QUANTO VALE UMA ONDA?
Surfistas em campanha para salvar uma onda mexicana recorrem ao seu valor económico.
Existe um local em Baja Califórnia, México, onde o rio e o oceano se cruzam e criam uma onda de classe mundial - San Miguel. Devido a alguns projetos de desenvolvimento previstos para a zona, a mesma encontra-se ameaçada.
Surfistas e conservacionistas no México e Estados Unidos lançaram uma campanha para preservar San Miguel Arroyo - por muitos considerado o berço do surf mexicano -, como o primeiro parque natural na zona de Baja Califórnia Norte.
A forma que encontraram para chamar a atenção dos políticos? Dinheiro, claro. ‘Economia do Surf’ - fazer estudos em zonas costeiras para avaliar o impacto económico que o surf pode trazer para a comunidade. Uma fórmula aplicada com sucesso pela organização Save the Waves em locais como Mundaka (País Basco), Mavericks (Califórnia), Uluwatu (Bali), Huanchaco (Perú) ou mais recentemente Punta de Lobos (Chile).
“A criação do parque pode assegurar o acesso à praia”, afirmou ao site Take Part, Fernando Marvan, um biólogo marinho e surfista de há longa data. “Este primeiro passo poderia ser replicado entre Rosarito e Tijuana, onde não há nenhuma acesso público às praias, é só vedações e muros em todo o lado”.
A onda de San Miguel atrai surfistas do sul da Califórnia desde os anos 40, e a cultura de surf local é muito forte. Foi lá que cresceu o herói local e campeão nacional Ignacio Felix Cota.
Nik Strong-Cvetich, da Save the Waves, destaca o lado ecológico da questão. “É um sítio que suporta muita fauna, vegetal e animal”. Nik e a Save the Waves associaram-se à Pronatura, a maior organização mexicana de conservação, para chamar a atenção da comunidade global do surf sobre o valor daquela onda. A sua petição em change.org, já recolheu milhares de assinaturas na primeira semana, desde a Austrália até ao Reino Unido.
Ao destacarem o valor económico da onda, os responsáveis por esta campanha esperam sensibilizar as autoridades competentes, e têm até o exemplo de Mavericks, que segundo um estudo de 2010, representa 24 milhões de dólares anuais.
“Ainda só temos alguns números por alto”, afirmou Nik. “As pessoas gasta somas significativas em portagens, combustível, comida e alojamento. Localmente existiria também investimento em escolas de surf. Num estudo semelhante para Pichilemu, no Chile, concluímos que os surfistas gastam lá uma média de 160 dólares diários”, concluiu.