O "PESADELO DOS ATAQUES DE TUBARÃO": UMA QUESTÃO DE MÁ IMPRENSA?
Os ataques de tubarão têm feito manchetes por todo o mundo. Mas importa analisar alguns números, bem como a culpa humana nesta situação.
Tem havido recentemente um aumento no número de ataques e avistamentos de tubarões - como ainda ontem, no início do Burton Automotive Pro -, mas será que a ‘culpa’ é só deles? O Capitão Paul Watson, fundador da Sea Shepherd Conservation Society, avançou com números e explicações deveras interessantes num artigo veiculado pelo Huffington Post.
OS ATAQUES SÃO RAROS:
Se analisarmos a frieza dos números, facilmente concluímos que os ataques são raros. Basta considerar que há cerca de 7,5 mil milhões de pessoas no mundo, e apenas entre cinco a dez ataques fatais por ano. Morrem mais pessoas por causa de abelhas, mosquitos, elefantes, hipopótamos, cavalos, avestruzes e cobras do que com tubarões. Mas estes acontecimentos não têm a repercussão mediática que os tubarões têm.
A imagem de predador insaciável que se foi criando ao longo dos anos, desde a estreia do filme ‘Jaws’ e as respetivas sequelas, foi fundamental para dar um lado quase cinematográfico a tudo o que diz respeito a estes animais. Em termos estatísticos é até mais perigoso jogar golfe do que fazer surf ou mergulho. Morrem mais pessoas atingidas por relâmpagos a jogar golfe do que de ataques de tubarão.
A CULPA É DO SERES HUMANOS:
É no entanto notório que os ataques têm aumentado nos últimos anos, embora o número de vítimas fatais se mantenha baixo. Para Paul Watson, a culpa é dos seres humanos. E explica porquê.
Para começar, a diminuição da biodiversidade nos oceanos. O excesso de pesca acabou com 90% do peixe oriundo do mar desde 1950. Os empreendimentos de pesca comercial estão, invariavelmente, em declínio. Isto é mau para os humanos, e péssimo para tubarões, orcas, baleias, focas e golfinhos que se alimentam - forçosamente - de peixe. Por outras palavras, a fome é um dos motivos para estes ataques.
A maior parte dos ataques parecem ser casos de ‘identidades trocadas’. Os surfistas nas suas pranchas parecem - aos olhos do tubarão - focas. Raramente um ser humano é de facto devorado por um tubarão. Na maioria dos casos são apenas mordidas exploratórias, seguidas de rejeição. Todavia estas mordidas podem, obviamente, ser fatais.
GADO TRANSPORTADO EM NAVIOS E ATIRADO AO MAR:
Na zona Oeste da Austrália, onde está instalado um ambiente de quase histeria por parte dos media e dos políticos, existe outro fator que contribui fortemente para o problema: o transporte de animais vivos, de barco, entre os portos australianos e a Ásia e o Médio Oriente. Centenas de milhar de animais de gado são transportados em condições desumanas, e os que morrem pelo caminho são atirados ao mar. Os animais mortos, bem como as fezes e urina dos mesmos, que são também enviadas para o mar, são alertas para o apurado olfacto dos tubarões.
OS EFEITOS PERVERSOS DAS BARREIRAS PARA TUBARÕES:
As barreiras para afastar tubarões que são colocadas no mar, também acabam por ter um efeito perverso. Tanto os tubarões como outros animais acabam por ficar lá presos e morrer, o que atrai ainda mais os predadores para perto das praias. Outros factores que têm influenciado mudanças nos padrões de migração habituais dos tubarões são as mudanças climatéricas, a poluição e a acidificação do mar.
Matar tubarões não pode ser uma solução, até porque o seu extermínio levaria à quebra de um já de si frágil ecossistema dos oceanos. “Estamos a invadir as suas casas, a roubar a sua comida. Trespassamos o seu território e matamos de forma selvagem 75 milhões de tubarões por ano, muitos para fazer uma sopa que nem valor nutricional tem”, conclui Paul Watson.