
Portanto, após a exposição de factos, a questão que vos pomos, muito honestamente, é se as mulheres estão a ser injustiçadas e deveriam ganhar mais?
Nota: Este texto foi escrito por um homem.