"A formação no surf é pouca" - Enrique Lenzano sobre o Congresso Mundial de Treinadores e o panorama actual do surf
Evento aconteceu em Lisboa de 17 a 21 de Novembro.
Entre os dias 17 e 21 de Novembro, Lisboa recebeu a 13ª edição do Congresso Mundial de Treinadores da ICCE, um evento que reuniu na Aula Magna treinadores, investigadores, cientistas, diretores técnicos e diretores desportivos para abordar questões do Treino em várias modalidades, conhecer novas investigações científicas e conectar os maiores especialistas de Treino do mundo. Enrique Kike Lanzano, treinador de surf, fundador da Academia Profissional de Surf e da More Than Surfing, esteve presente no Congresso, e a Surftotal conversou com ele sobre a experiência. Nesta entrevista, Lanzano fala sobre a importância desta conferência para o surf e para o desporto em geral bem como o panorama actual do surf em comparação com outros desportos de competição.
Porque razão decidiste participar nesta conferência?
Em primeiro lugar porque gosto de estar sempre a adquirir conhecimentos, e como treinador procuro sempre ferramentas para melhorar. Para além disso, é uma oportunidade única para qualquer treinador de participar numa conferência onde falam treinadores e investigadores dos vários comités Olímpicos do mundo. Como participei no vídeo de promoção de Lisboa como a cidade organizadora desta edição, fazia todo o sentido envolver-me na participação. Mas principalmente foi para adquirir mais ferramentas, porque a formação no surf é muito pouca, a nível nacional é bastante fraca, e temos que estar informados para ajudarmos os nossos atletas.
"Uma das grandes mais-valias foi o networking."
Que novidades trouxe a conferência para o treino do desporto em geral? E para o surf?
Para o treino e o desporto no geral, trouxe muita informação científica e investigação. Os primeiros dois dias da conferência são feitos na sua totalidade por investigadores, que apresentam teses de mestrado e doutoramento, tudo relacionado com atletas e com treinadores. Mentoring programs, formações, programas de desenvolvimento, tudo muito voltado para o treinador. Para além disso, tivemos a oportunidade de ouvir treinadores como o Jorge Braz, campeão do mundo de futsal, a psicóloga Ana Ramires, todo um painel de pessoas muito experientes, os melhores do mundo nas suas áreas. Isso traz uma riqueza incalculável. Uma das principais mais-valias é a troca de contactos, o networking. No coffee-break somos incentivados a falar uns com os outros.
"Quando um desporto se torna olímpico, tudo muda."
Relativamente ao surf, foi igualmente o networking. Consegui fazer contacto com treinadores da elite, formadores, assisti à apresentação de treinadores olímpicos, aprendi sobre os métodos utilizados para melhorar a qualidade da informação entre treinadores. São nações que investem muito no desporto, e sabem utilizar esse dinheiro de forma produtiva. No caso da Noruega, concluíram que ampliar a comunicação entre treinadores melhora a longo prazo a formação dos atletas, e assim garantem mais participantes nos Jogos Olímpicos.
Da parte do surf conheci um treinador das Canárias, de Tenerife, o Sebastião Furtado do Porto, e o Luís Paula, da zona da Grande Lisboa. Somos poucos, não temos impacto neste tipo de eventos, porque são dimensões muito grandes. Mas como disse a psicóloga do Comité Olímpico do Canadá, a partir do momento em que um desporto se torna olímpico, tudo muda para melhor, e esperemos que aqui também.
"O surf é um hobby ao mesmo tempo que é uma profissão."
Como está a realidade do treino do surf em relação aos restantes desportos, nomeadamente os mais desenvolvidos?
A realidade do treino no surf em comparação com outros desportos é muito má. Estamos muito longe. Noutros desportos, o treino é planeamento constante, adaptação do planeamento constante, pôr o planeamento em prática de forma rigorosa, com níveis muito altos de compromisso e disciplina. Isto no surf vê-se pouco. O perfil dos treinadores que frequentaram esta conferência comparado com o perfil de um treinador de surf é muito diferente, do ponto de vista da organização, do planeamento, mesmo da ética profissional, não misturar coisas… O surf continua a ser um hobby ao mesmo tempo que é uma profissão. Um atleta Olímpico de vólei, por exemplo, no dia a seguir a um jogo não se junta com os amigos para fazer um jogo por diversão. Já os surfistas, a seguir a um campeonato, vão com os amigos surfar. É mais difícil fazer essa diferenciação, o que no fundo acaba por se sobrepor à evolução do profissionalismo.
O que retiraste desta conferência? Vais aplicar algo no teu método de treino de surf?
Consegui expandir o meu networking, e a grande mais-valia é a possibilidade de participar em programas de mentoring e melhoria das minhas aptidões como treinador. Não se falou de técnica de surf, mas retirei muitas ferramentas para melhorar a minha abordagem com os atletas. É o que retiro desta conferência. Cinco dias a conectar com pessoas extremamente profissionais, muito inteligentes, com muita informação. Fiquei chocado com a quantidade de informação, e acima de tudo com a quantidade de programas dedicados a treinadores, independentemente da modalidade, e isso para mim é a grande mais-valia de ter participado.