Porque é que as praias têm cada vez menos areia?
A praia é o lugar onde a areia pára para descansar um pouco antes de retomar sua viagem para outro lugar.
Todos os anos o assunto é abordado com mais frequência, sobretudo por preocupação para com os utentes das praias.
Este ano, a Costa da Caparica foi um dos locais nacionais onde existiu mais intervenção humana, com vários milhares de euros gastos na reposição de areias, sem grandes resultados visíveis.
E se a generalidade das pessoas só no verão é que se apercebe da diferença nas praias de ano para ano, quem lá gasta várias horas regularmente tem uma percepção totalmente diferente das coisas. Além dos pescadores e dos moradores das zonas costeiras, todos os surfistas sentem directamente os efeitos da volatilidade cada vez mais célere das praias. Seja porque a influência da transitoriedade dos fundos se faz notar na qualidade da onda, seja pelo modo como a onda quebra ou pelo desaparecimento ou enfraquecimento de picos considerados clássicos. Naturalmente os fenómenos meteorológicos extremos como as grandes tempestades, cuja intensidade e força tem vindo a crescer, não são alheios a esse facto, particularmente pelo papel que desempenham na movimentação das areias.
Tal como todos os organismos vivos, o planeta também tem como característica a homeostase, que mais não é do que a propriedade de qualquer organismo aberto regular o seu ambiente interno, dentro de determinado intervalo.
A questão a reter aqui é que, se até há bem pouco tempo a maioria das zonas costeiras pareciam ter capacidade de se repararem sozinhas, nos últimos anos esse atributo parece ter desaparecido, com 75 a 90% das praias naturais do mundo a entrarem em extinção.
E se a intervenção humana não pode ser directamente responsabilizada pelo aumento da frequência e intensidade das tempestades, já o mesmo não se pode dizer dos outros factores determinantes no desaparecimento da areia como o aumento do nível do mar e a erosão massiva derivada da manipulação das costas.
Interferências humanas como a retenção da água nas barragens, responsáveis por impedir a reposição de areias que eram transportadas com as águas, assim como construção em zonas costeiras que também impedem que o vento reponha areia nas praias ou a própria extracção de areia de locais que, ao longo dos anos foram essenciais para a sua reposição nas praias, desempenham um papel de grande responsabilidade na erosão da linha costeira. Adicionalmente, indústrias que dependem de algum modo da areia, como a fabricação de abrasivos, cimento, vidros, plásticos, microchips e até dentífricos também não são estranhas a todo este processo. Do mesmo modo, a extracção de gás através do processo de fracturação hidráulica tem vindo a ganhar peso em tudo isto.
A verdadeira questão parece cada vez mais ser se a solução definitiva é a reposição artificial das areias.