PEDRO BARROS: “TIRARAM-ME DO FUNDO DO MAR E JÁ ME DAVAM COMO MORTO”
O surfista de Cascais, que sofreu o incidente na Pedra Branca no passado mês, falou em exclusivo à Surftotal…
A previsão de ondas no final do mês passado era boa. Por esse motivo, juntamente com uma larga fatia da comunidade do surf, também Pedro “Greg” Barros optou por rumar à Ericeira e à Praia da Empa no passado dia 29 de novembro.
A sessão na Pedra Branca, uma dos mais espetaculares ondas portuguesas, correu bem até ao momento em que o surfista de Cascais, de 25 anos de idade, se viu envolvido num episódio onde quase perdeu a vida e que, ainda hoje, não consegue explicar.
A Surftotal aproveita agora para revelar uma entrevista onde este nos conta tudo o que há a saber sobre essa experiência única em que esteve envolvido. Um bem haja Pedro e o desejo de que voltes em breve ao surf.
Surftotal: A tua queda na Pedra Branca foi um dos episódios mais falados dos últimos tempos. Fala-nos de como tudo se processou?
Pedro Barros: De facto, não consigo responder uma vez que não me lembro do incidente. Penso que a última coisa de que me lembro é de já estar só eu e outro bodyboarder no line up. Lembro-me ver o set e o bodyboarder a ir na primeira onda. Devo ter remado na segunda, lembro-me vagamente de ver a onda e de preparar-me. De resto, do drop da onda, não me lembro de mais nada. Muito provavelmente devo ter caído e embatido nas rochas diretamente.
Foste apanhado desprevenido e nada fazia prever que passasses por um momento de aflição tão duro. A partir do momento em que voltaste a ter consciência, que recordas mais vivamente?
Foi, definitivamente, dos momentos mais surreais que já passei. A primeira coisa que me lembro é de acordar no hospital rodeado de um grupo de médicos e com um espelho à frente - que mostrava a minha cara em mau estado. Um dos médicos disse-me que estive na Pedra Branca, que bati nas rochas e que estive três dias em coma. Logo de seguida, voltei a apagar. Mais tarde, novamente consciente, foi estranho e difícil. Eu não queria acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer. Não sabia o que me iria acontecer, se iria ficar bem. Foi também estranho, pois uma parte de mim parece que esteve completamente fora do Mundo. Eu começava a lembrar-me de estar a surfar na Pedra Branca e, do nada, não estava mais ali e podia nunca mais voltar. Mais tarde fiquei a saber que me tinham tirado do fundo do mar e trazido para a areia, já a dar-me como morto, mas que, após uma reanimação intensa, já quase a desistirem, voltei a acordar. Aproveito para agradecer outra vez imenso ao Vasco Inglez, ao Balin, ao Tiago Santos e a um bodyboarder francês que não foi possível identificar que, penso, seria o que se encontrava comigo no line up e que me tirou da água. Foram eles que me reanimaram e salvaram a vida.
"Mais tarde fiquei a saber que me tinham tirado do fundo do mar
e trazido para a areia, já a dar-me como morto"
Falou-se muito nas lesões...
Em termos de lesões o pior foi ter partido o maxilar em cinco lugares. Tive um afogamento do pulmão, algumas pancadas nos músculos e pneumotórax. Penso que também tive um hematoma no pâncreas, mas a verdade é que ainda estou à espera de exames hospitalares para saber mais sobre as lesões no corpo.
Felizmente, já te encontras em casa. Daqui a quanto tempo pensas que estarás pronto para voltar ao surf?
Sim, já estou em casa. Penso que daqui a um mês, mês e meio, estarei de volta.
Pedra Branca. Vais voltar a surfar por lá?
Nos próximos tempos irei optar por surfar noutros spots.
Por último, que mensagem gostarias de deixar no seguimento desta experiência?
A mensagem que deixo é esta: façam sempre o bem, estejam sempre atentos, pois qualquer momento na vida pode tornar-se perigoso e a ajuda dos outros é fundamental. Estar atento às outras pessoas é muito importante e no mar, como surfistas, temos de ser unidos e de estar sempre preocupados com todos os outros que se encontram na água.
“No mar, temos de ser unidos e de estar sempre preocupados com todos os outros"